Alessandro Vieira: “Edvaldo tem a sua Prefeitura apartada dos interesses diretos dos cidadãos”

Entrevista

Jozailto Lima

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Alessandro Vieira: “Edvaldo tem a sua Prefeitura apartada dos interesses diretos dos cidadãos”

“O foco de 2020 é gente que tenha capacidade técnica e honestidade para mudar as cidades”
29 de dezembro - 8h00

Por mais que analistas açodados avancem na tentativa de capturá-lo com definições simplórias e rasas, o senador Alessandro Vieira, Cidadania, se guarda misteriosamente nas frestas de um político meio que indecifrável. Insondável. Mas nem por isso perdido quanto ao que quer de si mesmo.

Quatorze meses depois de ele ter surpreendido a tudo e a todos nas eleições de 2018 ao cravar 474.449 votos no placar eleitoral, eleger-se senador em primeira e única disputa, reservando 300.247, ou 174.202 a menos que ele, para Rogério Carvalho, PT, e derrubando de uma só tacada André Moura, PSC, Jackson Barreto, MDB, e Antonio Carlos Valadares, PSB, Alessandro Vieira ainda é tema central, e por vezes depreciativamente, nas rodas de conversas políticas no território sergipano.

Nessas rodas políticas, ele é meio que o sapo que entalou na garganta de muita gente. Que não desceu - que não foi digerido. Ele é uma espécie de o intruso acaba-festas. Mas o indecifrável e insondável Alessandro Vieira tira tudo isso de letra.

E, naquele seu estilo frio-quase glacial, sacode sobre os argumentos dos insatisfeitos convicções próprias do que de fato o fez chegar até aqui, esparge assertividade sobre o desempenho do seu mandato de neófito e dispara bala sobre o planejamento político para o futuro. Será que dará o que falar no futuro?

Em tudo, Alessandro vai colocando o povo como escudo, mas levantando ele mesmo o crachá do que pode e deve ser feito, obviamente ao lado dos seus aliados. Do que o fez chegar ao DF montado na dose cavalar de votos, por exemplo, pensa o seguinte.

“Continuo com a mesma análise daquela nossa Entrevista no pós-eleição: a gente compreende que materializou um sentimento de renovação e de mudança na política sergipana e brasileira. O trabalho ao longo do ano foi feito muito para garantir e retribuir essa confiança”, diz ele. A Entrevista do pós-eleição foi no dia 13 de outubro – houve uma outra durante a campanha, como ocorrera com todos os candidatos ao Senado.

E a ação do seu mandato de senador retribuiu mesmo “essa confiança” gorda dos sergipanos? Obviamente, Alessandro acha que sim e tira o primeiro dos seus oito anos de mandato por “muito produtivo”.

“Com realizações concretas já para Sergipe e para o cenário nacional, seja defendendo projetos de lei importantes, seja defendendo posições democráticas essenciais para o momento que o Brasil vive”, diz ele.

No planejamento político para o futuro, Alessandro Vieira taca enorme esperança na possibilidade de fazer, com o chamado bloco da Nova Política, uma grande intervenção eleitoral em 2020 no Estado de Sergipe durante as eleições municipais.

E, neste caso, o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, ainda PCdoB, que esconda os vazios, porque Alessandro Vieira virá de esporas afiadas. Sem dó nem piedade, mira diretamente no prefeito, a quem ele quer interditar no projeto de reeleição.

“Você tem a questão do desvio de ética muito forte, a impossibilidade de Edvaldo Nogueira de romper os modelos tradicionais da política. Ele é absolutamente vinculado aos grandes empresários. É financiado por eles em período eleitoral e não se sabe se também fora dele. Edvaldo tem a sua Prefeitura apartada dos interesses diretos dos cidadãos”, diz.

