Aparte
Opinião - Meu encontro com Estácio Bahia Guimarães

[*] Jorge Carvalho do Nascimento

Em 1995, quando voltei a viver em Aracaju, depois de um estágio que cumpri durante dois anos pesquisando na Universidade de Frankfurt, na Alemanha, uma das primeiras visitas que fiz foi ao meu amigo Luiz Antônio Barreto. Ele vivia a plenitude da sua carreira de intelectual, jornalista e gestor público. 

Ocupava o cargo de secretário de Estado da Cultura (logo depois, deixaria a Secretaria da Cultura para assumir a Secretaria de Estado da Educação) e era um dos nomes mais destacados dentre os membros da Academia Sergipana de Letras. Foi no gabinete de Luiz Antônio que conheci Estácio Bahia Guimarães. 

Um gordinho leve, simpático e de uma conversa que nos remetia à vida boêmia de cidades como Salvador e Brasília, que falava da vida como professor na Universidade Católica de Salvador e de reminiscências e curiosidades sobre a política baiana. 

Mas, os olhos de Estácio brilhavam e ele ficava aceso quando o assunto descambava para o cultivo de flores (principalmente as orquídeas), a literatura, a poesia e as artes plásticas. Eram as suas paixões. Ninguém imaginava estar diante de um homem formado em Administração de Empresas pela Universidade de Brasília – UnB -, nem de um bacharel em Direito graduado pela Universidade Federal da Bahia. 

Muito menos de alguém que se especializara em Engenharia da Produção pela Escola de Organização Industrial, em Madri, na Espanha. Um jornalista profissional com atuação na imprensa da Bahia, além de ostentar uma bem-sucedida carreira docente de professor universitário, tendo sido vice-diretor e diretor da Escola da Administração da Universidade Católica de Salvador – UCSAL -, onde atuou nos Conselho Universitário, de Editoração e de Auditoria. Onde foi também superintendente Administrativo e Financeiro, vice-reitor e por duas vezes integrou a lista tríplice para escolha do reitor da instituição. 

Nos tornamos amigos, sempre discutindo questões em torno da literatura e das artes. No ano 2000 conheci de perto a sua generosidade. Luiz Antônio Barreto lançou meu nome como candidato à Cadeira 34 da Academia Sergipana de Letras, vaga decorrente do falecimento da acadêmica Núbia Marques. 

Outros acadêmicos fizeram Estácio candidato na mesma vaga. Um dia, Luiz Antônio me convidou para ir à casa de Estácio conversar com ele sobre a possibilidade de um dos dois retirar a candidatura e aguardar uma outra vaga. Estácio, logo no início da conversa, afirmou: “tem pouco tempo que eu vivo em Aracaju. Você está muito mais enraizado que eu na cultura sergipana. A vaga é sua”. 

E retirou a candidatura. Um ano depois, em 2001, votei em Estácio para ocupar a vaga da Cadeira 29, decorrente do falecimento do acadêmico Luiz Rabelo Leite. Artista plástico e poeta detentor de muitos prêmios e homenagens. Membro de Academias: a Sergipana de Letras, a Sergipana de Educação, ABROL e a de Letras de Aracaju. 

Membro do Rotary Club de Aracaju-Norte, do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e da Associação Sergipana de Imprensa. Premiado pelos seus trabalhos como poeta, escritor, artista plástico e jornalista em Aracaju, Salvador, Brasília, Feira de Santana, Rio de Janeiro e São Paulo. Autor de seis livros. Estácio Bahia Guimarães partiu para a eternidade, mas fica imortalizado entre nós pelo registro dos seus trabalhos, pela obra que soube nos legar.
  
[*] É doutor em Educação, jornalista profissional, membro da Academia Sergipana de Letras, presidente da Academia Sergipana de Educação e professor aposentado da Universidade Federal de Sergipe.