Aparte
Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

NOVA ALESE 7 - Vanderbal Marinho, um deputado cujo silêncio guarda ativa visão social e humanitária
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Reeleito em outubro passado com 26.054 votos, o nono deputado mais votado, Vanderbal é médico-social e humanitarista

INFLUÊNCIA DOS GUIMARÃES

“A gente sempre teve esse trabalho filantrópico, um olhar especial para o povo carente, porque viemos de uma região pobre, o Baixo são Francisco. Vimos essa situação na infância toda”, frisa Vanderbal. 

Contudo, o que levou realmente Vanderbal entrar nessa seara da política foi a forte influência da esposa, após a saída dela da Alese para assumir o cargo de conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Sergipe. Segundo diz o próprio Vanderbal, “não era um sonho meu”. Ele relutou. De modo que a Alese não é a zona de conforto dele.

“O que me trouxe para o lado político foi a família da minha esposa, porque lá em Japoatã eles têm tradição política. A bisavó dela foi intendente, os avós, de ambos os lados, foram prefeitos, tios prefeitos. Meus pais, meus avós não têm ligação com a política. Só um irmão meu que foi vereador em São Cristóvão, por cinco vezes. Ele era médico, tinha um trabalho, era contemplado. Mas desistiu”, relata o deputado.

Segundo Vanderbal, até os filhos insistiram para ele não entrar na política. “Não era sonho nem dos meus filhos. Fui pressionado para não aceitar. Eles já tinham sofrido aquela falta de assistência, demanda maior fora de casa. Eu só entrei porque não tive alternativa, pois temos que ter alguém que dê continuidade ao trabalho (no Baixo São Francisco). O que a gente desenvolve lá acontecerá até quando morrermos (ele e Angélica)”, afirma.

ROTINA DE MÉDICO/DEPUTADO

Evidentemente que a principal bandeira de Vanderbal na Alese é a saúde. Mas ele tem olhar por outras áreas também. “Uma outra preocupação desse nosso novo mandato é com relação à geração de emprego e renda. Eu ainda não tive nenhuma audiência com o governador, mas ele abriu as portas para mim. A gente deve ir lá, depois dele arrumar a casa”, informa.

Quem pensa que Vanderbal diminuiu totalmente sua rotina como médico devido ao mandato na Alese ou, até mesmo, licenciou-se dos hospitais e clínicas particulares, está enganado. “A gente se sacrificou muito, tem uma formação especializada, conseguimos chegar a um ponto de estabilidade na área médica. E tem muita gente em torno de nós que precisa. Aposentei-me do emprego do Ministério da Saúde, mas o pessoal que era aposentado continua indo até a mim pegar relatórios”, relata o deputado.

“Meu trabalho maior como parlamentar não é aqui dentro do plenário da Alese. É no dia a dia. Não tenho mais o emprego público, mas atendo na clínica privada com o trabalho social em comunidades. É uma rotina puxada. Tem demanda de internamento, hospital, conciliação de exames... Mas a gente vai levando”, informa Vanderbal. E, assim, ele se faz um diferencial no Legislativo estadual.

FAMÍLIA GUIMARÃES MARINHO

A Medicina, literalmente, deu régua e compasso para a vida de Vanderbal. Além do primeiro emprego como professor e, evidentemente, do emprego em si como médico, ela deu-lhe o seu amor, ajudou a constituir família, a conhecer Angélica Guimarães, sua primeira e única esposa.

“Eu estudei em Propriá e a doutora Angélica também estudou lá, porque Japoatã (cidade natal da ex-deputada) era menor. Eu num colégio e ela em outro. Eu a conhecia de vista, sabia quem era ela, os pais dela. Mas ela não me conhecia, até porque sou mais velho, uma diferença de quatro anos, que na infância e juventude é relativamente maior”, relata Vanderbal.

“Angélica foi colega do meu irmão médico, o doutor Wanderley, e de minha cunhada. Eles entraram juntos na universidade. Meu irmão brinca, inclusive, que eu devo a ele até hoje”, informa o deputado, aos risos. “Foi ele que apresentou a Angélica, numa festinha da turma deles. Aí ele me disse: “vá lá na festinha conhecê-la”. Aí eu fui. Nos conhecemos através da turma de Medicina. E deu certo”, informa Vanderbal. Angélica também é médica.

A ESPERA DE NETOS

Casados há 35 anos, Vanderbal e Angélica têm dois herdeiros. “Temos dois filhos, o Vanderbal Guimarães Marinho, troquei os dois sobrenomes para não se chamar nem Júnior e nem Filho, que é o mais velho e fez Gestão Pública e Administração de Empresas, e Cindi Guimarães Marinho, que é médica e professora da universidade (docente substituta da UFS)”, informa o pai orgulhoso.

