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Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

NOVA ALESE 16 - Dilson de Agripino: um deputado religioso que se diz empregado do povo
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Após ser prefeito de Tobias Barreto por dois mandatos, secretário-adjunto de Infraestrutura do Estado, Dilson estreia como deputado estadual

Ele tem Jesus e tem Santos no nome. Não restou a Adilson de Jesus dos Santos, PPS, o Dilson de Agripino, 59 anos, que chega à Assembleia Legislativa de Sergipe - Alese - para exercer seu primeiro mandato como deputado estadual, outra opção que não fosse a de um homem de fé. Ele diz que aporta no parlamento exatamente guiado por Deus.

“Ele vai me dar diretrizes, Vai levar-me aonde as pessoas necessitam para levar minhas reflexões espirituais”, assegura. “Meu projeto de vida é servir a Deus, servindo ao povo Dele. Acredito em Deus”, testemunha Dilson.

“Acredito que uma estrela me guiará. É como na história dos três reis magos... Eu acredito nessas coisas. Coloco-me, então, na política sem vaidades. É para mim uma missão. Peço a Deus apenas saúde para seguir nela”, afirma Dilson. Ele foi eleito deputado estadual com 18.038 votos.

O parlamentar entrou na política, justamente, através da igreja - a católica. “Sou católico. Mas muitos pensam que sou evangélico, porque veem minha agenda, que é bíblica com um evangelho para cada dia”, diz ele, aos risos.

Antes de chegar na Alese, Dilson foi duas vezes prefeito de Tobias Barreto - terra onde vive desde os sete anos - e secretário-adjunto da Secretaria de Estado da Infraestrutura - a antiga Seinfra -, no Governo de Marcelo Déda, PT. Dilson foi dos quadros do PT por muitos anos.

Eleito em outubro passado com 18.038 votos, Dilson de Agripino ficou na 19ª posição entre os 24 deputados eleitos

“EMPREGADO DO POVO”

Além de ter ficado marcado entre os tobienses, uma fatalidade, queira ou não, ajudou Dilson a chegar à Prefeitura de Tobias Barreto. “Infelizmente, uns quatro meses depois que doutor Airton assumiu, teve um acidente e ele faleceu. Aí, assumiu a vice-prefeita, Marli Barreto, que não tentou reeleição e me ajudou (na primeira eleição vitoriosa)”, relata.

Com o passar do tempo, já se aproximando das eleições novamente, segundo Dilson, o povo pediu para ele se candidatar novamente. “E fomos. Disputei com o Diógenes Almeida, que já tinha sido prefeito de Tobias. Tivemos uma avaliação muito boa e ganhamos por 6.600 votos de frente. Aí, lá vai Dilson ser empregado do povo”, informa.

Sim, o Dilson aí se autointitula empregado da população. “Depois, não me preparei para reeleição não. Fui trabalhar. Mas o povo começou a dizer: “você precisa ir para reeleição. Você trabalhou bem. Você é um bom empregado”. Então, se o povo achava, fomos. Eles renovaram minha carteira de trabalho e fui reeleito”, afirma.

Dilson com os filhos, Samuel, de 20 anos, e Talita, de 26 anos, e a neta Marina, de oito anos

PRIMEIRA ELEIÇÃO

Dilson perdeu seu primeiro pleito eleitoral. Mas, na visão dele, saiu-se na realidade vitorioso. “Nessa eleição, teríamos três candidatos. O prefeito na época, que ia para reeleição, Esdras Valeriano, e o doutor Airton. E eu surgi no plano do movimento para uma experiência”, relembra.

Ele continua o relato: “De repente, houve um problema jurídico com o doutor Esdras e ele não pode ser candidato. Aí, a coisa ficou só entre Dilson de Agripino e doutor Airton - ele que já tinha uma experiência boa como político. E eu: “Aí, meu Deus! Já que estamos aqui, então, vamos”. E perdi a eleição por 186 votos, que, para mim, foi uma vitória”, afirma.

“Eu nunca esperava. Quem é que entra na política por experiência, para o povo fazer uma avaliação da pessoa, e de cara perde por só 186 votos?”, questiona Dilson. Uma vez derrotado, ele retornou para a rotina normal. “Fui para casa, trabalhar, fazer projetos. Segui a minha vida, mas, claro, quando você já foi candidato, marca, não é? O povo não esqueceu mais”, frisa.

