Aparte
Opinião - Bolsonaro, os cavaleiros do Apocalipse e o quarto selo aberto pela mídia brasileira

[*] Gerlis Brito

Antes de mais nada, ou de tudo, este texto trata de política e dos meios de comunicação com todas as suas idiossincrasias - seus modus operandi na República do inocente e crédulo povo brasileiro. Porém, antes de tratar destes temas, vamos relembrar uma passagem bíblica que vem a calhar neste momento difícil, temeroso e inescrutável que vive o planeta.

O texto bíblico diz assim: “E, havendo aberto o quarto selo, ouvi a voz do quarto animal, que dizia: Vem, e vê. E olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o inferno o seguia; e foi-lhes dado poder para matar a quarta parte da terra, com espada, e com fome, e com peste, e com as feras da terra...”, Apocalipse 6:7,8.

De fato, mesmo aos cristãos acostumados ao manuseio dos textos bíblicos, a passagem parece inverossímil por ser composta por simbolismos e figuras de linguagem que se distanciam do mundo real para transportar-se para uma dramática cena narrada pelo apóstolo João, quando este estava recluso na ilha de Patmos localizada na extremidade Leste do Mar Egeu na costa Sudoeste da Turquia, decorrente das revelações que obteve por intermédio de um anjo vindo da parte de Jesus Cristo.

A questão da fé não será levantada aqui, mas ao que parece, a narrativa se impõe com força para o momento atual. Apocalipse é uma palavra grega e significa “revelação”. Pois, na mídia brasileira, um assombroso surto de notícias que mais se assemelha a uma revelação apocalíptica, tem permeado os noticiários diários, sobretudo os da Rede Globo, do Uol, da Folha de S. Paulo, do Estadão, da Veja, da IstoÉ, e de outras revistas e sites brasileiros que não deixam por menos.

A imprensa, chamada de o quarto poder, abriu o quarto selo apocalíptico. E este poder pode manipular, desinformar, utilizar técnicas de reengenharia social, lavagem cerebral, dissimulação persuasiva, se apropriando de imagens e discursos que repetidos à exaustão tem a capacidade de imprimir na mente da população o medo dantesco das cenas de horror provocadas pela pandemia originada pelo coronavírus - Covid-19.

As cenas retratadas das mortes e contaminações em países como Itália, Espanha, França, EUA, China e outros que estão sendo castigados pela letalidade do vírus, dominam em alguns jornais televisivos todo o tempo da apresentação. Assim tem sido no de maior audiência televisiva do país, o Jornal Nacional, além de num programa chamado de Combate ao Coronavírus levado ao ar às 10:00h da manhã pela Rede Globo, momento em que as pessoas em quarentena nas suas casas assistem estarrecidas às informações que a emissora quer divulgar e que irá ficar martelando na cabeça dos telespectadores associadas a conversas e impressões que as pessoas vão tendo ao longo de suas estadas em regime de confinamento.

A Itália, país de clima frio e população idosa (a mais longeva da Europa e a segunda mais velha do mundo depois do Japão), que tem servido de comparação por ter sido tomado pelos efeitos letais do vírus, sofre uma calamidade em termos de saúde pública e durante o JN do dia 26/3 foi apresentada em reportagens que mostravam caixões enfileirados e pessoas em macas hospitalares por mais de dez minutos intercalando notícias de outros lugares.

Curiosamente, o jornal assistido pela maioria dos brasileiros no horário de seu descanso (que nestes dias vem se confundindo com a condição de reclusão domiciliar forçada) não mostrou durante o tempo de sua apresentação nenhuma - sequer uma - notícia de curas e melhoras apresentadas por pacientes em diversos países da Europa e na própria China e que já está sendo divulgada por outras redes de televisão, a exemplo da Rede Record.

Obviamente, esta forma de atuação não causa estranheza ao observador atento e conhecedor dos artifícios rotineiros usados pelos editores da comunicação midiática. Durante o jornal, críticas indiretas ao modo como o governo vem conduzindo os esforços para minimizar a propagação do vírus e também a resposta dada à questão da economia que se mostra como um problema que crescerá na medida em que os dias passem e a atividade econômica não retorne à sua normalidade, vão sendo feitas de modo a associar todos os problemas ao nome do presidente e não a uma causa contingente e inesperada que é uma pandemia originária na China e não no gabinete presidencial do Palácio do Planalto. O desfecho será a descredibilidade nos esforços do governo, precisamente o descrédito à imagem de liderança do presidente, esperada pelo público e necessária para enfrentar momentos difíceis na administração do país.

O jornal mostrou durante cinco minutos e trinta segundos (para um jornal que tem a duração média de cinquenta minutos, isto equivale a dez por cento do tempo do seu tempo, uma eternidade em termos televisivos no horário nobre) a fala do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, como se fosse ele o líder capaz de resolver os problemas que esperam solução rápida para mitigar ou suprimir os malefícios que a pandemia possa causar à nação.

