[*] Olivier Chagas
No 1º turno da eleição, os sergipanos tomaram decisões que causaram surpresas: o candidato ao Senado Antonio Carlos Valadares, de meio século de sucesso eleitoral e primeiro isolado nas pesquisas, ficou com a quinta posição; André Moura, com apoio de quase 100% dos prefeitos, viu seu plano de ir à Câmara Alta sucumbir. O ex-governador Jackson Barreto, um gigante da história política do Estado, também perdeu a eleição.
Os institutos de pesquisas, mais uma vez, erraram horrorosamente - que os digam Rogério Carvalho, novamente injustiçado pela tal metodologia científica dos pesquisadores de opinião pública, e Belivaldo Chagas, que disparou com uma montanha de votos que lhe rendeu uma dianteira de mais de 190 mil sobre o segundo colocado.
E nesta onda de novidades, surge o delegado Alessandro Vieira, com 474.449 votos. Uma surpresa! Com pouco tempo de TV no horário eleitoral gratuito e quase sem campanha de rua, mas com intensa articulação nas redes sociais e embasado no discurso do “novo, dissociado da política tradicional”, resultou numa magnífica vitória para o Senado, no primeiríssimo lugar.
Ocorre que o novo senador, em sua primeira tacada política depois de eleito mostra comportamento que no mínimo acende o farol amarelo para indicar atenção e reflexão. Sua declaração de apoio ao candidato Valadares Filho no segundo turno, veiculada em vídeo nas redes sociais, merece pelo menos duas observações: primeira, a forma de falar: “Eu escolho...”.
Ora, o pronome enfático na primeira pessoa do singular soou individualista e impróprio para líder. Não tem partido? Não tem grupo? Não tem posição resultada de uma discussão política com os seus pares? Não tem nós? Se tem, os deixou de lado, desprezou-os. Isso não é algo simples, desprovido de importância, que merece passar desapercebido.
Estamos falando de um político novo, que fala em ideias novas, certamente em projeto coletivo, e não no formato individualista. Sinto exagero, pretenciosismos, e isso para mim não é novidade política. Ao contrário, é jeito arcaico. De outro giro, a justificativa para apoiar o candidato Valadares Filho: sequer aproveitou a oportunidade para mencionar o candidato do seu partido no primeiro turno e lembrar que ele era o melhor para Sergipe, pois presumo que assim entendia, que tinha o melhor projeto e que, certamente, ele, o Alessandro, tinha ajudado a construir e se identificava, queria vê-lo vitorioso, porém, ao ser derrotado... Nada disso foi dito! O seu aliado foi preterido, esquecido.
Com o tom individualista que iniciou, esqueceu que a política é coletiva, de grupo, que o individualismo não rima com o regime da política democrática. Foi logo disparando que descartava Belivaldo Chagas por causa das pessoas do seu entorno. Tudo bem! Um direito! Porém, e os do entorno do escolhido Valadares Filho? O Valadares senador, por exemplo, tido como homem da política velha, atrasada, conforme foi dito pelo próprio declarante agora senador Alessandro Vieira em vídeo que gravou recentemente e circulou também nas redes sociais.
E mais: a vice de Valadares Filho, deputada Sílvia Fontes, até muitíssimo pouco tempo da base de Belivaldo, saiu, tal qual o marido, o deputado federal eleito Fábio Henrique, que era, inclusive, secretário do Estado, há pouco tempo, mais precisamente no prazo limite para fazer coligação com Valadares Filho. Este entorno de Valadares Filho agrada? São boas companhias?
Não custa lembrar que os Valadares, pai e filho, no segundo turno da última eleição presidencial, optaram deliberadamente por apoiar Aécio Neves, que dispensa comentários. Depois, sob a batuta de Eduardo Cunha, votaram pelo impeachment da presidente Dilma por causa de pedaladas que nunca aconteceram. Em seguida, compuseram politicamente com o presidente golpista Michel Temer e indicaram cargos importantes na República. Isso é o novo? Oferece confiança? Tudo aconteceu muito recentemente.
Como cidadão, sinto-me no direito de avaliar os homens públicos na vida pública e manifestar minha opinião. Acho que o senador eleito começou mal. Isso não é novo. O novo não pode ser apenas no tempo de política, na idade, mas, essencialmente, no modus operandi. Afinal, foi tudo o que ele, o senador Alessandro, prometeu.
[*] É advogado, ex-vereador de Itabaiana pelo PT e secretário de Estado do Meio Ambiente.