Dilson, hoje PPS, por anos militou no PT e foi secretário-adjunto de Infraestrutura do Estado na gestão de Marcelo Déda

MOVIMENTO DE CURSILHOS

Claro, entre tudo isso, Dilson constituiu família. Casou-se e teve dois filhos: um filho e uma filha. “É o Samuel, de 20 anos, e a Talita, de 26 anos. Filhos com a esposa que estou me separando. Ah, tenho a Marina, minha netinha de oito anos”, relata.

A política só entrou na vida de Dilson apenas há 14 anos. “Eu não tenho histórico político na família, nem de meu pai e nem de minha mãe. Tenho apenas um sobrinho, filho da minha irmã Jacira, que é vereador já por seis mandatos, se não estou enganado. Nada mais”, explica.

Dilson de Agripino relata como se deu a entrada dele na política, por meio da igreja. “Eu entrei no Movimento de Cursilhos de Cristandade da Igreja Católica, onde tem o método de ver, julgar e agir à luz do evangelho. E ali eu não gostava da política. Mas aí vieram os ensinamentos da luta de Jesus Cristo, o maior político deste mundo, onde Ele defendia os oprimidos, a todos, e principalmente aqueles que não tem vez e nem voz. Ali começou a minha história”, informa.

RELIGIÃO E POLÍTICA

“O pessoal do movimento me inseriu no núcleo da política. O Cursilho é assim: se você tem aptidões na saúde, você fica ali fazendo reuniões à noite, um dia da semana, focado nisso. Se você é comerciante, vai para grupo de comerciante, para trocar ideias da vida espiritual. Aí, colocaram-me no núcleo de política e não sei porquê, pois não gostava dela”, relata.

Dilson deixa claro que não tinha nada contra, ou qualquer aversão à política. “É que eu não tinha histórico político na família. O meu gostar não era esse. Eu tinha minha vida na roça, a liberdade enorme de trabalho”, ressalta.

Dilson começou a se envolver na política com a chegada do PT em Tobias Barreto - seu primeiro partido. “Foi logo no período de extensão do Partido dos Trabalhadores. O pessoal do Cursilho viu em mim uma aptidão para a política, viu que eu podia servir. Aí eu disse para a minha família: “Olhe, estão me chamando para entrar na política, vamos avaliar”. Foi quando eu entrei numa eleição direto para prefeito”, relata.

Dilson na época em que foi prefeito de Tobias Barreto – entre 2012 e 2016

FILHO DE ITABAIANINHA

Antes de Tobias, a vida de Dilson foi em Itabaianinha. Foi lá onde ele nasceu e viveu um bom pedaço da infância. “Nasci no dia 20 de março de 1960. Meu pai é Agripino Bernardo dos Santos e minha mãe, Odete de Jesus Santos. Nasci no interior, na roça, na comunidade Queimadinha. Meus pais também são da região, a terra dos anões”, informa.

Está claro porque traz o codinome Agripino? Aos sete anos, Dilson - que é o caçula da família - se mudou com os pais e os sete irmãos - duas mulheres e cinco homens - para Tobias Barreto. “A partir daí, fui criado lá. Completei agora 59 anos. Então, são 52 anos vivendo em Tobias”, ressalta. Que ninguém o acuse de forasteiro.

Tempos depois da mudança para Tobias, o pai de Dilson foi morar em Minas Gerais. Contudo, o agora parlamentar ficou em Sergipe. “Ele foi para a região de Salinas e levou três irmãos meus. E o restante ficou aqui na roça. Eu chamo de roça, mas o pessoal chama de fazenda, criando gado. Comecei a trabalhar foi com isso”, informa ele, que também se afastou por um período de Tobias para estudar.

TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES

Na adolescência, Dilson se mudou para a capital. “Vim para Aracaju com uns 16 anos. Fui morar em pensionato, para fazer o curso técnico em edificações na antiga Escola Técnica Federal. Depois que terminei, fiz vários cursos de aprimoramento em desenho arquitetônico lá em Campina Grande”, relata. Campina Grande é na Paraíba.

Uma vez com os cursos concluídos, Dilson foi colocar em prática sua formação técnica. “Logo voltei para Tobias e comecei a trabalhar na construção civil”, informa. Paralelo a isso, ele continuou a lidar com a atividade rural, a criação de gados – o que não é fácil em virtude da escassez de chuva na região.

“Todo mundo (irmãos) tem seu pedacinho de terra, que já vem da origem dos nossos pais. Todos nós criamos gado.  Ou seja, continuei na roça, entrei na construção civil e na área de projetos. Lá em Tobias montei uma loja de material de construção. Tornei-me comerciante da construção civil”, informa o deputado.

