Aparte
Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

NOVA ALESE 8 - Zezinho Sobral: um novato muito maduro em vivências e cheio de sonhos
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Pela primeira vez, Zezinho assume e exerce um mandato no Poder Legislativo, após passar por oito pastas executivas do Governo do Estado

Décimo deputado estadual mais bem votado na última eleição, José Macedo Sobral, Podemos, o Zezinho Sobral, 53 anos, foi escolhido por exatos 25.764 eleitores para assumir um mandato nesta nova legislatura da Assembleia Legislativa de Sergipe - Alese. Trata-se de um político para lá de experiente, apesar de nunca ter sido eleito na vida para um mandato legislativo ou executivo.

“Estou muito feliz de estar na Assembleia - a caixa de ressonância do Estado, onde se exerce a verdadeira democracia - como deputado. Admiro muito meus colegas e respeito muito quem foi candidato, porque as pessoas querem mudar a política, mas não querem ser candidato. Então, meus parabéns a todos aqueles que foram, porque quando eu quis mudar, queria fazer alguma coisa, fui ser um candidato. Tem muita gente que dá opinião, acha que é porreta, mas só quer criticar. Criticar é muito fácil”, afirma Zezinho.

Zezinho Sobral vem de família política - seu pai, sua mãe e seu avô foram prefeitos do município de Laranjeiras. Fora isso, passou por oito pastas governamentais de Sergipe, entre Secretarias de Estado e órgãos do segundo escalão nos anos de 2007 a 2018, nos Governos de Marcelo Déda, Jackson Barreto e Belivaldo Chagas. Um verdadeiro coringa. “Graças a Deus passei com todas as minhas contas pagas e aprovadas. Fornecedores e povo em dia”, enfatiza o deputado.

Zezinho foi eleito com 25.764 votos, o décimo deputado estadual mais votado

INÍCIO DA TRAJETÓRIA NO GOVERNO

No início do Governo de Marcelo Déda à frente do Estado, Zezinho mergulhou de cabeça e alma na iniciativa pública. “Ele assumiu em 2007 e me convidou para ser o diretor-presidente da Pronese. Passei lá dois anos de atividades interessantes, assentamos 450 famílias pelo crédito fundiário, reabilitamos o Pronese para conseguir financiamento do Banco Mundial para voltar a ter o programa de combate à pobreza rural, e desenvolvemos o Programa Casa Nova Vida Nova, de habitação. Enfim, trabalhamos muito”, relata.

Depois do Pronese, Zezinho foi para a então Secretaria do Trabalho e Juventude - 2008 e 2009. “Nesta linha de tempo, Déda foi para a reeleição e fiquei mais envolvido no ambiente político. Trabalhei efetivamente na reeleição dele. Fiz militância. Era mais ativo”, afirma.

No segundo mandato de Déda, o deputado recebeu convite para assumir uma Secretaria de maior porte, a da Agricultura. E lá ficou num período de três anos. “Passei esse tempo lá até quando Déda faleceu em dezembro de 2013. Antes disso, quando ele adoeceu, como eu conhecia o Governo desde 2007, passei a ser o elo entre Jackson Barreto, que assumia, e Déda que estava, naquele momento, convalescente”, informa. Neste período, ele assumiu interinamente a antiga Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado. Era gestor de duas pastas ao mesmo tempo.

Zezinho com a mãe Ione e com os irmãos Alexandre e Mônica

FASE NO TCE E NA COMUNICAÇÃO

Após quatro anos advogando, Zezinho enveredou-se novamente numa Prefeitura. Desta vez, prestando assessoria a várias. “Eu fazia captação de recursos. Elaborava projetos, dava entrada no Ministério da Saúde, na Funasa. Enfim, vários órgãos federais que captavam recursos para realização de obras e serviços nos municípios”, informa.

Das assessorias às Prefeituras, o deputado pulou para o Tribunal de Contas do Estado - TCE -, na função de assessor da Presidência - Heráclito Rollemberg. “Fiquei um ano e meio lá. Eu controlei, tomei conta do serviço de transporte do Tribunal, fazendo inspeções”, explica Zezinho, que se lançou novamente no campo privado depois de sair da Corte de Contas.

“Voltei para iniciativa privada. Fui diretor-geral por um ano e meio do Sistema Liberdade de Comunicação - que englobava duas emissoras de rádio, em Carmópolis e em Aracaju, e a extinta TV Caju”, informa o deputado.

