Aparte
Opinião - A (in)visibilidade da Praça da Imprensa

[*] Eliano Sérgio Azevedo Lopes

Sabe aquela história de pessoas que enxergam, mas não veem o que se passa ao seu redor? Ou que olham para as coisas que lhes cercam com aquele “olhar bovino”, alheios a tudo o que se apresenta aos seus olhos, como se fossem cenas e paisagens amorfas, sem vida?

Pois bem, é essa a imagem que me vem à mente ao constatar, como observador privilegiado (por morar em frente a ela), as condições materiais à Praça da Imprensa, aquela pracinha tão graciosa e sua flagrante “inutilidade” enquanto espaço público de lazer e descanso para os moradores de suas imediações e para as pessoas que por ela passam diariamente.

Acho que se a Praça da Imprensa falasse estaria se perguntando o porquê de seu abandono e de sua invisibilidade, tanto pelo poder público municipal quanto pelos moradores do bairro.

No primeiro caso, principalmente pelo péssimo estado dos equipamentos de lazer ali existentes - mal cuidados, a necessitar de reparos e pintura - e pela inexistência de aparelhos simples de ginástica para que os idosos possam se exercitar, tal como existe na Praça Tobias Barreto, em frente à Igreja de São José, por exemplo.

Quanto a nós, os moradores do bairro, parece que a visão pequeno-burguesa e individualista que guiam nossas ações e moldam o nosso comportamento social nos leva a optar por ficar presos ao espaço restrito dos condomínios, com parquinho e quadra de esportes particulares, quando bem em frente - ou próximo a eles - toda uma estrutura pública de lazer está à disposição.

Ao invés de pressionarmos a prefeitura e os comerciantes que ali têm seus bares e restaurantes para manter e conservar a praça limpa e bem cuidada, com equipamentos decentes para as crianças, jovens e idosos, adotamos uma postura cômoda: enclausuramos os filhos, os netos e os idosos nas áreas internas dos condomínios, e negamos uma socialização mais ampla que, certamente, a convivência com outras pessoas na pracinha proporcionaria.

Dando contorno final essa situação, a própria imprensa - que dá nome à Praça - nada faz para que o local se torne efetivamente um espaço vivo, onde as pessoas possam relaxar (como gosta de dizer a minha netinha Bia, nos seus três aninhos de vida) e se exercitar, e as crianças possam correr, brincar e gastar um pouco da sua energia inesgotável - própria dessa fase da vida -, além de fazer novos amiguinhos.

Para não ficar apenas nas críticas e lamúrias, tomo a liberdade de apontar algumas sugestões à Prefeitura de Aracaju, que implicam medidas simples que poderiam ser tomadas:

1 - Colocar lombadas no início e no final do trecho das avenidas Acrísio Cruz e Guilhermino Resende, que delimitam a área da Praça da Imprensa.

2 - Retirar a placa de sinalização vertical fincada na calçada da praça, que permite uma velocidade de até 60 km, substituindo-a por outra que tenha 20 km como limite máximo, naquele trecho que corta a Praça da Imprensa.

3 - Recuperar os brinquedos do parquinho, já existentes, consertando-os e dando-lhes um aspecto de limpeza e de beleza, com uma nova pintura.

4 - Instalar equipamentos para exercícios físicos, próprios para as pessoas idosas, iguais aos que foram colocados na Praça Tobias Barreto, em frente à Igreja São José.

5 - Recuperar e pintar os bancos já existentes e instalar outros mais – novos e confortáveis.

6 - Aumentar o número de lixeiras, colocando-as em pontos estratégicos da pracinha.

7 - Retirar a faixa amarela ao longo das Av. Acrísio Cruz e Guilhermino Resende, que proíbem o estacionamento de veículos no local.

É surreal uma praça pública onde não se pode deixar o carro ou outro veículo estacionado para poder desfrutar dos equipamentos de lazer que ela oferece.

Os comerciantes locais poderiam “bancar” a aquisição de tintas e outros materiais necessários à recuperação e pintura dos bancos e lixeiras já existentes, quem sabe, até, a ampliação de tais equipamentos, com a instalação de novos bancos.

Os moradores e/ou frequentadores da praça poderiam contribuir com a mão de obra, participando em mutirão da pintura dos bancos, balanços e outros equipamentos de lazer.

Finalmente, os veículos de imprensa, através de seus órgãos de representação de classe - sindicatos dos jornalistas e dos radialistas -, poderiam contribuir ao convocar os moradores do bairro e os comerciantes locais a participarem desse esforço coletivo, através de uma campanha veiculada em programas de rádio e televisão.

Se é verdade que se quer, de fato, fazer de Aracaju a capital da qualidade de vida, por que não começar ou dar sequência ao que já vem sendo feito em outros pontos da cidade, não é?

A resposta está com a Prefeitura, a quem compete dar o pontapé inicial, convocando moradores interessados, comerciantes locais e representantes da imprensa para dar corpo à materialização da ideia.

[*] É doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ, professor aposentado na UFS e avô da Liz e da Bia.

 

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