“Aliás, não conversa com o cidadão, não lidera a cidade, não resgata o sentimento que o aracajuano já teve de ser Aracaju uma capital da qualidade de vida, e por conta disso é necessário fazer uma alteração. Ademais, é um grupo político que comanda Aracaju há muito anos - há mais de uma década. E renovar essas ideias, essa forma de atuar, é muito bom para a democracia”, reforça. 

Em contraponto a tudo isso, Alessandro Vieira diz que o seu grupo vai trabalhar por um outro nível de Governo de Aracaju. Mas o que promete? “Uma Prefeitura muito focada em um diálogo direto com a comunidade para a resolução de problemas, com uma varredura em contratos e em atos de nomeação”, diz.

E completa: “Enfim, em tudo aquilo que gera desperdício ou desvio de verba pública, e numa questão de resgate da qualidade de vida, que passa por mudanças no modal de transporte, gestão que dialogue com a comunidade e que resolva seus problemas de forma pactuada e não impositiva como se vivêssemos num império”.

E nesses objetivos pessoais para o ano de 2020, mantém a tese de que não se candidatará a nada e prefixa para si o seguinte: “Coordenar uma campanha vitoriosa em todo o Estado de personagens que possam fazer uma renovação no cenário, porque não adianta investir em candidaturas que sejam de repetição do que já temos e nem seguir um roteiro tradicional de composições políticas visando eleições futuras”.

Nesta Entrevista ao Portal JLPolítica, Alessandro Vieira fará uma geral sobre os projetos de lei que apresentou, insiste na CPI da Lava Toga, vai negar simpatia prévia por qualquer um do seu grupo isoladamente para disputar a Prefeitura de Aracaju, negará brigas entre Emília Correa e Danielle Garcia, afirmará que nunca teve convivência política com Rodrigo Valadares e que desaprova os ódios pessoais deste deputado, se negará bolsonarista e dirá que não dá a mínima para Olavo de Carvalho.

“Nunca me dei ao trabalho de assistir sequer a um vídeo desse cidadão. Nem nunca li um livro. Não acho que Olavo de Carvalho acrescente nada intelectualmente a ninguém”, delimita.

Alessandro Vieira nasceu no dia 3 de abril de 1975, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, mas é um sergipano desde os nove anos de idade - chega aqui em 1984.

Ele é filho de Getúlio Gonçalves Vieira, falecido em 2002, e de Jesus Perciliana da Silveira Vieira, uma professora que mesmo aposentada ainda é funcionária da Prefeitura Municipal de Aracaju aos 75 anos.

Com Paulo Guedes, ministro da Economia do Governo de Jair Messias Bolsonaro
Nasceu no dia 3 de abril de 1975, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, mas já é cidadão sergipano

DO SONHO DAS CAMPANHAS BARATAS E SEM MARKETING
“(É contra) campanhas caríssimas, personagens vazios, que precisam de marqueteiros para inventar discursos e uma forma de trabalhar. Um doador de campanha vai se tornar um sócio, no bom sentido, daquilo que você quer como ideia política. No Brasil, isso foi deformado. Virou, na verdade, um sócio do mandato para fins particulares ou empresariais de grupos econômicos”

JLPolítica - Além da pesquisa, tem um conceito ou uma atitude basilar que vai nortear a escolha do candidato de vocês?
AV -
Tem a vontade do cidadão aracajuano. A gente vem aferindo através de pesquisa de opinião, seja quali ou quantitativa, focadas a identificar qual o perfil que o aracajuano está buscando e as que medem propriamente a intenção de voto. Em todas elas, temos dados muito claros que apontam para pelo menos três nomes que afunilam com desempenho altíssimo, altamente competitivos.

JLPolítica - Mas o senhor não tem uma queda pessoal por Emília ou Danielle?
AV –
Não. Essas coisas não devem ser feitas com personalismo. Não sou dono do partido nem do voto do cidadão. A gente tem que ouvir o cidadão e colocar à disposição candidatos que atendam ao perfil desejado. Foi essa falha dos partidos tradicionais que gerou a eleição do próprio Bolsonaro. Os partidos tentaram impor seus candidatos de sempre, não ouviram a sociedade e foram atropelados pelos fatos.

