Aparte
OPINIÃO - Paixão: o ponto fraco do coração

[*] Adalberto Vasconcelos Andrade

A paixão não avisa quando vai chegar. O coração não é como um cofre eletrônico de uma agência bancária, que só pode ser aberto no dia e na hora previamente programados. E engana-se quem pensa que paixão é coisa de adolescente. Volta e meia surpreende corações mais maduros, ao se repetir em fases diferentes da vida. 

Todo ser humano tem um lado (físico, moral ou intelectual) vulnerável. Na ficção, no Velho Testamento, na mitologia greco-romana, até os deuses e heróis tinham o seu ponto fraco. O Super-Homem, por exemplo, em contato com a kriptonita perde a sua condição de Super-herói. 

Sansão, personagem bíblico famoso por sua força física, tinha todo seu vigor centrado na vasta cabeleira, até o dia em que Dalila decidiu cortá-la enquanto ele dormia. Quem não se lembra da peleja entre Davi e o gigante Golias, que tombou feito um passarinho ao ser atingido por uma pedra na fronte? Quem nunca ouviu a expressão “Calcanhar de Aquiles”? Pois é, todo mortal tem o seu.

Aquiles faz parte da história da Grécia antiga como o guerreiro que lutou contra os troianos. Ninguém sabe se realmente existiu. A guerra de Tróia teria acontecido 400 anos antes da existência de Homero. Não tem nada documentado, porque as histórias, lendas e façanhas dos guerreiros eram passadas verbalmente. Não existia o alfabeto naquela época. 

A história, como a conhecemos, foi baseada nas narrativas do poema “Ilíada”, de Homero. Aquiles nasceu da união de uma deusa, Tétis, com um mortal, Peleu. Para mantê-lo a salvo de uma profecia que o condenava a morrer jovem no campo de batalha, a mãe instintivamente pegou o seu recém-nascido e o mergulhou sob as águas do Estige, o rio infernal, para torná-lo invulnerável. Mas a água não lhe banhou o calcanhar pelo o qual ela o segurava e que, assim, se tornou o seu ponto fraco.

Morreu jovem, no campo de batalha, justamente ao ser ferido por uma flecha envenenada que lhe atingiu o calcanhar. Daí a origem da expressão “Calcanhar de Aquiles”, que virou sinônimo de ponto fraco. Se a história é verdadeira ou apenas uma lenda, não importa. A mensagem foi dada. 

Não há quem não fique vulnerável quando a flecha do cupido acerta em cheio o coração. É passar a noite toda contemplando as estrelas para disfarçar a saudade de quem deveria estar 24 horas por dia ao seu lado. É viver com os pés no chão e os pensamentos no mundo da lua. É não ter olhos para mais ninguém. É ter a certeza de que a alma gêmea existe - pelo menos enquanto for tomado por essa avalanche de sentimentos e emoções que explode dentro do peito. O coração entra em ebulição só de pensar no seu objeto de desejo. 

Não é difícil, por exemplo, identificar uma mulher apaixonada. Basta fitar o brilho que vem de seu olhar. E uma vez apaixonada, cada palavra, gesto ou atitude, é um ato de conquista. Desde o sorriso, o tom de voz, a maneira de caminhar e de se vestir fazem parte do seu jogo de sedução. 

Para o homem que é alvo dos seus desejos, só resta se render a seus pés. É quando ele perde a condição de super-homem e a mulher amada passa a ser o seu doce “Calcanhar de Aquiles”? A força misteriosa de uma paixão é alimentada pela atração física e pela empatia que brota espontaneamente entre os amantes. E não há nada mais forte, gratificante e mágico que o sexo entre os apaixonados. Quanto tempo vai durar essa sensação é a última coisa que passa pela cabeça de quem está envolvido. 

A única coisa que importa é o aqui e o agora. Não se conjuga o verbo no futuro quando a felicidade está no presente. Para os apaixonados, não importa o tempo de vida útil de um romance, mas a intensidade em que é compartilhado cada momento de intimidade. A paixão é o ponto fraco do coração e o instinto sexual a sua força vital.

O sexo é a energia que nos impulsiona e, às vezes, nos joga na cama com a pessoa errada. Mas se não for para se apaixonar, para que serve o coração? Com a palavra quem ainda acredita que paixão é coisa de adolescente, e como um cofre eletrônico de uma agência bancária, se sente seguro, protegido ou isento de qualquer invasão. 

O ladrão não avisa quando vai chegar. A paixão também não. Mais cedo ou mais tarde alguém tomará de assalto o seu coração e, com certeza, o levará para cama com todos os seus segredos e mistérios. 

[*] É administrador de empresas, policial rodoviário aposentado e escritor. Este texto e mais três outros da mesma linha de afetividade humana e da autoria dele serão publicados nesta Coluna Aparte como forma de homenagem ao Mês dos Namorados.
 

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