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Henri Clay: “Saio dessa campanha bem maior do que entrei”

Henri Clay: “saio dessa campanha bem maior do que entrei”

Sem remorso, feliz por seu desempenho pessoal, bem mais maduro e disposto a ir até o fim do segundo turno com os parceiros de campanha, desde que eles não caiam na graça da candidatura de Jair Bolsonaro. Este breve raio xis é o de Henri Clay Andrade, ex-candidato a senador na coligação com o PSB dos Valadares.

“Eu saio desta campanha com a consciência tranquila e a alma leve, certo de que fiz uma ação limpa, honesta e propositiva. Eu saio dessa campanha bem maior do que entrei”, diz Henri Clay. Cordial e leve, ele promoveu um café da manhã na última terça-feira com um seleto grupo de jornalistas no Quality Hotel Aracaju para agradecer.

O despojamento de Henri Clay tem lá sua lógica. Entrado na campanha em junho deste ano, HC, como lhe chamam os advogados, conseguiu amealhar quase 110 mil votos. Teve exatos 109.562. Desse total, 52.303 saíram de Aracaju.

Henri Clay Andrade se recusa a prefixar como será seu futuro nas militância e disputa eleitorais daqui pra frente. Mas deixa entreaberta uma dica razoável. “Eleitoralmente, não tenho nenhum planejamento para 2020 e 2022. Mas para mim está muito claro de que não pretendo disputar mais nenhuma eleição para Presidência da OAB. Para mim, isso é um fim de ciclo”, diz. É recomendável ler esta breve entrevista dele à Coluna Aparte. 

Aparte - Qual a lição das urnas nesta sua primeira campanha eleitoral?
Henri Clay Andrade -
A grande lição foi a de que o povo quer renovação nas urnas e na forma de se fazer política. Eu saio dessa campanha com a consciência tranquila e a alma leve, certo de que fiz uma ação limpa, honesta e propositiva

Aparte - Cerca de 110 mil votos para quem entrou na campanha no mês de junho, num comparativo com quem vem há 10 anos OU 15 anos em campanha, tem que significação?
HC –
Tem a significação de que eu saio dessa campanha bem maior do que entrei. Para mim, foi uma votação altamente expressiva. Estes quase 110 mil votos fizeram de mim o segundo mais votado de Aracaju, pelo que fico muito grato. 

Aparte – Qual foi sua maior dificuldade?
HC –
Eu tive que vencer nesta campanha, num curto espaço de tempo, um profundo desconhecimento sobre a minha pessoa que eu mesmo não avaliava. Eu me julguei mal. Achei que era conhecido de todo o Estado, e não o era - mas Aracaju, onde eu sou realmente conhecido, correspondeu e reconheceu o nosso trabalho, tanto como advogado de causas trabalhistas quanto como presidente da OAB por três vezes  

Aparte - O senhor considera esta eleição um laboratório? Dará novos passos no mundo político-eleitoral?
HC - Posso garantir que esta eleição para mim foi uma grande experiência. Estou num breve período de hibernação, estou licenciado da Presidência da OAB, mas devo retornar para cumprir o meu mandato até o dia 31 de dezembro. Sou muito grato à advocacia sergipana. Não tenho como aferir a quantidade da votação advinda diretamente dela, mas ficou muito claro que a advocacia sergipana, de forma bastante hegemônica, abraçou a candidatura e votou em mim para senador. 

Aparte - Mas o senhor para aqui ou tem outros projetos políticos-eleitorais em mente? 
HC -
Não tenho nenhuma avaliação ainda acerca disso. Eleitoralmente, não tenho nenhum planejamento para 2020 e 2022. Mas para mim está muito claro de que não pretendo disputar mais nenhuma eleição para Presidência da OAB - para mim, isso é um fim de ciclo -, embora devo dizer que sou muito grato aos advogados que estiveram comigo desde há 20 anos e nunca me deixaram perder nenhuma eleição. Fui conselheiro federal duas vezes e os candidatos que apoiei para a OAB nunca perderam. Saio dessa eleição com essa votação expressiva e a compreensão muito clara do tamanho e do valor da minha responsabilidade pessoal e da condição política para a qual fui alçado. 