JLPolítica - O que é o Cidadania e qual o norte dele?
AV -
O Cidadania hoje é um partido de centro que se abriu para os movimentos de renovação com pautas progressistas. É um partido com uma história muito bonita. Uma história de análise de cenário, de conjuntura e de renovação. O Roberto Freire, com seus quase 80 anos, lidera o partido de forma transparente e interessante. Ele consegue fazer uma análise moderna e contemporânea, como a maioria dos presidentes não faz, e por causa disso sai na frente.

JLPolítica - O senhor supõe que o bloco em Sergipe vai ter quantos partidos aliados em 2020?
AV -
Depende do município. Em Aracaju, a gente já tem Patriotas, PMN e Novo, com aquelas restrições à coligação, porque o Novo só define mais próximo. É um partido que tem uma lógica diferente dos demais.

JLPolítica - Para além de Aracaju, tem outros municípios que o grupo quer chegar?
AV -
Estamos abrindo espaço para gente nova em todos os municípios que a gente consiga. Por exemplo, em São Cristóvão, Barra dos Coqueiros e Nossa Senhora do Socorro já temos pré-candidatos ajustados: Coronel Rocha, Herbert Pereira e Dr Samuel, respectivamente. Temos Suely Barreto começando um trabalho em Estância, Nininho na cidade de Lagarto e várias outras figuras que vão surgindo, se aproximando, e tenham esse perfil, de ficha limpa, de proposta de gestão diferenciada, com propostas concretas para os municípios. Itabaiana ainda não temos, porque é uma cidade peculiar. A gente tem dificuldade em encontrar pessoas que saiam dos grupos tradicionais, diferentemente de Lagarto, que tem os tradicionais, mas há os dissidentes que conseguem enfrentar esse cenário. E a gente não vai fazer parceria por parceria. O objetivo é gente nova para 2020.

É contra campanhas caríssimas, personagens vazios, que precisam de marqueteiros para inventar discursos e uma forma de trabalhar

OBJETIVOS PESSOAIS PARA O ANO DE 2020
“É o de coordenar uma campanha vitoriosa em todo o Estado de personagens que possam fazer uma renovação no cenário, porque não adianta investir em candidaturas que sejam de repetição do que já temos e nem seguir um roteiro tradicional de composições políticas visando eleições futuras”

JLPolítica - Entre Emerson Ferreira, Emília Correa, Danielle Garcia, Georgeo Passos, Milton Andrade e Kitty Lima, o senhor vê algum com perfil melhor para disputar a Prefeitura de Aracaju em 2020?
AV -
Todos estes têm um perfil excelente. Pelo menos quatro desses nomes têm alta aceitação da sociedade aracajuana e o processo de escolha vai ser feito em conjunto, utilizando pesquisas e medição da intenção de voto.

JLPolítica - Neste grupo não haveria lugar para Valadares Filho, a quem o senhor apoiou no segundo turno da eleição de governador de 2018?
AV -
Existe um bloco sólido que já vem caminhando há mais de um ano, e Valadares Filho não faz parte desse bloco. Nada impede que no futuro haja um diálogo ou alguma identidade, mas no momento não existe nenhuma vinculação.

JLPolítica - O que este grupo vê de errado e equivocado no modo de administrar de Edvaldo Nogueira que valha e que justifique o combate a ele?
AV -
Você tem a questão do desvio de ética muito forte, a impossibilidade de Edvaldo Nogueira de romper os modelos tradicionais da política. Ele é absolutamente vinculado aos grandes empresários. É financiado por eles em período eleitoral e não se sabe se também fora dele. Edvaldo tem a sua Prefeitura apartada dos interesses diretos dos cidadãos. Aliás, não conversa com o cidadão, não lidera a cidade, não resgata o sentimento que o aracajuano já teve de ser Aracaju uma capital da qualidade de vida, e por conta disso é necessário fazer uma alteração. Ademais, é um grupo político que comanda Aracaju há muito anos - há mais de uma década, e renovar essas ideias, essa forma de atuar, é muito bom para a democracia. 

