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Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

OPINIÃO - De partidos políticos a gangues partidárias: o atual cenário político do Brasil
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[*] Eliano Sérgio Azevedo Lopes

Que é muito grave a situação política que o Brasil atravessa, não se discute. É fato. Pode-se discutir a natureza da crise - se política, econômica, moral ou tudo junto e misturado. Jamais a sua existência e os seus desdobramentos na vida social brasileira.

Que isso tem reflexo imediato nas eleições de 2018, estão aí para provar o desencantamento da população com a política e com os partidos e políticos que lhe dão concretude. 

Onze em dez consultados vociferam contra “tudo isso que está aí”, afirmam que votarão nulo ou que preferem pagar a multa à justiça eleitoral a sair de casa para votar nesses “ladrões e enganadores do povo”.

A corrupção em grau jamais visto, com as principais lideranças dos maiores partidos brasileiros (PT, PSDB, MDB) na cadeia ou na antessala dela - à espera de serem os próximos atores a “tocarem piano” e receber o kit-presídio - lençol, escova de dente, sabonete e uniforme cáqui - compõe o cenário cotidiano desse “Brasilzão de meu Deus”.

Em suma, razões não faltam aos que assim pensam e, infelizmente, o PT, ao embarcar nessa nau dos salteadores e piratas dos recursos públicos, parece ter colocado a pá de cal que faltava na “demonização da política e no nivelamento por baixo de todos os políticos” - o que não é nem saudável nem verdadeiro, convenhamos.

Quem viveu no período da ditadura sabe muito bem do que estou falando. Quem não viveu, pode se inteirar consultando sites e redes sociais os mais diversos, antes de cair no canto da sereia dos Bolsonaros da vida, sobre a brutalidade e o retrocesso que foram para o país essas duas décadas em que esteve sob a bota dos milicos e da rapinagem dos donos do poder.

Não bastassem os assassinatos cometidos contra os adversários do regime, as prisões de inocentes, o atraso na economia e a exacerbação das desigualdades sociais, também no campo político impediu-se a formação de novas lideranças - o que explica a presença ainda hoje de velhos e reacionários coronéis a controlar o aparelho estatal e o jogo político. 

De modo que, qualquer democracia, por mais tênue e frágil que seja, é preferível a uma ditadura, não importa a roupagem que veste: se de esquerda ou de direita. Nada mais importante que a garantia das liberdades individuais, da livre manifestação do pensamento, do poder do ir e vir. Valores que ditadura abomina e as primeiras vítimas quando ela se instaura.

A extinção dos partidos políticos tradicionais - UDN, PSD, PTB, PSB -, a proibição e perseguição dos partidos comunistas, notadamente o PCB e o PC do B, e a adoção do bipartidarismo, representado pelo PMDB e pela Arena, o primeiro para fazer uma oposição consentida, e este para defender o governo ditatorial, manietaram a ação política, com consequências graves no que diz respeito à formação de novos quadros políticos e na renovação do próprio fazer político.     

Nem mesmo o retorno ao multipartidarismo conseguiu livrar o país da chaga do conservadorismo e da nefasta forma de pensar e exercer a política na sua dimensão mais nobre: atender as demandas e reivindicações da maioria da população, suas necessidades primárias e o seu desenvolvimento socioeconômico. 

Educação de qualidade, saúde para todos, habitação digna, saneamento básico e segurança, entre outros, ainda estão por serem atendidas com eficácia e eficiência pelo poder público. Menos ainda constituem preocupação da expressiva maioria dos políticos que deveriam representar os interesses do povo, a quem ele delega representá-lo nas diversas instâncias do Parlamento - municipal, estadual e federal.

Com mais de três dezenas de partidos políticos - e uma penca enorme tentando conseguir o registro na Justiça Eleitoral -, o resultado só poderia ser esse, o de um presidencialismo de coalisão (ou não seria melhor chamar de cooptação?), dominado pelo fisiologismo e pela negociata entre o Executivo e o Congresso Nacional, respaldado por uma parcela do Judiciário, envolvidos em tenebrosas transações, como diria a canção do Chico Buarque.

O “é dando que se recebe” e as “divinas tetas” dos recursos do Fundo Partidário constituem o favo de mel para onde correm os oportunistas e sanguessugas, a criar partidos políticos sem nenhum cunho ideológico e programático e expressão zero de base social ou com respaldo de organizações sindicais, ou ainda, vinculados a confissões religiosas, por exemplo. 

São os Partido Republicano Brasileiro - PRB - (da Igreja Universal do Bispo do Edir Macedo), Solidariedade, (do Paulinho da Força Sindical), Partido da República - PR - (do “mensaleiro” Valdemar Costa Neto) e o Partido Trabalhista Brasileiro - PTB - (do famigerado e também “mensaleiro” Roberto Jéferson), dentre as duas dezenas ou mais de agremiações partidárias de mesmo naipe. 

Nada mais são que gangues partidárias, na feliz expressão do jornalista J.R. Guzzo, a disputar o butim dos roubos e assaltos aos cofres públicos, seja da administração direta seja das empresas estatais, a exemplo da Petrobras, Eletrobras, Correios e Telégrafos, entre tantas outras a serem ainda investigadas.

Partidos de aluguel que aproveitam os anos de eleições para mercantilizarem tempo de televisão em troca de grana e de cargos em eventual vitória daquele que lhe paga pela falta de caráter. É esse o cenário - incompleto, parcial e até mesmo superficial - que constitui o pano de fundo das próximas eleições de outubro desse ano.

Separar o joio do trigo e escolher os melhores candidatos em quem votar, tem sido cada vez mais difícil, desde a redemocratização do Brasil. Mesmo assim, melhor votar - ainda que tampando as narinas - do que não exercer o direito do voto e contribuir, mesmo que não perceba, para a manutenção do status quo. Em outros termos, ser conivente com as velhas e decrépitas figuras políticas - Temer, Renan, Collor, Aécio, Roberto Jeferson, Sarney et caterva -, que tanto mal têm feito para o país ao colocar como norte de sua ação política os seus interesses e de grupos que representam. Ao povo, uma banana bem dada!  

[*] É doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ e professor aposentado na Universidade Federal de Sergipe - UFS.

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