Sorrateiramente, o jornal veiculou a ideia de que o presidente Bolsonaro não está cumprindo as determinações da OMS - Organização Mundial da Saúde -, no combate ao vírus e na preservação da massa popular exposta à contaminação e aos efeitos nocivos impostos pela ação do agente viral. Uma imprensa assim, faz ela mesma o papel de oposição aguerrida, porém dissimulada, ao governo, passando-se por cumpridora da isenção que deve ser uma inerente e inexorável premissa da ética jornalística, pilar de uma democracia fortalecida pela livre expressão dos meios de comunicação.

Há uma famosa frase erroneamente atribuída ao escritor George Orwell, originalmente dita por William Randolph Hearst, que aponta que “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. No caso da imprensa lacradora nacional, é publicar aquilo que interessa menos a sociedade do que a um grupo específico atuante na luta pelo poder e suas conveniências que favorecem exclusivamente àqueles que detêm o quarto poder nas mãos.

As ações implementadas pelo governo foram noticiadas de forma rápida e sem abordagem que propicie ao telespectador o julgamento adequado do volume de recursos e esforços que estão sendo destinados para o combate a pandemia. Façamos uma consideração importante: o governo Bolsonaro reduziu drasticamente o volume de dinheiro gasto em publicidade, isto afetou as contas e a rentabilidade de várias empresas do ramo de comunicações, sobretudo do Grupo Globo e de outro grupo superimportante no setor, o Folha, detentor de canais como o site UOL e a própria Folha de S. Paulo.

Logo a resposta vem como ataques que antes velados, agora são explícitos, demonstrando por parte destes veículos total parcialidade no modo como operam seus negócios e divulgam notícias. Voltemos um pouco no passado e relembremos janeiro de 2003 quando Lula assumiu o Governo do Brasil. Naquele momento, pensava-se e era propagado pelo PT e por toda a esquerda que a mídia não daria trégua ao novo chefe do Planalto.

Entretanto, a equipe de Lula em parte composta por José Dirceu (a eminência parda do governo), Palocci (o tesoureiro), José Genoíno (o articulador político), Franklin Martins (o comunicador) - este era o núcleo duro do governo petista - tratou logo de cooptar a imprensa inimiga de outras datas, ofertando a ela dinheiro farto por meio de contas publicitárias gordas e bem abastecidas pela União, órgãos da esfera federal, estatais e paraestatais.

A mudança de tom foi total. Vimos elogios à condução do governo e sobretudo uma exaltação que beirava ao puxa-saquismo de Lula enaltecendo dons e capacidades “nunca antes vistos na história deste país”. Era Lula incensado como o presidente que despontava como desbravador de um novo tempo de prosperidade para população brasileira e líder mundial homenageado nas universidades de ponta da Europa com títulos de doutor honoris causa. O apedeuta glorificado pela imprensa que antes o chamava de sapo barbudo.

Bem, não é preciso dizer que pagando, tudo se torna bem mais fácil na terra da hipocrisia travestida de cavalheirismo jornalístico. Bolsonaro (Ele não. Fascista!)? Não paga. Recebe o que lhe é “merecido” por não saber que afrontar o quarto poder é ofensa imperdoável, mais ainda quando a deixa à mingua. Que absurdo este tipo de incompetência e falta de liderança, não? Os bebês choram por faltar-lhes mamadeira, mas não são só eles. Tem também os cavaleiros do apocalipse: a turma do centrão, a esquerda, e também de forma bastante peculiar, os governadores.

Esta semana vimos os governadores dos Estados, “liderados” por João Dória, governador de São Paulo, fazerem uma reunião sem a presença de Bolsonaro para pedir dinheiro e a suspensão do pagamento da dívida dos Estados com a União, e claro, reclamar que não são atendidos nos seus pleitos e que falta ao Governo Federal (ao presidente Bolsonaro, leia-se), coordenação e liderança para administrar a crise que prenuncia se instalar assim que mais casos do coronavírus forem contaminando as pessoas e a economia.

A reunião teve como interlocutor o nobre e misericordioso presidente da Câmara dos Deputados, o Sr. Rodrigo Maia, que ao que parece já incorpora o cargo de Primeiro Ministro da República das Bananias. O objetivo, evidente, por óbvio que é: enfraquecer a imagem do presidente Bolsonaro e logo mais a imprensa maltratada pelo “desagregador inconsensual” colocar a culpa da crise econômica que está sendo gestada por ações contra a liberdade dos indivíduos e das empresas de exercer o comércio, fechando quase tudo que gera renda e emprego no país, na conta do governo (Bolsonaro), “que aí está e não faz nada” para conter a grave ameaça do vírus letal que dizimará (matará com crueldade a todos) a população que ousar sair de casa. Os cavaleiros que governam os Estados montaram no cavalo amarelo e derramam a taça da sua ira contra o presidente, justamente na vida privada e na capacidade de trabalho e renda da população.

Para mencionar em poucas linhas a atuação do governo, vamos elencar apenas algumas ações já em execução. Destinação de R$ 147,3 bilhões para combate ao coronavírus, dinheiro que irá para os Estados, Municípios e Ministérios envolvidos diretamente com os trabalhos; Suspensão das metas de superávit fiscal (resultado primário das contas públicas da União) previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal com autorização do Congresso para gastos acima do teto permitido na lei.