Vanderbal e Angélica ainda não têm netos. Mas a expectativa de tê-los é grande. “Estamos aguardando ansiosos. Minha filha já casou tem uns três anos. Mas médico, principalmente mulher, em início de carreira, tem uma sobrecarga de atividades, então protelou a gestação. Agora, que já está mais ou menos estabilizada, espero que venha o neto logo”, afirma o deputado.

O deputado sabe muito bem como a Medicina é uma profissão que exige esforços, sacrifícios. Logo depois de formado, ele também correu atrás da residência, a especialização em pneumologia e o concurso público para a sua área de atuação.

CONSULTAS, PLANTÕES E FILANTROPIA

“Quando me formei, fiz o concurso para ensinar na universidade e a prova de residência para fazer a especialização. Escolhi pneumologia pela lógica, porque queria tratar de mim, de minha família e era um lado que faltava muita coisa aqui em Sergipe. Tratamentos deixavam a desejar. Aí fui fazer logo a especialização”, informa Vanderbal, que também passou no concurso para o Ministério da Saúde, onde trabalhou por décadas e já é aposentado.

“Eu conciliava os consultórios pelo dia e os plantões. Sempre tive consultório particular. E, depois, com cinco anos de formado, passei a ter dois: um que atendia o pessoal do SUS e outro que atendia os de convênio, particular. Mas fiz também, paralelamente, um trabalho filantrópico. Atendia no São Conrado, em Aracaju, e em Japoatã”, relata Vanderba.

Foi esse trabalho filantrópico que fez Vanderbal chegar onde chegou, assim como a esposa Angélica Guimarães. “Eu atendia de graça o pessoal, e fiquei a vida toda atendendo de graça, como consequência de ter começado lá em Japoatã e de minha esposa ser de lá também. E hoje minha filha também já atende lá, mesmo sendo professora da universidade”, informa o deputado.

PROFESSOR ESCOLAR

Uma vez com o pé dentro na universidade, aí sim Vanderbal foi em busca de renda própria. “Quando eu passei no vestibular, no mesmo ano meus pais vieram morar aqui e ficamos sem recursos. Muitos filhos, né! Aí fui dar aula de Biologia, Saúde Pública, Ciências em Estância”, relata.

A Escola Técnica de Comércio de Estância foi o primeiro emprego de carteira assinada do então estudante e hoje deputado. “Eu saía de Aracaju, ia para lá e voltava no outro dia, durante três dias por semana. Eu dormia num hotel, de Ralin, voltava cedinho e ia direto para aula. Isso era de ônibus, a pé. Não tinha carro não. Fiquei dois anos nessa rotina”, relembra Vanderbal, aos risos.

Após a fase como professor em Estância, surgiu a chance de lecionar em Aracaju, na rede municipal, como docente contratado. “Fui dar aula no Presidente Vargas - segundo e terceiro ano. Entrei porque, naquele tempo, tinha falta de mão de obra especializada em algumas áreas, como química, física, matemática e biologia também. O professor que estava lecionando (e que saiu e deixou uma vaga) era de Medicina também, e disse: “olha, vou colocar um aluno bom aí no meu lugar”. E lá fiquei até me formar”, relata.

Vanderbal é casado há 35 anos com Angélica Guimarães, tendo dois filhos: Vanderbal Guimarães Marinho e Cindi Guimarães Marinho

FASE NO COLÉGIO AGRÍCOLA

Vanderbal foi o primeiro filho do casal Austeclino e Joelina a entrar numa faculdade – “todos são formados”, diz, em tom de orgulho. “Fui o primeiro a passar no vestibular. Fui o filho que abriu as portas. Os que vieram depois, começaram a ter mais confiança. Tem dois médicos na família, além de mim, um médico, uma médica, uma dentista, dois advogados...”, informa.

A entrada de Vanderbal na Universidade Federal de Sergipe - UFS - é fruto de muito esforço. O preparo dele para enfrentar o tão concorrido vestibular de Medicina ocorreu de forma solitária. “O colégio agrícola, no ano em que eu entrei, deixou de ser científico e passou a ser técnico - um ano científico só. Para mim, foi terrível, porque eu tive que estudar sozinho para o vestibular”, explica.

Vanderbal tem na gaveta um diploma de técnico agrícola que jamais foi utilizado. “Eu nunca exerci e fiquei apavorado com a situação. Eu estudei sozinho no colégio com livros que foram doados por colegas mais adiantados. Deram-me livros de química, biologia, matemática”, relata.

