Aparte
OPINIÃO - Antes que a morte os separe

[*] Adalberto Vasconcelos Andrade 

Fala-se muito em sexo, mas as pessoas estão procurando mesmo são as relações. Não é à toa que mais de um milhão de pessoas casam por ano no Brasil. Segundo o IBGE, no ano de 2016 foram realizados 1.095.536 contratos de união formal. Mas na verdade não quero me deter ao contrato de união em si. Eu quero falar de uma das decisões mais importantes na vida de qualquer ser humano: dividir o mesmo teto e a mesma cama com outra pessoa (com as diferenças, os anseios e as neuroses) e ainda ser feliz.

A maioria dos casais vive em rota de colisão, e os desajustes começam na porta do quarto e vão além da cama. Compartilhar uma vida inteira com alguém, não é tarefa fácil. Mas é um dos desafios mais estimulantes – e de certa forma fundamental para a sua evolução afetiva e sexual. O sexo tem uma importância vital na vida a dois. Para Sigmund Freud, pai da psicanálise, o amor nasce da sexualidade, mesmo que não se reduza a ela. Mas é importante lembrar que os conflitos conjugais mal resolvidos se estendem para outros aspectos da vida do casal, e o primeiro sinal é a falta de desejo - de um ou de ambos.

Assim como o beijo, o sexo serve de parâmetro para ver como anda o relacionamento. Se a vontade de beijar ou de transar nunca aparece, é um sinal de que a paixão que sentiam um pelo o outro começou a declinar e o desinteresse sexual vai junto. O problema de muitas uniões é que, hoje, as pessoas se aproximam mais em função da aparência ou da atração física, sem nunca chegarem a se conhecer de verdade. Elas apenas ficam. É preciso descobrir e investir no que o outro tem de melhor. É a beleza interior que mantém acesa a chama da paixão e o interesse pelo outro.

Freud começou a falar das questões do amor e da sexualidade no início do século XX, mas foi a partir da década de 60 que psiquiatras e psicólogos se puseram a pesquisar como o amor afeta o relacionamento entre as pessoas e a sexualidade. As mulheres talvez tenham uma facilidade maior de se envolver afetivamente. Um estudo realizado pelos psicólogos americanos Susan e Clyde Hendrick concluiu que os homens são muito mais influenciados pelos atrativos físicos na escolha das parceiras. Já as mulheres se revelaram muito mais racionais e ponderadas. Elas se interessam pelos aspectos essenciais a ponto de avaliar antecipadamente se o homem seria um bom companheiro, um bom amigo, um bom amante e até um bom pai.

Para o saudoso sexólogo paulista Moacir Costa, “mesmo que a união tenha nascido de uma intensa atração física, ao longo dos anos pode se transformar num amor baseado na amizade, onde o sexo tem grande importância, mas não é o único fator de sustentação. O amor maduro consegue conviver bem até com as flutuações da sexualidade, que alterna períodos de intensa paixão com outros em que o desejo é menor. Por outro lado, o sexo pode ser prazeroso mesmo na ausência do amor, em virtude da forte atração física, mas não resiste ao tempo pela falta de envolvimento emocional”, conclui. Um exemplo conhecido dessa falta de envolvimento é o de casais que não se beijam há tempos, exceto o selinho na chegada ou despedida para o trabalho. Alguns até evitam programas a sós pelo fato de não ter muito que conversar. Às vezes nem brigam, são bons amigos e a relação entre eles bastante fraternal.

Muitos passam meses sem ter relação sexual e quando um deles reclama, o ato acontece, mas de forma mecânica, sem emoção e até sem prazer. O fato é que ninguém é obrigado a permanecer grudado a outra pessoa pelo resto da vida só porque assinou um papel, prometeu perante o altar ou porque divide a mesma cama. Todo mundo tem o direito de errar, mas permanecer no erro ou se acomodar é o mesmo que desistir de ser feliz. Se a convivência está difícil, se a relação fracassou ou o romance perdeu o encanto, ainda resta à separação como última alternativa.

Como bem disse o poeta Vinicius de Moraes, “que o amor não seja imortal, posto que é chama; mas que seja infinito enquanto dure”. Sei que a instituição casamento nunca vai se acabar. O que acabou foi à ideia de felizes para sempre ou até que a morte os separe.  

[*] É administrador de empresas, policial rodoviário aposentado e escritor. Este texto e mais seis outros da mesma linha de afetividade humana e da autoria dele serão publicados nesta Coluna Aparte como forma de homenagem ao Mês dos Namorados.

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