Zezinho com a mãe Ione Sobral, ex-prefeita de Laranjeiras

ENTRADA NA ESFERA PÚBLICA

O início da longa trajetória na esfera pública do agora deputado se deu logo após seu retorno à Aracaju. “Fui convidado para trabalhar na área de administração pública, primeiro como secretário na Prefeitura de Laranjeiras, depois fui para o Tribunal de Contas e depois, mais na frente, com Marcelo Déda, quando fui para o Pronese”, elenca.

“Fiquei durante quatro anos como secretário no município de Laranjeiras e foi uma grande escola para mim, porque lá eu fazia de um tudo. Corrigia ofício, recebia correspondência, fazia auditoria da folha do pessoal, discutia elaboração de leis para enviar à Câmara. Era secretário-geral. Era uma espécie de Secretaria de Administração, misturada com Casa Civil e Gabinete. Tudo junto. Fazia uma parte do transporte também. Só não mexia com obra, saúde, educação”, relata Zezinho.

Esse trabalho na Prefeitura, no final da década de 90, estimulou Zezinho a buscar novos conhecimentos. “Em 1996, essa experiência me mostrou a necessidade de cursar outra universidade. Fiz vestibular na Unit - Universidade Tiradentes - e cursei Direito. Fiz OAB também, comecei a advogar. Sou advogado. Trabalhei durante quatro anos nesta minha segunda formação”, informa o deputado, que tem vontade de estudar mais, outras áreas. Contudo pondera: “o tempo não permite”, diz.

Zezinho com o pai Zé Sobral, ex-deputado estadual, ex-prefeito de Laranjeiras e já falecido

BAHIA: DIPLOMA E FAMÍLIA

Em Aracaju, o deputado estudou até o antigo segundo ano científico. No seu último ano no colegial e ensino superior foi para fora do Estado. “Decidi que queria fazer faculdade de Agronomia. E, na época, só tinha na Bahia, na Universidade Federal da Bahia, a UFBA, em Cruz das Almas. Era lá que formavam os engenheiros agrônomos”, informa.

Querer ser engenheiro agrônomo foi algo natural para Zezinho. Sua origem é entrelaçada à agricultura. “A agronomia veio do meu conhecimento, da minha infância, da minha vida ligada à terra. Meu pai sempre foi produtor rural. A gente vivia disso. A nossa vida sempre foi atrelada a isso. Gosto da natureza, do campo, dos animais”, explica.

Além de um diploma, a Bahia deu a Zezinho também uma família - sua primeira esposa e, consequentemente, seus primeiros filhos. Ele é pai de Saulo, Thamima, Sulaima, Maria e José de apenas oito meses. “Voltei casado. Do meu primeiro casamento tive três filhos. A mãe dos meninos é baiana. Meus meninos nasceram quase todos na Bahia, porque ela queria parir junto da mãe. É quem acolhe primeiro né? E os outros dois nasceram aqui em Aracaju já no segundo consórcio. O nome é esse: consórcio, pela lei e pela justiça”, relata, aos risos.

Ao retornar para Aracaju, Zezinho foi colocar em prática no campo os seus conhecimentos adquiridos na UFBA. “Vim trabalhar na minha área, que conheço. Eu tinha agroindústria, trabalhava na fazenda, produzia. Todas as atividades da área eu exercia”, informa.

Zezinho na adolescência, dividida entre Aracaju e Laranjeiras

INFÂNCIA EM LARANJEIRAS

Zezinho relembra situações vividas por sua mãe. “Certa feita, numa praça tinha um cidadão bebendo e ao lado de crianças que estavam brincando. Ela disse: “moço, o senhor não pode fazer isso não. Vá beber no bar”. Ele: “quem é a senhora?”. Ela: “eu sou a prefeita”. Aí, ele: “ah, não vou sair”. Minha mãe: “então vou chamar a polícia, porque as crianças não podem tomar isso como exemplo””, relata.

“Eu acho que eu misturo um pouco disso (do meu pai e da minha mãe). Essa herança está muito gravada em minha mente. Essa forma de conduzir, essa responsabilidade com as pessoas. Eu me sinto muito responsável. Eles dois me servem como exemplo”, afirma o deputado.

Todas essas características dos pais citadas por Zezinho foram vivenciadas em Laranjeiras. A Laranjeiras em que o deputado viveu efetivamente seus primeiros anos de vida. “Até os sete, eu morei lá, foi onde fui alfabetizado, passei minha infância”, diz. Após concluir a antiga pré-escola, ele veio morar na capital.

