Aparte
Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Eliane Aquino ocupa espaço político mais alto de uma mulher em Sergipe. E quer usá-lo bem
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Eliane: espaço privilegiado deverá ser usado para ampliar participação feminina

Eliane Aquino Custódio nasceu em Brasília em 16 de fevereiro de 1971. Filha de casal cearense, é a caçula de cinco irmãos. Repórter fotográfica por formação, foi trabalhando em assessorias do Senado e da Câmara dos Deputados que conheceu Marcelo Déda, então deputado federal.

Começava ali um triângulo amoroso entre ela, Déda e Sergipe, Estado do qual é a nova vice-governadora desde o último dia 1º de janeiro. Na mala para a “nova casa”, Eliane Aquino trouxe muita coragem, vontade de exercer a boa política, a experiência do Executivo Municipal e, claro e a posterior, respeitar o legado do Marcelo, que ela nunca chama Déda.

Tudo isso promete consagrar Eliane como uma das mulheres mais atuantes na política sergipana – aquela que ocupa o posto mais alto já o é. “Espero ter um papel atuante e não figurativo. Mas isso, é claro, depende de vontade política. Ocupar espaços de poder, seja de que natureza forem, representa sempre uma possibilidade de reflexão acerca de uma construção social secular sobre o papel que vem sendo designado historicamente para cada gênero”, afirma Eliane.

Chegar aonde Eliane chegou não é fácil. Os espaços políticos são historicamente reservados aos homens - brancos, de preferência. E Eliane sabe bem disso. “O debate acerca da representatividade das mulheres em espaços públicos se faz cada vez mais urgente. A presença da mulher em cargos eletivos acaba sendo um espelho da nossa sociedade”, observa.

Para Eliane, a lacuna histórica a ser preenchida é imensa. “O ambiente da política ainda é extremamente machista. Quando levamos em consideração que somos a maioria da população, mas temos um percentual mínimo de mulheres nos representando na política, vemos o quanto ainda precisamos avançar. Enquanto nós não enfrentarmos essa situação, continuaremos sem uma representação consolidada e nossos destinos continuarão sendo debatidos por uma maioria masculina”, alerta.

A posição da mulher, segundo Eliane, deve ser de combate. “O preconceito ainda é forte e as mulheres precisam lutar o tempo inteiro para mostrar sua competência por espaço, por igualdade de oportunidades e por respeito”, lamenta. Eliane admite que sempre gostou da política e sempre a viu como necessária, mas nunca teve como sonho ou meta de vida pleitear um mandato eletivo. “Eu acredito que a política só vale à pena quando é feita com P maiúsculo, voltada à melhoria da vida da população”, justifica.

E esse, segundo Eliane, é seu grande sonho. “Que as novas gerações de políticos consigam enxergá-la dessa forma e não sob a ótica da disputa do poder, dos espaços e da quantidade de cargos públicos para atender apoiadores. Quero atuar na política como tem que ser: com compromisso e fortalecendo a área social, num trabalho integrado e com uma construção coletiva entre vários órgãos que de fato permita, de modo planejado e estruturado, um plano de governo exercido tendo como maior prioridade as pessoas”, define.

Apesar disso, a nova vice-governadora de Sergipe reconhece ter pensado em deixar a política de lado por diversas vezes - especialmente por saber que, com a ausência física do pai, o quanto os dois filhos precisam dela. “Sempre disse que não tenho estômago para muitas coisas e nem quero vir a ter, mas a vida me colocou num desafio para ajudar o meu agrupamento e acabei entrando nos processos políticos. Agora, quero seguir trabalhando conforme o que acredito”, promete.

O que ela acredita passa, felizmente, por questões que priorizam as mulheres, os negros, os LGBTs, os pobres, nichos que Eliane Aquino coordenará para além de suas funções no Executivo estadual ao comandar um departamento específico. Essa visão social não vem de agora. Eliane mostrou ter faro apurado para esses setores desde que se viu primeira-dama do Estado pela primeira vez, em 2007.

Aliás, é público e notório que também vem de Déda, ou de Marcelo, sua maior referência na política. “O que reafirmo sempre é que tenho nele um exemplo e em sua história uma bússola. Muitas vezes me pego pensando: o que Marcelo faria nessa situação? A maior pressão vem de mim mesma, do meu desejo de seguir fazendo o melhor para honrar seu legado e continuar orgulhando minha família e a sociedade.

Com Marcelo, Eliane aprendeu, entre tantas coisas, a tratar o fazer público com muita responsabilidade, transparência e verdade; a respeitar os adversários e a jogar limpo, com lealdade e respeito; a valorizar não apenas a coisa pública, mas sobretudo o povo. A olhar nos olhos das pessoas e realmente ouvi-las, buscando entender onde, de fato, estão suas maiores necessidades e respeitando suas histórias.

“Como gestor, Marcelo também marcou o Executivo sergipano ao valorizar o planejamento e a economicidade na gestão como ferramentas primordiais para a construção de políticas públicas e obras cada vez mais eficazes. Seu olhar não era apenas para o agora. Ele gostava de pensar em como cada ação poderia reverberar na vida dos sergipanos também a médio e a longo prazo”, destaca.

Sem fazer muitos planos para o futuro - leia-se para novas eleições -, Eliane espera que a presença de uma mulher enquanto vice-governadora abra espaço para ampliar o debate acerca de como é possível mudar os modelos das relações desiguais de poder, “saindo de um caso individual para o debate de uma conquista coletiva”. Que assim seja... 

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