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Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Opinião - Coronavírus: debate de surdos
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[*] Alessandro Vieira

A pandemia do Coronavírus Sars-Cov-2, vírus responsável pela doença Covid-19, instaurou no Brasil um verdadeiro "debate de surdos", em que as pessoas falam e postam dados repetitivos e descontextualizados nas redes sociais, gerando uma teia de conteúdos que desinforma e confunde e não colabora para vencermos a guerra da informação. 

Essa batalha de narrativas se utiliza, em geral, de vídeos e notícias antigas ou que representam opiniões isoladas. Em vez de um debate produtivo, cria-se confusão na cabeça dos cidadãos já assustados com a crise e induz-se a percepções equivocadas. É o vírus da desinformação inoculado em nossas vidas de todas as formas tecnológicas de que dispomos hoje para sair, ainda que virtualmente, do isolamento social.

No tratamento da questão sanitária, por exemplo, temos um problema de premissa. Considerando os países com dados mais consolidados sobre a pandemia, tem se destacado o exemplo da Coréia do Sul — que reagiu com o mix de testagem em massa, rastreamento e isolamento seletivo. Seria a anti-Itália. Ou a anti-Espanha. 

Não existe dúvida técnica sobre ser este o melhor caminho teórico. É bom repetir, no entanto: este é apenas um exemplo teórico a ser seguido. Quando caírmos na realidade prática que o Brasil enfrenta, esse exemplo deixa de ser factível.

Simplesmente não é possível seguir aqui a prática da Coréia do Sul, e por fatores diversos, inclusive o financeiro. Tomemos também o caso da Rússia, que vinha aqui sendo exaltado por bons resultados seguindo esse mesmo protocolo, mas que, diante de uma mudança no quadro acabou por mudá-lo para o confinamento total. Ou, para usar o tecnicismo: saiu do isolamento vertical para o horizontal. Da mesma forma, o Reino Unido adotou a quarentena depois de alguma resistência política, o que acabou por tirá-lo da galeria de bons exemplos a serem seguidos.

Essas correções de rumo acontecem quando chega o alerta aos governantes sobre a necessidade urgente de achatar a curva de crescimento do número de internados, sob pena de haver uma quantidade elevada de mortes por incapacidade do sistema de saúde de fazer frente a todos esses casos.

Encontrar um caminho que garanta a proteção das vidas, dê segurança física e alimente os mais vulneráveis e ao mesmo tempo reduza o impacto econômico para os trabalhadores e para as empresas (micro/pequenas/médias) é necessário. Mais do que isso, indispensável.

A falta de uma liderança nacional preparada técnica, política e emocionalmente, agrava nossa situação. As medidas já anunciadas e as que estão em gestação não são devidamente coordenadas, implementadas e comunicadas, o que gera medo e desinformação num país continental. De forma lamentável, teremos, inevitavelmente, ao final do processo, um número de mortos considerável e muitos danos à economia, com o aumento expressivo do desemprego e da dívida pública. 

É possível, no entanto, adotar um conjunto de medidas que pode reduzir significativamente este impacto, desde que tenhamos a maturidade política e institucional requerida pelo momento, além de transparência e agilidade.

Cabe às instituições assumir seu papel dentro dos limites dados pela Constituição. Legislativo e Judiciário não podem pretender substituir ou reduzir a importância essencial do Poder Executivo neste momento de crise. Mas devem viabilizar todos os meios para que as ações imediatas sejam realizadas e surtam efeito, e para que as necessárias políticas de médio e longo prazo para enfrentar a crise econômica sejam construídas, colaborando e corrigindo eventuais erros e excessos. O Executivo, por sua vez, precisa estar à altura das responsabilidades que lhe cabem no sistema presidencialista.

É no exercício virtuoso da democracia que iremos encontrar as melhores soluções - e não em sua sabotagem. 

[*] É senador pelo Cidadania de Sergipe.

Foto: Pedro França/Agência Senado 

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