Aparte
Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

OPINIÃO – O fator Lula-Haddad e as eleições para os governos de Sergipe e demais Estados do Nordeste
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[*] Antonio Carlos Valadares

Passados os primeiros dias das eleições gerais para presidente, governadores, deputados federais e estaduais e senadores, detenho-me à análise dos resultados eleitorais para o governo de Sergipe e os concernentes aos governadores do Nordeste, região que mostrou a alta performance dos candidatos apoiados por Haddad, que fora lançado à Presidência por Lula, que, como sabemos, não pôde se candidatar em face de condenação que lhe foi imposta pela Justiça que o tornou inelegível.

Desde o 1º turno das eleições que venho refletindo sobre o tema. Por que perdemos, se o nosso discurso à primeira vista se afinava com a insatisfação popular contra o Governo do Estado? A rejeição estava a olhos vistos e ninguém contestava, até mesmo os aliados mais apaixonados dos detentores do poder. O marketing inventou o slogan Belivaldo veio pra resolver; frase inócua pra quem sabia que tudo não passava de uma frase de efeito de alguém que estava ali pra resolver aquilo que na prática nada resolveu.

Seria possível a um governo com tantos defeitos ganhar as eleições? Seria viável a candidatura continuísta de um governo que atrasara salários dos servidores ativos e inativos, que se tornara perdulário em contratar comissionados para atrair o apoio de chefes políticos, que inaugurara uma obra de saúde fantasma que veio a ser mais um escândalo nacional, que tivera negado empréstimos por bancos públicos porque perdeu a sua capacidade de pagamento, que deixara a saúde e a educação em situação caótica, que abandonara as estradas, deixando-as praticamente intransitáveis, que tivera a sede de uma das Secretarias de Estado invadida pela PF por suspeita de superfaturamento no transporte escolar, que deixara centenas de obras inacabadas, um governo que, enfim, fora reconhecido como o “pior governo de nossa história”?

Durante a campanha, todos os adversários de Belivaldo insistiam em expressar que ele era o candidato de Jackson Barreto, no que agiam corretamente. Afinal, Jackson Barreto havia feito um governo desastroso, Belivaldo participou efetivamente de todos os atos, e também do caos, como vice-governador, cumulando com o cargo de chefe da Casa Civil, tendo assumido inclusive por várias vezes o Executivo, na ausência do titular.

Bater nessa tecla seria razoável e até um dever legítimo dos que representavam as oposições na disputa, na tentativa de mostrar com clareza aos eleitores que estariam enfrentando um desafio relevante, qual seja, se votariam pelo continuísmo ou pela mudança. O eleitor nem deu bolas aos alertas da oposição e preferiu o continuísmo, deixando a mudança para outro momento. Foi no mínimo uma decisão que causou estranheza a quantos esperavam uma reação contrária dos eleitores. No entanto, é preciso entender e aceitar a autonomia de quem vota e que devemos respeitar o resultado das urnas, ainda que nos traga frustração. É um imperativo do processo democrático.

O resultado era previsível, mas ninguém, no âmbito das oposições, queria admitir. E as pesquisas alimentavam esse equívoco. É que existia um fator desestabilizador das candidaturas de oposição, caminhando para a desidratação de quem se opunha ao governo, fato que muitos subestimaram, não identificaram ou não levaram em conta: o fator Lula, incorporado no nome de Haddad, seu candidato a presidente da República, que cresceu ao longo da campanha e alcançou números impressionantes de intenções de votos, à medida em que ele se identificava com o seu patrono, Lula, liderança popular incontestável, especialmente no Nordeste do Brasil, apesar de processado e preso.

Por isso, de nada adiantou a estratégia de desconstrução do candidato oficial, mostrando suas falhas gritantes. Simplesmente porque enquanto Belivaldo procurava desvincular-se da imagem de Jackson Barreto, surfava no ressurgente prestígio eleitoral do PT, embalado pela força do bordão Haddad-Lula, repetidamente dito e propagado por onde passavam os candidatos governistas.

O número 13 em Sergipe foi decisivo ao ser visualizado na “colinha” pelo eleitor lulista, e impulsionou o candidato a governador até às nuvens. Na distribuição dessa “colinha”, deputados da situação, com capilaridade e influência em todos os municípios do Estado, tiveram um papel essencial através de cabos eleitorais regiamente escolhidos e atraídos para a função de levar aquele material de propaganda, com mais celeridade nos últimos dias do pleito.