JLPolítica - Mas que Prefeitura o grupo da Nova Política faria?
AV -
Uma Prefeitura muito focada em um diálogo direto com a comunidade para a resolução de problemas, com uma varredura em contratos e em atos de nomeação. Enfim, em tudo aquilo que gera desperdício ou desvio de verba pública, e numa questão de resgate da qualidade de vida, que passa por mudanças no modal de transporte, gestão que dialogue com a comunidade e que resolva seus problemas de forma pactuada e não impositiva como se vivêssemos num império.

JLPolítica - Qual é a sua visão do suposto ciúme de Emília Correa com a chegada de Danielle Garcia ao grupo com uma filiação? Isso de fato ocorreu?
AV -
Não, absolutamente. Emília foi a principal articuladora dessa vinda de Danielle. Até pela sua empolgação e pelo temperamento, são amigas há mais de um ano. Emília insistiu muito e ficou muito feliz com a vinda de Danielle para a política partidária. Não existe nenhum tipo de ciúme ou de disputa política. Existe uma construção, que é inovadora, onde você vai compondo essas pessoas em torno de um projeto para Sergipe.

\"Nunca me dei ao trabalho de assistir sequer a um vídeo desse cidadão\", pontua, sobre Olavo de Carvalho

SOFISMAS DOS EMBATES ENTRE DIREITA E ESQUERDA
“Tem muito mais o embate de personagens que tentam polarizar para garantir a fidelidade de seu público do que realmente um debate de ideias. Quando você tira o personalismo, tem uma coincidência de opiniões em 70%, 80% dos fatos. Mas os personagens envolvidos têm interesse de fazer a polarização para fins eleitorais ou eleitoreiros na pior acepção”

JLPolítica - O senhor não vislumbra criminalização da política por trás de tantos partidos com nomes eufemísticos como Novo, Podemos, Cidadania, Avante, Solidariedade, Progressistas e Patriota?
AV –
Não. Eu vejo uma tendência, que é mundial, de comunicação mais clara com o cidadão. A forma de representação mais moderna, sem isolar tanto. A figura do partido ficou muito confundida com a do cartório, onde você comercializa mandato.

JLPolítica - O senhor já conhecia o trabalho de Olavo de Carvalho e o que pensa dele?
AV -
Não, nunca me dei ao trabalho de assistir sequer a um vídeo desse cidadão. Nem nunca li um livro. É lamentável um senhor de idade que usa da polêmica e da ofensa para ter lucro pessoal. Essencialmente ele é isso. Ele tem um programa de estudos que capta alunos pelo Brasil afora e gera dinheiro. Isso tudo baseado em polêmica, em radicalismo. Não acho que Olavo de Carvalho acrescente nada intelectualmente a ninguém.

JLPolítica - O senhor se define um bolsonarista de meio mastro?
AV –
Não. Não tenho nenhuma vinculação com o bolsonarismo. Absolutamente nenhuma. Eu voto de forma independente. Então, vai ter pautas do Governo Bolsonaro que eu vou apoiar e outras que eu vou combater. Isso está se materializando agora com na questão do juiz de garantias, a mais nova loucura feita pelo Bolsonaro.

JLPolítica - O senhor acha que é inaplicável o juiz de garantias?
AV -
Essa proposta tem um problema de inconstitucionalidade por origem, já que deveria ter sido uma proposição do Judiciário. Tem um efeito de aplicação muito lento, então ela vai estar concentrada em casos específicos e em comarcas maiores e tem um condão imediato de impedir que julguem aqueles que estão participando das investigações. Ou seja, você tira a Lava Jato do STF do Facchin, a Lava Jato do Rio do Bretas, Flávio Bolsonaro do juiz do Rio de Janeiro. Essa é a razão do juiz de garantias, e não a garantia real de nada.

