Aparte
Opinião - Um revólver ou um martelo?

[*] Paulo Roberto Dantas Brandão

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, um ex-juiz federal e ex-fuzileiro naval, filiado ao Partido Social Cristão - PSC -, autorizou a polícia do seu Estado a atirar para matar todo mundo que estivesse portando um fuzil pelas ruas.  Viralizou na Internet o vídeo no qual o polêmico governador dizia: “se sair vai morrer”. 

Quando a jornalista Maria Beltrão, da Globo News, perguntou ao governador se uma pessoa com um guarda-chuvas não poderia ser abatida por engano, Witzel foi mordaz: “Só vai morrer quem estiver com um fuzil”. Respondeu com ar de deboche.  Por aqui, pelo Face, também virou hit ridicularizar a jornalista.  A turma caiu de pau em Maria, que para mim fazia uma pergunta pertinente.

Pois bem, o temor foi concretizado esta semana. Na Vila Kennedy, perto da Av. Brasil, um pedreiro trabalhando numa laje, portando um perigoso martelo, que foi confundido com um revolver, foi abatido pela polícia. Será que Maria agora tem razão?

Conversando com um amigo empresário, que apesar de jovem tem se mostrado para lá de conservador, dizia que a polícia tinha mesmo é que entrar nas favelas matando. Inocentes mortos, seria um efeito colateral. Fiz ver que seria um efeito colateral certamente para ele, que não vive numa favela, e que portanto não estaria na linha de tiro. Sem sentir essa turma está se aproximando muito do fascismo.

Quem assistiu ao filme “Em nome do pai”, de Jim Sheridan com Daniel Day-Lewis no papel principal, que trata da prisão de inocentes que se tornaram suspeitos de um atentado do IRA na década de 1970, pode ver numa cena do início do filme, que o exército e a polícia inglesa começam uma grande operação em Belfast, ao ver um jovem, num telhado, com um guarda-chuvas que usa imitando uma guitarra. Quase que é abatido. Muito antes de Witzel.

 [*] É advogado e jornalista.

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