Aparte
OPINIÃO - A outra voz da escola: o jornal como prática estudantil

[*] Jorge Carvalho do Nascimento

Ao atentar para a imprensa estudantil, este artigo lança o olhar sobre um campo das práticas escolares que ajuda a estabelecer um entendimento a respeito da história da escola e dos saberes e práticas que a constroem. Mais apropriado pelos alunos que pelos professores, tal campo prioriza práticas de estudantes, e se insere no conjunto de estudos sobre periódicos, livros e leituras. Assim, o objetivo aqui proposto é o de fazer uma exposição inicial acerca das regras que regulam a produção, circulação e uso dos jornais produzidos por e para estudantes e vinculados ou não a instituições escolares. 

A literatura sobre periódicos educacionais no Brasil ainda é recente e pouco se produziu como massa crítica a respeito dos jornais estudantis. Mesmo a literatura que se dedicou aos estudos sobre juventude não costuma examinar o problema dos jornais publicados por e para estudantes. O projeto Catálogo das Revistas Sergipanas, executado durante a primeira década do século XXI, no Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe, inventariou e catalogou as revistas publicadas em Sergipe, entre 1890 e 2002. Percebi a existência de uma vigorosa imprensa estudantil, no período compreendido entre as décadas de 1930 e 1960. 

Neste artigo, optei por fazer um primeiro estudo exploratório acerca dos jornais estudantis publicados nas décadas de 1930 e 1940, apesar de também haver localizado periódicos dessa natureza publicados nas décadas de 1950 e 1960, a exemplo de A Luta, A Voz do Estudante, Escola Normal, Juventude, O Ideal e O Serigi. Os periódicos analisados neste artigo foram todos publicados por e para estudantes. 

Esse tipo de documentação nos fala da história da escola sob a ótica das práticas estudantis e do modo como os estudantes se apropriavam e punham em circulação os padrões de uma cultura política que os envolvia. Nos diz também da necessidade de verificar as estratégias adotadas pelo movimento estudantil para fazer com que as vozes das suas lideranças fossem ouvidas. O jornal estudantil representa, em tal contexto, uma forma de expressão política de um grupo emergente na vida social brasileira que se pretende cada vez mais fazer ouvir. 

Nessa busca, as lideranças estudantis perceberam a necessidade de romper o estreito limite dos muros escolares e entenderam que a legitimação seria produzida à medida que falassem para toda a sociedade. O espaço da imprensa estudantil foi, portanto, aberto não apenas aos estudantes matriculados nas escolas em que os jornais eram publicados, mas também abrigou estudantes que já tinham ultrapassado o momento do ensino secundário e já frequentavam o ensino superior, principalmente em faculdades baianas. Ademais, foram incorporadas contribuições de intelectuais e escritores consagrados que funcionavam como avalistas das práticas políticas estudantis.

[*] É doutor em Educação, professor aposentado da UFS e ex-secretário de Estado Educação de Sergipe e do Município de Aracaju.

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