Belivaldo, que não tinha qualquer vestígio de potência eleitoral, patinava nas pesquisas, ocupando sempre um 3º lugar, venceu as eleições nos dois turnos por uma ampla margem. Como prova do que estou afirmando - sobre a influência do candidato de Lula -, é só olhar o percentual de votos dados a Haddad: foi praticamente o mesmo do que recebeu Belivaldo, conforme consta dos boletins eleitorais, em todas as secções do Estado de Sergipe.

Podemos dizer, sem medo de errar: a vitória veio graças ao uso sistemático, em toda a campanha, dos programas sociais do governo Lula, das figuras de Haddad, candidato de Lula, e de Eliane, viúva do saudoso líder político Marcelo Déda, candidata a vice.

Como ficou demonstrado, o 13 pegou no Nordeste como uma praga, como em todas as eleições, desde a era Lula. Todos os candidatos a governador que se identificaram e tiveram o apoio do PT, ganharam as eleições no Nordeste. Enquanto Eduardo Amorim, Valadares Filho e os demais postulantes ao cargo de governador não dispunham de um candidato a presidente competitivo com respaldo no Bolsa Família, e em programas nítidos de combate à pobreza, o candidato do governo, muito embora representasse uma gestão caótica e ultrapassada, grudou na imagem do 13, na imagem de Lula, como única alternativa para escapar da debacle que parecia inevitável no começo da disputa. Os programas eleitorais e as inserções generosas de TV, garantidos por uma gigantesca coligação, facilitaram a exposição da estratégia de marketing, ratificando e repetindo à exaustão, inclusive nas carreatas estridentes, o apoio do candidato de Lula a Belivaldo.

Apesar da desigualdade alarmante, o candidato do PSB, Valadares Filho, apontado desde o início como uma 3ª via, chegou ao 2º turno - um candidato com um exíguo tempo de TV, sem maiores recursos financeiros em comparação com o candidato do governo. Essa foi a primeira vez que isso aconteceu na retrospectiva de nossas eleições, fato que demonstra que é possível nas futuras eleições acontecer o que muitos consideram muito difícil, o surgimento de um governador eleito pelo povo fora dos agrupamentos que simbolizam a força da máquina e o poder político e econômico. Ou seja, vencendo os que se consideram únicos depositários da vontade popular.

Além disso, o candidato governista se beneficiou do tempo de rádio e TV para a intensificação de ataques visando desqualificar adversários, notadamente os que mais chegavam perto, e mais à frente, como Valadares Filho, e muito menos, Eduardo Amorim. Portanto, na minha opinião, a postura dos candidatos a governador, propostas e debates na TV, muito pouco influíram no resultado final dessas eleições.

Em suma, em Sergipe e no Nordeste, foi a candidatura presidencial do PT que garantiu, com raras exceções, o êxito dos candidatos a governador em aliança com o partido de Lula. Queiramos ou não, o suporte político-eleitoral do candidato à Presidência da República Haddad, apoiado por Lula, sem dúvida alguma, determinou a vitória dos governadores em todos os Estados nordestinos - Bahia, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão e Ceará, nos quais o candidato vitorioso ou era PT, ou tinha o apoio do PT.

Considero que o maior peso da “sigla” Haddad-Lula para a ascensão e vitória dos candidatos a governador ocorreu em Sergipe, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Se não houvesse nesses Estados a oportuna colagem ao binômio Haddad-Lula para arrastá-los, bem como a influência do poderio da máquina para garantir apoios e mudar votos, teriam perdido as eleições. Assim ou assado, Belivaldo ganhou, e nós da oposição perdemos.

A partir de agora, os que participaram do embate eleitoral passam a exercer o papel que lhes cabe e que lhes é assegurado pelo nosso sistema democrático: quem ganhou que governe, quem perdeu que faça oposição. E a todos aqueles que não concordam com o sistema que foi vitorioso, assumindo a derrota, eu lhes lembro uma frase que Bob Marley costumava pronunciar: “Se você é derrotado, não perde; você só é derrotado se desistir”.

[*] É senador do Brasil por Sergipe e pelo PSB.

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