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Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Katarina Feitoza: pioneirismo no enfrentamento ao machismo institucional da polícia
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Katarina: \"É um posto técnico, mas político também. Então, sinto-me realizada, feliz em ocupá-lo

Bacharela em Direito, especialista em Ciências Criminais e em Gestão Administrativa, a delegada Katarina Feitoza, que hoje ocupa o cargo de delegada-geral da Polícia Civil em Sergipe, ainda enfrenta julgamentos e questionamentos em sua carreira comprovadamente bem-sucedida.

O motivo, óbvio, é o fato de ela ser mulher. Uma mulher pioneira, frise-se. Katarina ingressou na polícia através de concurso nos anos 2000 e, de lá para cá, ocupou diversos postos, na capital e no interior, até chegar, pela segunda vez, ao maior cargo dentro da Polícia Civil, excetuando o próprio secretário de Segurança Pública.

O primeiro desses cargos foi o de coordenadora das Delegacias do Interior, seguido de coordenadora das Delegacias da Capital, corregedora-geral e, daí, o posto de delegada-geral, no qual ficou por quatro anos. “Saí e fui para o Tribunal de Justiça, onde fui diretora de Segurança, depois diretora da Cogerfisp - Coordenadoria de Subsistema e Inteligência da Segurança Pública - até voltar para o posto de delegada-geral, há quase 3 anos", conta Katarina Feitoza.  

Tudo isso regado a um desafio duplo, o que os próprios cargos e a sociedade impõem a uma mulher nesse cenário. “Todos os dias me sinto desafiada. Também por ser mulher. No início, na primeira delegacia que assumi não sentia muito, mas eu era menos experiente e tinha tanta coisa nova acontecendo que não percebia o preconceito intrínseco. Mas com o passar do tempo, comecei a ver”, lembra.

Com o tempo e com os novos cargos também, pois, para Katarina, quanto mais alto o posto que uma mulher ocupa, mais criticada ela é. “Eu ocupei postos que homens tinham acabado de ocupar e percebi a diferença entre a exigência em relação a mim e a eles. A exigência é muito maior. Querem que a gente vista uma capa de mulher maravilha, que sejamos perfeitas”, critica. Aliás: querem não, exigem.

“A sociedade e a própria comunidade policial não aceitam menos que a perfeição da mulher, exigem que ela seja sempre correta, que trabalhe mais, que mostre algo novo para ser reconhecida”, ressalta. Segundo Katarina, a instituição policial em si ainda representa um ambiente predominantemente masculino. “É inóspito para as mulheres, há um preconceito velado pela forma que falamos, pelo que fazemos, pela forma como nos vestimos. Tudo é mais pesado para nós”, resume.

Katarina diz que, assim como a maioria das mulheres, se desdobra para não sucumbir a essas cobranças. E vê em sua equipe um auxílio importante nesse enfrentamento. “Procuro me cercar de pessoas competentes e leais, até acredito num trabalho em equipe, desde o escrivão até os diretores, passando pelo agente de polícia e de toda a estrutura. O segredo de ter sucesso em qualquer profissão, ainda mais dirigindo um setor, é colocar as pessoas certas no barco”, assegura.

E, no barco dela, não cabem pessoas que não entendem o poder de representatividade que há no cargo que ela ocupa. “É um posto técnico, mas político também. Então, sinto-me realizada, feliz em ocupá-lo. Amo o que faço, estaria sendo realizada também na delegacia, é de onde vim e para onde vou, mas percebo o quanto é importante ocupar esse esse espaço, representando tantas outras mulheres que sonham com isso”, destaca.

Embora reconheça esse viés político do cargo, Katarina Feitoza diz que não tem pretensão de torná-lo um trampolim para a política partidária. “Minha pretensão é só fazer parte da segurança pública, desenvolver a politica de segurança do Estado e vê-la dar certo”, define. Katarina é casada há 25 anos e mãe de um menino de 19. “Como milhões de mulheres, tenho que dar conta de tudo, de ser mãe, profissional, mulher.. e dou”.

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