“Vim morar em Aracaju na infância ainda para fazer o fundamental. A princípio, eu vinha para cá e voltava para Laranjeiras todos os dias. Foram uns quatros anos assim. Depois disso, meu pai alugou um apartamento aqui, no Edifício Serenidade, na Rua de Maruim. Como eu já tinha dois filhos além de mim, e eram pequenos, facilitava mais morar aqui”, explica Zezinho.

Zezinho criança com os irmãos Alexandre e Mônica

INFLUÊNCIA DOS PAIS

“Minha formação política, minhas convicções, minha maneira de atuar e agir vem de uma herança forte dos meus pais. Meu pai foi deputado, prefeito e era um homem absolutamente afável, amigo, companheiro, ético”, afirma Zezinho, que não cessa de tecer elogios e elencar características do pai já falecido. De fato, era uma grande figura.

“Meu pai era festeiro. Um homem que gostava de casa cheia. Não podia ver ninguém sofrer, que acolhia. Era um cara que ainda hoje, quando chego em determinados lugares, dizem: “ah, Zezinho, você é filho de Zé Sobral”. Não sou recebido porque sou secretário ou deputado. Sou recebido porque sou filho de Zé Sobral, que tratava todos com muito carinho, decência e humanidade”, afirma Zezinho.

O deputado atribui a Ione Sobral também muito do que ele é hoje em dia. “Minha mãe é mais determinada, olho no olho. Mulher de cobrança. Como prefeita, todos os dias passava para ver como era que aquilo (obra, serviço) estava. Olhava o horário e se não tivesse alguém, questionava: “por que não chegou?””, diz.

Zezinho ainda bebê, com os pais Zé Sobral e Ione Sobral

BANDEIRAS NA ALESE

Da Inclusão, Zezinho partiu para a candidatura a deputado estadual, obtendo o resultado tão buscado. “Nunca pensei em ser candidato na minha vida. Mas acredito que a gente precisa debater temas importantes, discutir questões que, de fato, sejam relevantes, porque discutimos muito miolo de pote na política”, destaca.

Na Alese, Zezinho quer discutir temas ligados à saúde, como as mortes, principalmente, os suicídios. “No Huse entram, por final de semana, 60 a 70 pessoas que tentam suicídio. E ninguém discute isso. Não tem política psicossocial na área. É a terceira maior causa de morte em Sergipe. Aí, você se assusta. Um absurdo né? Como vamos combater isso?”, questiona.

Zezinho continua a questionar: “quando entrei na Saúde, descobri que o Samu recebe 400 chamados por mês para conter pessoas em surto psicótico, que quebram casa, rua. Qual o único lugar de acesso quando a pessoa está em surto? Só tem um. É o hospital São José. E estão querendo fechá-lo. Então, para onde você vai levar esses 400? Quem tem expertise para cuidar disso?”, diz.

Zezinho como secretário da Inclusão Social, sua última pasta no Governo do Estado, antes de se candidatar a deputado

“Foi maravilhosa a pré-candidatura. Cinco meses de trabalho em Aracaju. Eu consegui aparecer bem nas pesquisas, mas 8% era muito pouco. Os outros tinham mais. Então, fui tirado. Mas eu não queria ganhar eleição. Queria concorrer. Estava dentro da minha vontade. Dizia: “eu quero concorrer. Não quero ganhar. Deixa-me ir, me deixa ir”. Mas não pude. O partido me negou legenda”, relata o deputado.

“E eu, como estava tão interessado, enfronhado, fui ainda convidado para coordenar a campanha. E fui, porque o projeto político que eu entendi como melhor era o dele (o de Edvaldo). Fiquei satisfeito de ter feito isso, pois não saí da política. Tanto é que fui convidado nos dois anos seguintes para ser secretário de Inclusão no Estado, onde aprendi tudo que envolve assistência social. Nesse meio termo, administrei ainda a Segrase por seis meses”, informa Zezinho.

A gestão à frente da Secretaria de Estado da Saúde foi um divisor de águas na vida de Zezinho

CANDIDATURA ABORTADA

Aliás, a Saúde foi a principal responsável por Zezinho entrar na política – bastasse a origem familiar dele. Ele nunca havia sido candidato na vida. “Achei que ali dentro eu precisava de mais alguma coisa, um mandato, para mudar a realidade política do país e dar um direcionamento correto às políticas públicas, porque como secretário, eu estava limitado à política que os outros desenvolviam. Eu tinha que desenvolver a minha”, ressalta.

Nessa época, em 2016, Zezinho se lança pré-candidato a prefeito de Aracaju. Mas não passou desta fase. Diante de um desempenho fraco nas pesquisas, o agrupamento político do deputado decidiu abortar a candidatura e lançar no lugar dele Edvaldo Nogueira, que saiu vitorioso no pleito eleitoral.

