Aparte
Opinião - Eu só quero poder voltar a abraçar minhas netas  

[*] Eliano Sérgio Azevedo Lopes 

São 128 dias. Não, você não está enganado. É isso mesmo! Quatro meses e oito dias sem falar e nem ver minhas netinhas - a não ser pelo celular. Esse é o tempo em que estou enfurnado no meu apartamento, sem sair de casa, devido à pandemia do coronavírus. 

Flagelo que um governo incompetente e genocida insiste em negar a gravidade da doença e a importância de manter o isolamento social, como forma de combate a sua propagação.

O negacionismo do presidente da República e do gado que o segue ao lado de empresários inescrupulosos que, ao visar apenas o lucro, pressionam governadores e prefeitos a “liberar geral”, têm levado à perda de milhares de vida, que a cada dia vão se acumulando como consequência de um falso argumento que opõe a saúde à economia.

Aqueles que defendem a reabertura de seus negócios, com a justificativa de que o fazem preocupados em salvar emprego, sabem muito bem que mortos não consumem. Mortos não compram!  

À exceção de funerárias, não há atividades econômicas sem pessoas vivas que façam girar as engrenagens das fábricas, das empresas e dos setores de serviços. A prioridade, então, é a vida das pessoas, não a economia. Sem vidas, não existem negócios nem empregos, caras-pálidas!

É fato que muitos negócios e empreendimentos estão fechando, trabalhadores estão perdendo seus empregos, informais e autônomos estão em situação crítica de sobrevivência devido ao novo coronavírus. 

Mas nada disso se resolve aumentando a matança ao incentivar e estimular o povo a sair às ruas, sem observar o uso de máscara, sem manter o distanciamento social, evitando aglomerações e sem a higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel.

O que se quer chamar a atenção é para a predominância da vida sobre a economia. Nem mesmo dizer que ambos devem andar juntos deve ser levado à sério, porque o problema é o vírus, não é a quarentena, o isolamento social. 

Salvar vidas, ao contrário do que muitos incautos pensam, é salvar a economia. Não o contrário. A economia é resultante do trabalho material e intelectual dos homens. Sem vida, não é possível construir e manter nenhuma atividade econômica. 

Vidas perdidas não podem ser recuperadas. Mas economia, sim! Parece óbvio, mas não é o que estamos a vivenciar nesses tempos tão difíceis de perdas irreparáveis e de muito sofrimento. 

Justamente em situações tais onde a presença de um líder responsável e respeitado pelo seu povo faz-se necessária para unir o país e tomar medidas que levem a debelar a pandemia e a recuperar a economia em prazo mais curto, sem tantas mortes, que poderiam ser evitadas - infelizmente, é tudo o que nós não temos. 

A cultura do ódio e do confronto, ao invés da empatia, do respeito e do cuidado com o outro, passou a ser a protagonista de um cenário macabro, cujo futuro não se mostra nem um pouco alvissareiro a continuarem as coisas como estão. 
 
Está mais do que comprovado que os países que seguiram as recomendações da OMS e de agentes públicos no combate à pandemia, perderam menos vidas e têm visto sua economia se recuperar mais rapidamente. 

Ainda é tempo para que as autoridades brasileiras dos três poderes, irmanadas com o povo, para além da ideologia e das inclinações político-partidárias, deem uma guinada em direção ao que recomenda a ciência, no combate a essa praga que atinge a todos indistintamente, não importa classe social, faixa etária, convicções religiosas etc.

Essa pandemia impõe que se tenha um outro olhar sobre a natureza e uma nova prática nas relações humanas. Mais respeito e cuidado com o meio ambiente e maior empatia, solidariedade e amor pelos outros são lições que essa grave doença está nos cobrando.

Como tudo na vida, essa pandemia vai passar. Melhor que seja rápido e com o mínimo de vidas perdidas. O que implica na retomada das atividades econômicas mais rapidamente. 

Até porque, tenho certeza de que nós, avôs e avós, só queremos voltar a poder abraçar nossos netos e netas. Colocá-los no colo, ler e contar histórias para eles, levá-los ao parquinho, ir à praia. Enfim, pequenas coisas que alegram as nossas vidas. Será que é pedir muito?

[*] Doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ, professor aposentado na UFS e avô da Liz e da Bia. 

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