Dilson: “eu quero estar onde os pensamentos, os sonhos e os sofrimentos do povo estiverem”

ROÇA, MOTOS E CAVALOS

O deputado se orgulha de ter sido o único prefeito de Tobias Barreto com dois mandatos seguidos até hoje - de 2009 a 2012 e de 2013 a 2016. “Tem um fato histórico que conto sem vaidades, sem nada: é o de que nunca teve reeleição em Tobias. Fui à reeleição com um candidato chamado Popeye. Ganhamos com oito mil e poucos votos”, diz.

Após concluir os dois mandatos, Dilson acreditava que, naquele momento, havia encerrado seu ciclo na política. Mas não passou de um engano. “Eu disse: “cumpri minha missão”. Eu achava que já tinha feito a minha parte. Eu vivo a política por missão. Então pensei: “vou voltar para a minha roça, montar nos meus cavalos”. Gosto de andar de motocicleta”, relata.

Dilson faz um parêntese para contar sua história como “motoqueiro”. “Ah, comecei a viajar de motocicleta. Viagens longas, viu! Ir à encontros de motocicletas. Tenho muitos amigos desse meio. Já tive 58 motocicletas. Desde os meus 14 anos tenho moto. Agora, tenho uma KTM 400 cilindradas. Fiquei triste porque a turma estranhou quando cheguei aqui na Alese de motocicleta. E estou triste porque não estou andando nela”, relata, aos risos. As viagens políticas, o corre, corre, impede.

Dilson fez aniversário no último dia 20 de março, completando 59 anos. Na foto, na festa surpresa junto com a neta Marina

MOVIDO PELO POVO

“Então, como afirmei, disse para mim: “vou voltar a minha vida normal”. Voltei para a roça, para as motocicletas, aos cavalos. Crio mangalarga marchador. Também tenho muito amigos nesse meio. Mas o tempo foi passando, passando e povo dizendo: “você precisa voltar””, informa o deputado.

Dilson, mais uma vez, movido por desejos do povo, retornou para a política. “Tinha 24 anos que alguém de Tobias não assumia uma vaga na Alese. Aí foi aquela: muita gente pedindo, oito vereadores, lideranças. Povo dizendo: “vamos que vamos. Vamos ajudar você”. Fiz a campanha com o olhar do povo e cá estou”, afirma. Mas não só ele: Tobias Barreto lavou a alma e mandou logo duas pessoas para a Alese. Ele e Diná Almeida.

Na Alese, Dilson diz querer ser esse tal um bom empregado do povo. “Eu quero estar onde os pensamentos, os sonhos e os sofrimentos do povo estiverem. Todo dia digo: “não sei fazer milagre e nem mágica”. Mas a gente pode ser trabalhador. Não estou dizendo que os outros não são”, enfatiza.

Dilson: “meu projeto de vida é servir a Deus, servindo ao povo Dele”

“APRENDIZ” DE DEPUTADO

Dilson de Agripino sabe bem que a Alese é algo tolamente novo para a sua vida. Sua experiência até aqui foi no Executivo – tanto público quanto particular. “Agora, é um papel diferente, não é? Eu executava e agora sou legislador”, diz. Ele promete buscar ajuda para aprender ser um bom deputado.

“Tenho amigos que estão aqui há muitos tempo e gosto de escutar, partilhar, perguntar, de dizer que não sei e que preciso aprender, com cautela, serenidade e respeito. Tudo em benefício do povo”, frisa Dilson.

O deputado quer aprender para formar projetos em prol da população tobiense. “Quero buscar planos, discussões, como a problemática do asfalto na Região Sul, da Saúde, da água em Tobias”, informa.

Hoje deputado estadual, votado por eleitores de 63 municípios, Dilson promete que não olhará apenas pelo povo da Região Sul

POLÍTICO ESPIRITUAL

Contudo, Dilson promete que não olhará apenas pelo povo da Região Sul. “Não sou só empregado de Tobias Barreto. Eu voltei em todos os lugares onde fui antes da eleição. Voltaria se perdesse também. Fui perguntar quais são os sonhos deles para colocar na minha plataforma. Tive votos em 63 cidades. Claro, mais no Sul”, informa.

Dilson afirma que faz política por amor, com carinho e alegria. “Não faço política com o sentimento de que, depois que ganha, o povo é “enjoado””, diz. “Você pede a Deus, pede ao povo para ser eleito e depois o povo que te ajudou é taxado de enjoado?”, questiona.

Dilson faz política, evidentemente, sem esquecer os seguimentos de Deus. “Tenho impressão de ter uma capacidade espiritual de chegar ao governador, por exemplo, dar uma pequena palavrinha, que pode ser um pingo d’agua, mas uma essência de uma grande chuva”, destaca.

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