JLPolítica - O senhor acha que a medida do juiz de garantias não atenta para o fato de o Judiciário não ter cobertura para isso?
AV -
Acho. Além de não ter recurso para fazer isso, não tem o menor sentido do ponto de vista da aplicação. Tanto que a Associação dos Magistrados do Brasil está impetrando uma ação de inconstitucionalidade.

\"É o de coordenar uma campanha vitoriosa em todo o Estado de personagens que possam fazer uma renovação no cenário\", diz, sobre o seu papel nas eleições municipais do próximo ano

JUSTIFICATIVA PARA OS 474 MIL VOTOS
“Continuo com a mesma análise daquela nossa Entrevista no pós-eleição: a gente compreende que materializou um sentimento de renovação e de mudança na política sergipana e brasileira. O trabalho ao longo do ano foi feito muito para garantir e retribuir essa confiança”

JLPolítica - No aspecto geral, qual o mal da política no Brasil?
AV -
São vários os males, mas talvez possa concentrá-los no financiamento ilegal de campanhas e no vício que a política brasileira tem em dinheiro sujo. Campanhas caríssimas, personagens vazios, que precisam de marqueteiros para inventar discursos e uma forma de trabalhar.

JLPolítica – Qual é o contraponto disso?
AV -
O que a gente tenta fazer é justamente o oposto: campanhas baratas, sem firulas técnicas de comunicação que escondam o candidato, e uma comunicação mais direta e responsável com o cidadão.

JLPolítica - É possível alguém financiar uma campanha sem interesse no posterior?
AV -
Não. Normalmente, a pessoa tem interesse, pelo menos, em fazer valer a sua opinião. Um doador de campanha vai se tornar um sócio, no bom sentido, daquilo que você quer como ideia política. No Brasil, isso foi deformado. Virou, na verdade, um sócio do mandato para fins particulares ou empresariais de grupos econômicos.

JLPolítica - O senhor vê algo no horizonte que aponte para mudanças nisso?
AV -
Você tem cada vez mais a fiscalização da sociedade, mas ao mesmo tempo tem a velha guarda do Congresso Nacional abrindo brechas para o financiamento ilegal e a lavagem de dinheiro em campanhas.

JLPolítica - Isso pode ser estancado?
AV -
Isso deve continuar por algum tempo, mas tem uma instituição com uma responsabilidade muito grande nesse novo cerco eleitoral, que é a Polícia Federal. Se a Polícia Federal trabalhar minimamente, consegue coibir muito a compra de votos, que se dá a céu aberto no Brasil.

\"Não adianta investir em candidaturas que sejam de repetição do que já temos e nem seguir um roteiro tradicional\", pondera, sobre as eleições 2020

SEM TRELA PARA AS IDEIAS DE OLAVO DE CARVALHO
“Não acho que Olavo de Carvalho acrescente nada intelectualmente a ninguém. Nunca me dei ao trabalho de assistir sequer a um vídeo desse cidadão. Nem nunca li um livro. É lamentável um senhor de idade que usa da polêmica e da ofensa para ter lucro pessoal. Ele tem um programa de estudos que capta alunos pelo Brasil afora e gera dinheiro. Isso tudo baseado em radicalismo”

JLPolítica - O senhor projeta ser candidato a governador em 2022?
AV -
É uma possibilidade que vai ser avaliada mais perto, mas é natural que pelo cargo e pelo alcance que a gente tem no mandato surja essa perspectiva. Mas ela vai ser avaliada lá mais perto.

JLPolítica - Se o seu grupo fizer a Prefeitura de Aracaju seria uma condição normal?
AV -
Não. Eu não vinculo nada a não ser a vontade e a possibilidade do período eleitoral propriamente dito.