MEDICINA: CUIDAR DE SI MESMO E DOS SEUS

Mas todo o esforço, com certeza, valeu a pena. Muito mais que um sonho, estudar Medicina para Vanderbal era uma questão de “sobrevivência” física. Ele entrou na UFS em 1974 e saiu de lá formado, com diploma, seis anos depois.

“Eu sou asmático. Tenho asma desde os quatro anos. Eu sofri muito. Na minha família, além de mim, outros membros também têm. Muitos da família da minha mãe têm. É hereditário. E o controle da doença não era eficaz como é hoje. Então, eu pensei em fazer Medicina”, explica o deputado.

Antes de entrar na UFS, Vanderbal nunca havia trabalhado, sequer em ofícios informais. Entre os pais dele, o lema era: estudo é prioridade. “Era a regra da casa. Tinha que estudar e só podia trabalhar depois que passasse no vestibular, se não atrapalhava. E é uma verdade”, informa.

Vanderbal foi o primeiro, entre seus nove irmãos, a passar no vestibular

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA EM PROPRIÁ

“Fiscal de tributos aposentado do Estado, meu pai é de Gararu, e minha mãe, professora aposentada do Estado, é de Itabi. Eu nasci em Gararu no documento. Eu era para ser registrado em Itabi, mas acabei sendo em Gararu, porque meu pai era de lá. Era cidade metrópole em relação às duas”, explica o deputado.

A infância, a adolescência e a formação escolar inicial de Vanderbal e de seus nove irmãos foram todas na cidade de Propriá, para onde seus pais foram transferidos. “Eles foram transferidos de Gararu, local onde estavam trabalhando juntos e se conheceram, para Propriá”, informa.

A vinda de Vanderbal para a capital ocorreu apenas no final da adolescência, com o objetivo de fazer o ensino médio - 1º, 2º e 3º anos. “No segundo grau, vim sozinho estudar. Como meu pai não podia manter dois filhos estudando em Aracaju - tinha um irmão que estudava no Atheneu -, eu fui para o colégio agrícola, porque lá não tinha despesa e tinha alimentação. Ficava internado”, relata.

Vanderbal entrou na UFS em 1974 e saiu de lá formado, com diploma de médico, seis anos depois

“CABEÇA ABERTA”

Por trás do deputado calado, sério, há um Vanderbal que na juventude até cabelo grande cultivou, algo muito moderno para o interior sergipano de 40 anos atrás. “Meus pais eram bem cabeça aberta na época. Era aquela época da revolução cultural, dos Beatles. Mas peguei muita pressão de vizinhos”, relembra.

Sim, por trás do deputado calado, sério, há, principalmente, um Vanderbal médico-social e humanitarista, com forte atuação em Aracaju e na região do Baixo São Francisco, onde está a Japoatã de sua vivência. E é nesse trabalho que ele concentra todas as suas energias. “Aqui na Assembleia é um trabalho técnico. Não tem esse viés de sempre estar se aparecendo. Não temos essa visão de tentar passar o que estamos fazendo”, informa.

Reeleito em outubro passado com 26.054 votos, o nono deputado mais votado, Vanderbal nasceu no município sergipano de Gararu, no dia 24 de setembro de 1954, fruto do amor do casal Austeclino Marinho de Andrade, 93 anos, e de Joelina Marinho de Andrade, 88 anos, ambos cheios de saúde, moradores da cidade de Aracaju. “Minha mãe usa WhtasApp e meu pai lê a revista Veja”, diz o filho.

Vanderbal com a família. Seus pais: Austeclino, 93 anos, e Joelina, 88 anos, vivos e cheios de saúde

De todos os 24 deputados estaduais eleitos que compõem a 19ª legislatura - 1º de fevereiro DE 2019 a 31 de janeiro de 2023 - da Assembleia Legislativa de Sergipe - Alese -, sem dúvida Vanderbal Marinho Menezes de Andrade, 64 anos, PSC, o Doutor Vanderbal, é o mais discreto. Um observador da Casa. De poucos holofotes, mas de muito respeito.

Vanderbal Marinho não se enquadra num perfil-padrão político de discurso, dos que falam na tribuna com facilidade. Para muitos que não o conhecem verdadeiramente, esta realidade até pode soar como um certo ar “de aquém” dos trabalhos da Alese. Uma certa falta de preparo, uma certa falta de zelo pela importância da Casa.

Faz pensar ainda que chegou onde chegou somente graças à “herança política” deixada pela esposa Angélica Guimarães - ex-deputada estadual por quatro mandatos, ex-prefeita de Japoatã e atual conselheira do Tribunal de Contas. Mas ledo engano.

Na juventude, Vanderbal usava cabelo grande, algo muito moderno para o interior sergipano de 40 anos atrás
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