Aparte - Uma campanha deste nível dá à pessoa um choque de realidade?
HC –
Dá. E muito. Antes eu compreendia, entedia, só teoricamente, da grande carência do povo, mas a campanha me fez sentir profundamente o quanto o povo sergipano é sofrido e carente nas suas necessidades básicas. E pude compreender, de forma aprofundada, o porquê de Sergipe ser o Estado mais violento do Brasil. Compreendi que as causas da violência são a evasão escolar e as drogas. 

Aparte - E essas duas coisas vicejam bem em Sergipe?
HC –
Muito, de forma escandalosa. Em Sergipe há uma evasão escolar de 81% entre crianças e adolescentes. Isso são crianças e adolescentes que não terminam o segundo grau. E há mais de 120 mil sergipanos envolvidos com as drogas. Essa droga está invadindo a escola e destruindo a família. Então, o caminho, não tenho mais dúvida, é pela educação. Qualquer discurso além disso, é demagogia. 

Aparte - Neste segundo turno o senhor se mantém aliado ao grupo em que está? 
HC –
O PPL fez uma aliança com o PSB tendo como candidato a governador Valadares Filho e naturalmente eu votarei nele para o governo no segundo turno, baseado num programa e em princípios ideológicos. Quais foram esses princípios? Basicamente os da ética social. Eu faço oposição frontal ao governo Michel Temer. Não faria qualquer aliança com Valadares Filho se houvesse qualquer alinhamento dele com Michel Temer. Mantendo, portanto, esse nosso pacto político, não vejo porque não votar no PSB no segundo turno. 

Aparte - O senhor tem algum tipo de queixa do PSB nesta eleição? 
HC -
Eu diria que esta campanha foi atípica, com cada um por si e Deus por nós. Ficou claro que acabei não me beneficiando com a votação que o PSB, através do senador Valadares, teve no interior do Estado – e repito que a expressividade da minha votação na capital considero fruto do meu próprio trabalho e da minha imagem frente aos aracajuanos. 

Aparte - Para a eleição da OAB, o senhor acha melhor reassumir a Presidência ou deixar Inácio Krauss no comando?
HC -
Eu ainda estou em fase de avaliação do cenário da eleição da qual acabo de participar. Do processo eleitoral da OAB, admito que estou completamente à parte. Alheio. Mas vou retornar porque quero cumprir o mandato para o qual fui eleito e ao qual a advocacia me confiou. Mas terei uma conversa com o presidente interino, quero ouvir mais dele sobre seu projeto, como está a gestão durante estes três meses em que estive fora e o que ele compreende do processo eleitoral da Ordem. Acho que a advocacia precisa cada dia mais se unir para se fortalecer, e o que eu puder fazer por isso nesse processo eleitoral, farei. Vamos fortalecer as nossas pautas em torno da nossa classe, para que a OAB possa continuar forte, com credibilidade para se inserir no contexto social - por tudo isso eu vou contribuir. 

Aparte – Qual o seu conceito para as candidaturas de Carlos Augusto Monteiro Nascimento e Arnaldo Machado? 
HC –
Bom, por estar completamente alheio, não tenho conceito algum. Eu não tinha como estar numa campanha olhando para uma outra. Eu não sei quais são as posturas e nem as propostas que nos candidatos estão colocando para a advocacia. A partir desse minha volta eu vou analisar tudo com mais calma. 

Aparte - O senhor sente um caráter de revanche à sua pessoa na candidatura de Carlos Augusto Monteiro Nascimento?
HC -
Eu sinto uma certa estranheza, porque em 2015, na minha candidatura por um terceiro mandato, o Carlos Augusto não me apoiou - embora eu tenha apoiado ele nas duas eleições dele, ele tenha sido meu tesoureiro e éramos amigos muito próximos - exatamente porque dizia ser contra a um terceiro mandato. Agora, é de estranhar ele querer ir para um terceiro mandato. 

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