JLPolítica - É irreconciliável a convivência política com o deputado Rodrigo Valadares?
AV -
Não tenho convivência política com Rodrigo Valadares. Tivemos pouquíssimos contatos. A forma que ele escolheu para fazer política é diferente da minha. Eu não concordo e não gosto de agressão e da fake news. Que ele siga e seja feliz com essa atividade e o povo, no final das contas, faça o julgamento.

Ele é casado com a baiana Helga Mesquita Gumes Vieira, com quem tem três filhos - Gabriela Mesquita Gumes Vieira, 15 anos, João Pedro Mesquita Gumes Vieira, 13 e Mariana Mesquita Gumes Vieira, 11

PROTEÇÃO ESTATAL CONTRA SUICÍDIOS NA SEGURANÇA
“Os indicadores de suicídio e depressão entre os profissionais de segurança são altíssimos. Isso porque o profissional de segurança pública trabalha num limite muito forte de frustração”

JLPolítica – Por que?
AV -
Porque ali o processamento é lento e exige uma atuação mais presencial dos ministros. Mas, ao mesmo tempo, você tem algumas medidas que podem ser trazidas de outros países, como o mandato de dez anos para cada ministro, para que se tenha uma rotatividade maior, um rigor maior ainda no processo de escolha e uma clareza de que devem ser submetidos a algum tipo de controle, que pode ser o CNJ ou continuar sendo apenas o Senado, desde que seja efetivo. Hoje você não tem nenhum tipo de controle sobre os ministros do Supremo. Eles não têm sequer uma Corregedoria. 

JLPolítica - O concurso de acesso seria um outro caminho?
AV -
Concurso para cargos dessa natureza é algo muito difícil, porque você tem uma ocupação muito pontual, então não acredito que seja a melhor forma de suprir isso. Utilizar mecanismos parecidos com os que se tem hoje, mas com algumas formas de controle, para evitar o enraizamento e o empoderamento excessivo. Por exemplo, uma indicação como a do Toffoli vai interferir na vida política e jurídica brasileira por cerca de 30 anos, e isso é muito tempo e não é razoável que aconteça.

JLPolítica - Passados 14 meses da eleição de 2018, o senhor teria uma justificativa plausível para os seus mais de 474 mil votos obtidos junto aos sergipanos?
AV -
Continuo com a mesma análise daquela nossa Entrevista no pós-eleição: a gente compreende que materializou um sentimento de renovação e de mudança na política sergipana e brasileira. O trabalho ao longo do ano foi feito muito para garantir e retribuir essa confiança.

JLPolítica - Aquela votação lhe coloca inseguro ou temerário de enfrentar outros pleitos e não obter tamanho ou parecido desempenho?
AV –
Não. Não tenho nenhuma preocupação com isso. A preocupação é focada no desempenho da minha função atual, a de senador da República, tentando fazer o melhor por Sergipe e pelo Brasil. As eleições vêm depois de cada ciclo eleitoral e novamente vai ser importante entender o que o cidadão quer. É aí que você deve se colocar como candidato - na linha daquilo que o cidadão quer. Se você tem compatibilidade, vai dar certo. Se não tem, o tempo vai lhe expulsar da cena.

JLPolítica - O senhor se define ideologicamente como de direita, de centro-direita ou de extrema-direita?
AV -
Me defino como de centro. Tenho várias pautas que são típicas da esquerda, várias que são típicas da direita. E isso é uma forma que me parece mais contemporânea de se fazer política, baseada em cada fato, em cada ideia, analisado individualmente, sem esse pertencimento e essa amarra ideológica que ficou lá em décadas passadas.