Diferimento para o recolhimento do FGTS por parte dos empregadores (governo vai arrecadar menos R$ 30 bilhões com a medida); Diferimento por parte da União do Simples Nacional por três meses; Liberação de linhas de crédito pelo Banco do Brasil no valor de R$ 24 bilhões para pessoa física e de R$ 48 bilhões para empresas; R$ 40 bilhões para firmas pequenas e médias pagarem salários, R$ 600,00 por mês até o término da pandemia aos autônomos sem condições de renda; R$ 3 bilhões para mais inclusões de famílias no programa Bolsa Família; Ações emergenciais de construção de hospitais de campanha e ajuda financeira para compra de equipamentos e acessórios para supressão e mitigação das consequências causadas pela disseminação e contaminação pelo vírus; Ações de fortalecimento da infraestrutura de portos e aeroportos para sustentabilidade de logística de abastecimento das cidades; e outras que estão previstas no plano de ações de governo com a decretação de calamidade pública até o dia 31 de dezembro de 2020. (Fonte www.gov.br; site da Presidência da República/Planalto).

Bem, mas a mídia isenta e ética, até que noticia estas ações, publicando-as, num pedacinho pequeno dos horários de jornais televisivos com chamadas e títulos ditos de forma triste e pesarosa como se as ações fossem de menosprezo à população; os sites e jornais também separam nas suas páginas um cantinho no canto inferior direito da vista do leitor, um pequeno espaço onde a notícia é dada em pouquíssimas linhas, com um ar pesaroso e sempre com um “mas”, um “porém”, um “todavia”...; qualquer notícia que possa evidenciar comprometimento, eficiência e competência do governo e sua equipe é invertida ao ponto de o leitor, ouvinte ou telespectador, não encontrar nada que possa justificar um pequeno regozijo com o governo “antidemocrático, fascista, xenófobo e desequilibrado” que opera no nosso país. Notem que as qualificações remetem a um indivíduo e não a entidade governamental constituída de um governo eleito por 57 milhões de brasileiros com legítimo sufrágio universal apurado e legitimado nas urnas em 2018.

Há poucos dias um porta-voz menor do PT estadual/nacional, em artigo publicado pelo Portal JLPolítica, acusou o presidente de cometer crime de responsabilidade (sem mencionar qual e quando), de ser um psicopata, irresponsável, sem condições de liderar um país continental que é a maior democracia dos trópicos, de não ter autoridade política e ética para governar, de tentar derrotar os “setores democráticos” (os dele e do partido que ele representa), de ser medíocre e promover um governo desastroso, de ser um entreguista neoliberal, de se eximir de qualquer culpa pelo fracasso do seu governo e de eleger inimigos públicos como é o receituário clássico do nazifascismo, de ser inspirado por Donald Trump (que maldade daquele homem do cabelo cor de fogo que está fazendo a América grande de novo) etc. Puxa, pensei que não ia acabar!

O talentoso, virtuoso e quixotesco político de esquerda, que pertence ao partido que é um exemplo de ética e capacidade (vide mensalão, petrolão, fundos de pensão de estatais, associações sindicais financiadoras de empreendimentos imobiliários onde o dinheiro dos associados some), repleto de criminosos condenados pela justiça, uns cumprindo pena e outros soltos pelas bondades legais sustentadas e deferidas a criminosos pela nossa corte maior, se usar a régua com a qual mediu Bolsonaro para medir Lula, o poste Dilma e a tentativa Haddad, vai ser uma vergonha, um desterro da terra da vergonha na cara, um valha-me Deus! Desculpe aí viu.

Bolsonaro foi eleito para ser quem é, dizer o que diz, fazer o que faz e ser admirado pela atitude antipoliticamente correta com que trata os adversários e a imprensa lacradora deste país. País que não suporta mais a hipocrisia educada e canalha dos seus políticos e militantes de esquerda. O povo, do qual a esquerda está muito distante porque é um povo conservador, chama a isto de “mitar”.

É o povo, do qual Bolsonaro é representante, que conferiu a ele esta liberdade e o empossou presidente da República. Isto foi feito pela maioria dos eleitores brasileiros que, penso, discorda (para o bem e a saúde financeira da nação) um pouquinho do senhor. Não sei..., mas acho mesmo que lhe faltou um senso de autojulgamento para passar o seu partido e alguns dos seus “cumpanheiros” na peneira da honestidade, tanto política quanto intelectual. Uma lástima!

Winston Churchill, grande estadista inglês do século passado, disse que “um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado”. Bolsonaro não dá ração a crocodilo e nem alimenta jacaré. E o povo sabe e gosta disso. “Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir”, George Orwell. Em boa hora, o apocalipse que pregam, estes incircuncisos, não acontecerá.

[*] É professor da Universidade Federal de Sergipe e fundador do grupo Conservadores Sergipe.