Aparte
Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Carminha Mendonça: “Tiro chapéu para a inteligência de Valmir. Mas para a loucura, não”
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Carminha Mendonça: \"momento para muita reflexão\"

Uma mulher, uma gestora pública, com ar de equilibrada e, aparentemente, sem ranços ou ódios políticos diante da constrangedora situação que a fez prefeita interina da terceira maior cidade de Sergipe, Itabaiana, mas com poderes definitivos para agir como bem entender.

Possivelmente este perfil defina bem Carminha Mendonça, 61 anos, a vice-prefeita de Itabaiana, que desde o dia 20 de novembro está no comando da Prefeitura Municipal. Ali ela chegou em face do afastamento do prefeito Valmir de Francisquinho, que está interditado no mandato, mas ainda é efetivamente o dono dele. 

Cuidadosa - ou seria ardilosa? -, Carminha Mendonça faz um discurso prudente diante de todo o drama que vivem Itabaiana, ela mesma e seu gestor efetivo, Valmir de Francisquinho, que teve cinco mandatos de vereador, está no segundo de prefeito, sempre foi um aliado da família Teles de Mendonça, rompeu recentemente e, desde então, viu o mundo desabar sobre a sua cabeça.

Diante de tudo isso, a princípio Carminha se não se admite uma gestora afoita no comando da cidade. Tem um pé atrás face aos fatos circunstanciais, embora não tenha dúvidas do papel que lhe cabe na condução deste latifúndio. E, mais do que isso, tem conceitos entre respeitosos, de quase compaixão, e críticas a Valmir de Francisquinho. Mas atenção: não o tripudia, como recomenda a boa prudência.

“Esse é um momento para muita reflexão. Eu estou prefeita pela força da lei. Eu sou, na verdade, é uma vice-prefeita. Isso é diferenciando. É uma situação, por exemplo, de que eu estou aqui numa emissora (de rádio) e posso retornar para Prefeitura e estar lá um oficial de justiça ou alguém da própria Câmara informando que o prefeito Valmir retorna aos seus trabalhos. E eu vou bater palmas. Ele não perdeu nenhum vínculo. Continua prefeito, só que está afastado. Mas todos os direitos dele estão preservados”, diz uma Carminha de voz serena, sem afetação, para a Coluna Aparte.

Mas, apesar disso, Carminha Mendonça não foge das suas responsabilidades constitucionais, caso seja efetivada - e nem mesmo de enquanto dure esta situação. “Eu estou preparada para terminar os dois anos da gestão. Mas hoje trabalho com a marcha mais lenta, porque não tem nada definido. Então, não vou colocar a todo vapor uma gestão que está subjudice. Estou cumprindo tudo dentro dos padrões normais, respeitando acima de tudo a legislação. Agora, sempre procurando dizer à sociedade que hoje quem responde pelo município sou eu, e sem medo de errar. Mas não tenho essa segurança de que Valmir não retorna, porque a lei pode ser interpretada de forma diferente”, analisa ela.

Sim, e dessa possibilidade de Valmir de Francisquinho retornar ou não Carminha tem uma visão, também, entre cordial e dura. “Eu tenho minha opinião muito bem formada. O que entendo é o seguinte: se a justiça for muito segura, se houver uma apuração pela justiça dos fatos que a Deotap apontou e o que a gente já encontrou, com dados que comprovam, acho delicado o retorno dele para o cargo. É delicado, mas não é impossível. É a leitura que eu faço - tanto que o Direito é uma venda nos olhos. A interpretação das leis, a ótica de cada jurista, de cada desembargador, é a de cada um”, diz Carminha. Entenda o caso:  Valmir foi acusado de usar indevidamente recursos públicos gerados pela atividade do Matadouro Municipal de Itabaiana.

No campo pessoal e político, Carminha Mendonça transita entre o reconhecimento de méritos da pessoa de Valmir e conceitos ásperos, como os de que ele se perdeu enquanto ente público. “Não tenho nada contra Valmir. Ele é um grande gestor. Pensa longe, mas diria que foi mal orientado. Eu digo que do tempo em que ele ficou do nosso lado - esses três anos e seis meses -, Valmir não entrou tanto em rabo de foguete. Não precisava Valdir se exceder, como se excedeu. Não tinha necessidade. Destruiu uma base sólida a troco de uma vaidade: “Ah, eu tenho prestígio, eu posso, eu faço”. Mas hoje está num mar de lama”, avalia a vice que está prefeita.

“Valmir é muito inteligente. Tiro o chapéu para a inteligência dele. Mas para a loucura dele, não. Perdeu-se pela ambição, pela gula de poder, que não leva ninguém a lugar algum, porque é tudo passageiro. Menino novo, inteligente, capaz. Ele é capaz, sim. Insisto: pensa longe. Mas perdeu-se. Outra coisa: pensava que as leis não iriam alcançá-lo nunca. Mas alcança. Eu rezo para que ele tenha forças de sair às ruas de cabeça erguida, porque o olhar das pessoas é muito difícil. A lei do retorno é braba. É muito, muito imperdoável. Não adianta ir além, porque a natureza mostra e a natureza cobra”, diz ela.

Carminha Mendonça é filha do líder político já falecido Francisco Teles de Mendonça, que marcou a política itabaianense e a sergipana. Mas, apesar dessa origem, ela mesma, embora nunca tenha exercido um mandato eletivo, não caiu de paraquedas na cena política, e sobretudo na administrativa. Antes de ser vice, foi secretária de educação de Itabaiana várias vezes. Desde em 1988, antes da nova Constituição da República, quando não era uma Secretaria, e era apenas um departamento, ela já decidia nessa área.

Depois da Constituição de 88, Carminha foi secretária na gestão dos prefeitos João Germano, Antonio Teles e Maria Mendonça - dessa, por um ano e seis meses. Mas na primeira gestão de Valmir, o foi por três anos e seis meses. “Saí para ser candidata a vice-prefeita. Conheço a situação do Município, da Educação. Já dirigi a Diretoria Regional de Educação do Estado, a DR3 de Itabaiana”, levanta o crachá.

Carminha Mendonça é pedagoga com especialização em Administração Escolar e é mãe de três figuras – de Daniele, médica, de Priscila, advogada, procuradora do município, e de Francisco Teles de Mendonça Neto. “O único neto que leva o nome do meu pai”, diz ela, em sinal de reverência ao velho Chico. Aliás, uma reverência ao velho coronel que até Valmir de Francisquinho também faz.

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