Chegou ao Senado com os votos de 474 mil eleitores sergipanos

PROJETO VEDA INCLUSIVE O NEPOTISMO DE BURLA
“Contempla os três poderes e é bastante abrangente, porque pega a melhor experiência internacional e deixa claro que não pode fazer nomeações mesmo quando há a justificativa de que o STF criou a indicação política, vedando completamente, sobretudo o cruzado e a forma da burla atual”

JLPolítica - O projeto de lei que exige que o cargo comissionado seja submetido à seleção técnica deixa em aberto algo para acomodação nesta área sem este crivo?
AV -
Não deixa. Estabelece para todos uma seleção prévia. Inclusive, agora, nesta última semana o Ministério da Economia ventilou a ideia de fazer uma medida igual. Isso também vale para todos os três poderes.

JLPolítica - Seria alta a incidência de suicídios entre os trabalhadores da segurança pública do Brasil ao ponto de o senhor se preocupar com uma lei em que o Estado intervenha nesta questão?
AV –
Sim. Os indicadores de suicídio e depressão entre os profissionais de segurança são altíssimos. Isso porque o profissional de segurança pública trabalha num limite muito forte de frustração.

JLPolítica - O que faltou para que a sua proposta da CPI da Lava Toga fosse recepcionada pelo Senado?
AV -
Nós temos uma delas com todos os requisitos perfeitos e está pendente só de recursos, e para a outra estamos colhendo assinaturas, que é a que trata só do ministro Toffoli, mas deixamos para apresentar na volta do Legislativo, porque se apresentássemos no final do ano correríamos o risco do arquivamento por manobra regimental.

JLPolítica - Qual é a real intenção do senhor com esta CPI? Tem algo a ver com amortizar as investigações da Lava Jato?
AV -
Não tem. Tem a ver com as más condutas por parte de ministros, especialmente os do Supremo, que devem representar o que de melhor se tem no funcionalismo público, mas vários deles se portam como se fossem não magistrados, mas majestades: não prestam contas, se recusam a qualquer tipo de informação, e isso tem que mudar. Tem várias denúncias na rua que precisam ser avaliadas.

JLPolítica - Qual é a metodologia que tem que ser aplicada para que o STF atenda melhor ao Brasil?
AV -
Tem que ter mudanças na legislação, sob o ponto de vista de garantir que o STF seja apenas uma corte constitucional. O STF não tem, nem no Brasil nem em lugar nenhum do mundo, vocação para matéria penal, por exemplo.

No Congresso Nacional, é autor do pedido de instalação da CPI da Lava Toga, que mira os tribunais superiores

AVALIAÇÃO DO PRIMEIRO ANO DE MANDATO
“Muito produtivo, com realizações concretas já para Sergipe e para o cenário nacional, seja defendendo projetos de lei importantes, seja defendendo posições democráticas essenciais para o momento que o Brasil vive”

JLPolítica - Qual o balanço que o senhor faz do seu primeiro ano de mandato?
Alessandro Vieira -
Muito produtivo, com realizações concretas já para Sergipe e para o cenário nacional, seja defendendo projetos de lei importantes, seja defendendo posições democráticas essenciais para o momento que o Brasil vive.

JLPolítica - O que mais lhe causou dificuldade na adaptação às atividades parlamentares do Senado?
AV -
Não tive maiores dificuldades, porque a gente fez uma preparação prévia muito boa e montou uma equipe de alto nível, então as dificuldades foram todas diluídas nesse processo.

JLPolítica - O senhor acha que conseguiu deixar alguma marca em forma de leis aprovadas entre seus tantos projetos apresentados?
AV -
Sim, conseguimos. Tanto em termos de prática parlamentar, com um dos gabinetes mais inovadores do Congresso Nacional, com economia na casa de R$ 1,5 milhão, alta produtividade, quanto um dos quatro senadores com mais relatorias e projetos apresentados, e alguns deles já viraram lei. Faço parte de oito Comissões e presidi a de Medida Provisória.

