Aparte
Opinião - O cavaleiro das trevas e os bufões da classe média

[*] Eliano Sérgio Azevedo Lopes

Quando, em 2016, a professora Marilena Chauí chamou a classe média de idiota, “uma abominação política porque fascista, uma abominação ética porque violenta, e uma abominação cognitiva porque ignorante”, muitos caíram de pau em cima dela.

É óbvio que não dá para generalizar, porém, a carapuça cai muito bem naquela parcela da classe média antipetista e/ou contra o “sistema”, que ajudou a eleger uma figura asquerosa, antidemocrática, grosseira e incompetente como Jair Bolsonaro.

Deputado federal inexpressivo, integrante do “lúmpem baixo clero” por quase três décadas, foi alçado ao maior posto de comando do país, fundamentalmente, pela crise econômica marcada pelo desemprego de mais de 13 milhões de brasileiros e pela crise política do Petrolão e da JBS-Temer, para ficarmos apenas nesses dois exemplos.

Pois bem, a eleição do Bolsonaro, dois anos depois, e o comportamento que ele tem tido à frente da Presidência do Brasil, com o entusiástico aplauso de grande parte da classe média, mostrou o quanto de verdade continha aquela frase da Chauí.

De um lado, foi bom, porque as máscaras caíram, e aqueles extremistas de direita, até então envergonhados, saíram à luz do dia a vociferar contra o pensamento progressista e inclusivo que parecia ser o norte que o Brasil continuaria a seguir.

De outro, ficou patente a ojeriza e o enorme preconceito de classe e de origem que tem essa turma a todos aqueles que não sejam das “elites”, o “povão” e ousam querer ascender a posições na escala social que rompam com a submissão a que historicamente estiveram presos por laços de opressão ou de servilismo às chamadas classes dominantes.

É sobejamente conhecido que quem elegeu essa figura grotesca para presidente do Brasil foram os ricos e os com maior nível de instrução (os analfabetos funcionais com curso superior, em sua maioria), seguidos de um balaio de gatos formado por idiotas cuja concepção de mundo é construída pelas notícias e fatos postados nas redes sociais, que não leem livros nem consultam fontes jornalísticas confiáveis.

O trágico é que, nesse “balaio de gatos” de bolsominions da classe média, que babam com os impropérios, mentiras e a falta de um mínimo de educação e civilidade do troglodita chamado Bolsonaro, estão pessoas que até pouco tempo viviam na mais extrema pobreza e que saíram dessa situação graças às políticas sociais e inclusivas dos governos do PSDB e do PT.

São trabalhadores rurais e urbanos, pequenos produtores rurais, pequenos e médios comerciantes e empresários que, nas últimas duas décadas, tiveram acesso à casa própria, a educação, saúde, oportunidades de trabalho ou cujas políticas de geração de emprego e renda ajudaram a alavancar seus negócios.

Políticas essas que mudaram para melhor as suas condições de vida e de renda e que agora, ao virarem a “casaca”, cuspindo no prato que comeram, demonizam os governos que permitiram aos de “baixo” sonharem com um futuro melhor e serem vistos não mais como cidadãos de segunda classe, e sim como atores importantes, sujeitos de sua própria história na construção de um país com maior equidade e justiça social.

Tristes tempos em que vivemos, onde para o presidente e seus lacaios não existe fome no Brasil, os 13 milhões de desempregados não passam de notícia falsa, o crescimento vertiginoso do desmatamento e das queimadas na Amazônia são coisas de ongueiros, o terraplanismo e outras sandices negam o conhecimento da ciência, tudo isso num cenário de ópera bufa que, infelizmente, não só atinge a imagem do país no exterior como fere profundamente o coração do povo brasileiro e sua esperança em um futuro melhor. 

Mais uma vez, o medo venceu a esperança e teremos que lutar para sobreviver durante os poucos mais de três anos que faltam para o término dessa tragédia provocada por uma ditadura eleita, comandada por Bolsonaro e seus generais de pijama.

Tristes trópicos, diria o filósofo francês Claude Lévi- Strauss. E a Amazônia chora com mais uma violência praticada contra ela, digo eu, um rondoniense que escolheu Sergipe, há mais de 30 anos, para criar seus filhos e netas

[*] É doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ, professor aposentado na Universidade Federal de Sergipe - UFS - e avô da Liz e da Bia.