Aparte
Irmã Dulce dos Pobres: a santa dos nossos corações

[*] Dom João José Costa

A religiosa baiana Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes (1914-1992), ou Irmã Dulce, será canonizada no próximo domingo, dia 13, em celebração presidida pelo Papa Francisco, no Vaticano. Irmã Dulce torna-se, pois, a primeira mulher nascida no Brasil a ser canonizada.

Em fevereiro de 1933, logo após a sua formatura como professora, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe.

Ao receber o hábito de freira das Irmãs Missionárias, ela adotou o nome de Dulce, em homenagem a sua mãe, que falecera aos 26 anos de idade, quando a menina tinha apenas sete anos. Dulce foi beatificada pelo Papa Bento XVI no dia 10 de dezembro de 2010, passando a ser reconhecida com o título de “Bem-Aventurada Dulce dos Pobres”.

Como diz uma das várias músicas compostas em sua homenagem, Dulce é “o Anjo Bom que a Bahia batizou” e a “doce Irmã que Sergipe consagrou”. A composição é de Theotonio Neto. Além de ter iniciado sua vida religiosa em terras sergipanas, aqui foi o cenário para a realização do primeiro milagre atribuído à intercessão de Dulce, que culminaria na sua beatificação.

A canonização de Irmã Dulce será a terceira mais rápida da história recente da Igreja Católica, a partir da data da morte: 27 anos, contra 19 anos no caso de Madre Teresa de Calcutá e nove anos no de João Paulo II. 

O segundo milagre atribuído a Irmã Dulce e reconhecido pelo Vaticano foi a cura instantânea da cegueira de um maestro que hoje está com 50 anos. Maurício Moreira conviveu com a cegueira durante 14 anos e voltou a enxergar de forma permanente desde 2014.

A cura teria acontecido no dia em que ele estava com uma conjuntivite e com dores agudas nos olhos e clamou a Irmã Dulce por uma solução, que lhe fizesse ter de volta a visão. No dia seguinte, ele teria voltado a enxergar. A intercessão da beata foi imediata. E Deus atendeu ao seu apelo.

“Não tinha explicação. Era um paciente que estava cego e que, de um dia para o outro, volta a enxergar, sem explicação”, afirma Sandro Barral, médico das Obras Sociais Irmã Dulce e que foi perito inicial da causa.

Antes de ser encaminhado para Roma, o caso foi analisado por oftalmologistas de Salvador e de São Paulo, que examinaram pessoalmente o paciente e não encontraram explicação para a cura.

O milagre foi avaliado por uma comissão de médicos em Roma, que também não encontraram explicação científica para o acontecimento. Na sequência, o caso foi analisado por uma comissão de teólogos e depois por uma comissão de cardeais. 

Já o primeiro milagre atribuído à intercessão da Irmã Dulce foi reconhecido em 2001, nove anos após a sua morte, quando Cláudia Cristiane dos Santos venceu uma forte hemorragia após o parto realizado na cidade de Itabaiana, e foi curada depois que o padre José Almi de Menezes rogou pela intercessão da freira baiana em favor dela.

Depois da beatificação, a coordenação das Obras Sociais Irmã Dulce - OSID - informou que recebeu milhares de relatos de pessoas que afirmaram ter obtido graças por meio d“O Anjo Bom da Bahia”, que é também o “Anjo Bom do Brasil”. Mas cada caso deve ser avaliado por peritos e teólogos.

A Igreja Católica está em festa. O Brasil católico está em festa. A Arquidiocese de Aracaju também está em festa. Afinal, a primeira Paróquia, em todo o mundo, dedicada a Irmã Dulce dos Pobres, com a construção original de uma igreja, foi erigida na nossa capital, no bairro Aruana.

Irmã Dulce ganhou notoriedade por suas obras de caridade e de assistência aos pobres e necessitados, obras essas que ela praticava desde muito cedo. Na juventude já enchia a casa de seus pais acolhendo doentes.

Ela também criou e ajudou a criar várias instituições filantrópicas. Uma das mais importantes e famosas é o Hospital Santo Antônio, em Salvador, que foi construído no lugar do galinheiro do Convento Santo Antônio. Hoje atende diariamente milhares de pessoas. Foi uma das mais importantes, influentes e notórias ativistas humanitárias do século XX.

Suas obras de caridade são referência nacional, e ganharam repercussão pelo mundo afora. Seu nome é sempre relacionado à caridade e ao amor ao próximo. Foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz no ano de 1988 pelo então presidente do BrasilJosé Sarney, com o apoio da rainha da Suécia, porém não foi agraciada.

Em 2001, nossa Dulce foi escolhida “a religiosa do século XX”, em uma eleição que foi publicada pela revista “Isto É”. Em 2012, foi eleita dentre os 12 maiores brasileiros de todos os tempos em pesquisa feita pelo SBT, para escolher a personalidade que mais contribuiu para o país.

Exultamos, pois, com a canonização da Irmã Dulce dos Pobres, a primeira santa nascida no Brasil. Santa genuinamente brasileira. A nossa santa. A santa dos nossos corações.

[*] É arcebispo Metropolitano de Aracaju.