JLPolítica - Qual é o nível de interdição que seu projeto de lei tenta fazer ao nepotismo no Brasil? Ele contempla os três Poderes ou só o Legislativo?
AV –
Sim, ele contempla os três poderes e é bastante abrangente, porque pega a melhor experiência internacional e deixa claro que você não pode fazer nomeações mesmo quando há a justificativa de que o STF criou da indicação política, vedando completamente, sobretudo o cruzado e a forma da burla atual, deixa claro que a nomeação tem que ser por critério técnico.

JLPolítica – Qual é a burla atual?
AV –
São justamente apelidados de cargos de valor político. Por exemplo, você não pode nomear comissionados com vínculo familiar hoje, mas para cargos como de secretário municipal, estadual ou de ministro, pode. E o nosso projeto acaba com isso também.

Elegeu-se pelo Rede Sustentabilidade, mas migrou para o Cidadania

UM MAIOR CONTROLE SOBRE O JUDICIÁRIO
“Hoje você não tem nenhum tipo de controle sobre os ministros do Supremo. Eles não têm sequer uma Corregedoria. Tem algumas medidas que podem ser trazidas de outros países, como o mandato de dez anos, para que se tenha uma rotatividade maior, um rigor maior ainda no processo de escolha”

JLPolítica - Como o senhor vê esse embate entre direita e esquerda no Brasil?
AV -
Você tem muito mais o embate de personagens que tentam polarizar para garantir a fidelidade de seu público do que realmente um debate de ideias. Quando você tira o personalismo, você tem uma coincidência de opiniões em 70%, 80% dos fatos. Por exemplo, o combate à corrupção, a eficiência da máquina pública e a redução das desigualdades são pautas que unem o Brasil inteiro, mas os personagens envolvidos têm interesse de fazer a polarização para fins eleitorais ou eleitoreiros na pior acepção.

JLPolítica - É possível aferir a percentagem dos que votaram no senhor em 2018 sem saber a sua coloração ideológica de centro e acha que eles repetiriam se soubessem o que sabem do seu credo hoje?
AV -
As medições de opinião que a gente tem feito e a própria forma do brasileiro de votar apontam que a ideologia tem baixíssima influência na hora da escolha. Valem muito mais a história de vida, as propostas concretas que vão interferir na vida da pessoa, e muito menos a questão ideológica, que serve só para as franjas mais extremas do cenário político. 

JLPolítica - O senhor mantém a decisão de não se candidatar a nada em 2020?
AV –
Sim. Essa decisão está mantida. Nós temos hoje participação em um grupo político que tem representantes de alto valor na capital e no interior de Sergipe e não há sentido nenhum partir para uma linha de personalismo que é tão típica dos políticos sergipanos.

JLPolítica - Qual é o seu objetivo para 2020?
AV -
É o de coordenar uma campanha vitoriosa em todo o Estado de personagens que possam fazer uma renovação no cenário, porque não adianta investir em candidaturas que sejam de repetição do que já temos e nem seguir um roteiro tradicional de composições políticas visando eleições futuras. O foco vai ser 2020 e em gente que tenha capacidade técnica e honestidade para mudar as cidades.

JLPolítica - Qual é a tradução do conceito de Nova Política que o seu grupo sustenta e diz praticar?
AV -
A melhor tradução da nova política é a boa política. Fazer política respeitando o cidadão, e você pode dar exemplos bem simples disso quando se tem medidas de alto impacto na sociedade, sejam econômicos, sejam culturais como, por exemplo, a remoção das árvores na Hermes Fontes, em Aracaju, sem nenhum tipo de diálogo com a sociedade. Aí mostra o quanto você desrespeita o cidadão, o quanto você não tem a concepção de que presta um serviço e tem que dar explicações, convencer, liderar processos. A nova política, tão vendida na campanha, é nessa linha: respeito ao cidadão, transparência e eficiência nos gastos públicos.

\"A gente compreende que materializou um sentimento de renovação e de mudança na política sergipana\", avalia, sobre a opção dos sergipanos por seu nome
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