Aparte
OPINIÃO - Nós já tivemos uma oposição de verdade

[*] Wellington Paixão

Prezado amigo Jozailto Lima. É muito bom ler todos os dias as coisas que você escreve. Eu faço isso por hábito. Ponho-me atualizado e um pouco mais ilustrado, até para fazer jus ao fato de ter essa oportunidade.

O seu comentário de hoje, 28 de novembro, é uma peça intocável do ponto de vista da análise dos números que fizeram das eleições passadas deste ano e de eleições bem lá de trás. Um bom esforço de memória e pesquisa.

A forma como seu talento mexe com os números  desses pleitos para, por fim, fazer comparações do ângulo do comportamento das oposições naquelas oportunidades, me induz à liberdade que tomo para uma rápida digressão intervindo em seu raciocínio - uma ousadia -, fitando tão somente, e essa é a única razão de minha manifestação, para lembrar, já que é comum, e não é o seu caso, a memória trair e às vezes escapar.

Refiro-me às eleições de 1982, sinalada por você, em que se elegeu governador de Sergipe, João Alves, PDS, derrotando Gilvan Rocha, MDB, por larga margens de votos.

Naquela oportunidade, a ditadura militar ainda respirava, já por aparelhos é verdade, mas estava viva. Tanto que o processo eleitoral naquele instante foi viciado, quando se maculou e feriu de morte o consagrado direito universal da livre escolha.

O voto nas eleições de 1982 foi vinculado. Eleições gerais para vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador e governador.

Quem votasse para vereador de sua cidade, tinha que votar no governador do mesmo partido. A legislação eleitoral da época determinava que os partidos políticos que tivessem Diretórios Municipais e ali não tivesse candidatos a prefeitos, o voto de governador não era válido.

O MDB, partido de combate à ditadura, não teve candidatos a prefeitos em mais de 35 municípios sergipanos, alguns importantes eleitoralmente, o que anulou os votos dados ao candidato a governador da oposição.

Somada a essa manobra, o PDS, partido de apoio ao governo militar, usou do subterfúgio “legal” da figura bizarra da “sublegenda”, para amparar as dissidências municipais, aglutinando-as, para somar os votos para a mesma legenda.

Essa explicação, meu amigo Jozailto Lima (embora você não tenha feito qualquer juízo de valor) é para fazer separar, explicando, a nosso ver, que essa foi fundamentalmente a razão da diferença de votos de João Alves para Gilvan Rocha.

Assumo essa explicação, para acrescentar que àquela época havia uma oposição! Ela era firme, corajosa, combativa, propositiva, muitas vezes ferida pela truculência do regime, mas uma oposição que orgulhava a todos nós.

Isso difere em muito, porque estabelece razões e conceitos sobre a diferença numérica ocorrida na eleição de 1982 e a última eleição para governador em Sergipe. Lá, sim, havia oposição!

[*] É advogado, ex-prefeito de Aracaju e ex-presidente da Sergas.

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