Zezinho com o ex-governador Déda. Foi no Governo dele que o deputado iniciou sua trajetória como secretário de Estado

RESULTADOS NA SAÚDE

“Eu queria continuar onde estava, pois estava numa relação mais política. Mas entendi que era um desafio sem precedentes na minha vida. Foi uma grande mudança. Ser secretário de Saúde do Estado com a minha formação. Sou engenheiro e advogado. Não sou da área da saúde”, afirma o deputado.

A Secretaria da Saúde mexeu física e emocionalmente com Zezinho. “Desgastei-me bastante naquele ano de 2015. Mas também descobri coisas fantásticas. Foi uma experiência transformadora. Passei a lidar com vidas no serviço público, que é moroso, lento e complicado. Se eu errasse, eu matava pessoas. E isso me fazia sofrer. Então, aquilo era um carma que eu não queria carregar. Eu fazia oração diária durante o trajeto de casa - eu morava longe, na Aruana -, até chegar na sede da Secretaria. Pedia a Deus que não me permitisse errar”, relembra.

Com certeza, a Saúde foi um divisor de águas na vida de Zezinho. “Eu não vou elencar tudo que fiz, porque renderiam horas a fio. Mas Saúde é o que eu vi agora no Hospital de Barretos, que agora é Hospital do Amor. Saúde é humanidade. Médicos, enfermeiros e assistentes pensam no paciente e paciente se relaciona com a equipe. O resto é tudo consequência”, destaca.

Zezinho faz concessão para registra apenas dois fatos, na visão dele, importantes durante sua fase de um ano na Saúde. “Em 2015, no mês de agosto, a Revista Emergência, nacional, patrocinada pelo Ministério da Saúde, reconheceu o Samu de Sergipe como o melhor do Brasil. E conseguimos iniciar a obra para implantar o segundo aparelho de radioterapia de Sergipe (do Huse)”, informa.

Zezinho com a esposa Lívia e os filhos do casal

ENTRADA NA SAÚDE

Com Jackson no poder em 2014, Zezinho virou secretário-chefe da Casa Civil. “Aí, nesta fase, Jackson entra no processo de reeleição e participamos. A minha função era administrativa. Em alguns momentos, trabalhava na coordenação política, no comando de outros secretários, porque a Casa Civil exigia essa relação, ainda mais que Jackson não tinha vice-governador”, explica.

Com Jackson eleito 2014 e prestes a assumir um novo mandato em 2015, Zezinho foi demitido e admitido quatro vezes num dia só. Um episódio para lá de inusitado numa uma data tão simbólica para o deputado: o dia do seu aniversário. Mas todo o reboliço teve um desfecho transformador para ele: o convite para ser secretário da Saúde.

“No dia 26 de dezembro de 2014, Jackson em conversa com outros secretários, entendeu que um dos problemas do Estado era a Saúde e que precisava de alguém para cuidar dela. E alguém a quem eu devo muito sugeriu que fosse eu. E eu fiquei assim, abismado”, relata.

Zezinho com a esposa Lívia, os cinco filhos, genros e noras

“NÃO ME SINTO PODEROSO”

Zezinho também quer solucionar o problema da BR-101. “Nós estamos em Sergipe, vizinho de Alagoas e da Bahia. Em Alagoas você anda de pista dupla do começo ao final. Aqui estamos desmoralizados, vilipendiados, humilhados pelo Governo Federal, que há mais de 20 anos não termina essa BR”, lembra.

“E nenhum político fala nada, questiona por que não terminaram a BR-101. Mas esse deputado que está aqui vai passar uma hora Alese pedindo que a Assembleia se manifeste, faça correspondência, tome providências”, informa o deputado, que também pensa em pautas referentes ao desenvolvimento econômico. “Nosso Estado está perdendo emprego, sem motivação. Petrobras desinvestido, querendo fechar a Fafen, não investiu no pré-sal. Precisamos estimular outras visões”, frisa.

Zezinho afirma que sente falta de deputados atuando junto à população, defendo os interesses dela. “Entrei para a política porque entendo que posso fazer isso e tenho vontade de fazer”, informa. Mas ele deixa claro: “o poder é transitório. Não me sinto mais poderoso, mais importante, nem autoridade nenhuma. Acho estranho quando as pessoas me chamam de excelência. Eu sou o Zezinho Sobral de sempre”, afirma.

Belivaldo Chagas designou Zezinho para ser líder do seu Governo na Alese 
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