Ana Alves: “Não basta a origem para me fazer uma deputada federal”

Entrevista

Jozailto Lima

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Ana Alves: “Não basta a origem para me fazer uma deputada federal”

Publicado 26 de junho 20h00 - 2017

Ela tem 47 anos – é de 31 de março de 1970. É a filha do meio do casal João Alves Filho e Maria do Carmo Alves. Quando estava deixando as fraldas, o pai já embalava a fama política, passando pela Prefeitura de Aracaju por duas vezes, pelo Governo de Sergipe por três e sendo ministro de Estado – fato que nenhum outro sergipano conseguiu até hoje. A mãe se fez três vezes senadora, em cuja mandato ainda se encontra pelo pleito de 2014 que a levará até a 2022.

Ela é Ana Maria Alves, uma jornalista e radialista muito apegada à memória e ao espólio político dos pais. Mas só agora, com ele entrando em declínio político e com Maria do Carmo possivelmente não disputando mais eleição em 2022, é que Ana Maria se decidiu por disputar um espaço próprio na selva da política. Admite candidatura de deputada federal para o ano que vem.

“Minha mãe sempre me quis na política e disputando um mandato. Meu pai foi que sempre pediu para eu dar um tempo”, admite Ana. Ela agora sabe que tem apenas um ano para construir a possibilidade de obter um mandato na Câmara Federal em 2018 – e nem reclama da exiguidade de tempo.

Por coincidência, a decisão está ganhando corpo depois que a mãe disse numa entrevista a Fábio Henrique, na TV Atalaia, que via esta possibilidade com bom gosto. Ana Maria Alves transita entre o afoitismo político e os pés no chão.

Dessa segunda condição, ela tira a reflexão positiva e racional de achar que não basta o DNA de João e de Maria para se chegar ao céu de Brasília em 2019 como uma deputada federal.

“Apesar da linda e honrada história política dos meus pais João e Maria, esse legado não é o suficiente para eleger a mim e nem a ninguém. Além dessa origem, é preciso trabalhar muito, ter personalidade e ideias próprias”, diz Ana Maria.

Com o avô, o construtor João Alves
O DEM tem o ex-governador João Alves Filho, o homem que mais trabalhou por Aracaju e Sergipe
Ela tem 47 anos – é de 31 de março de 1970

JLPolítica – Qual é o extrato do DEM hoje no Estado? 
AMA – O DEM tem nos seus quadros o ex-governador João Alves Filho, o homem que mais trabalhou por Aracaju e Sergipe. Foi prefeito da capital duas vezes, governador três vezes, ministro do Interior (o maior Ministério já existente no Brasil, onde criou o Prodetur), é um estudioso e especialista em água (considerado um dos maiores especialistas nisso do Brasil e do mundo). É escritor, palestrante. Temos também no Democratas a senadora Maria do Carmo, primeira senadora de Sergipe. Foi a primeira-dama mais atuante de Sergipe, com a realização de tantos projetos. Citarei alguns: Pró-Mulher – Pró-Família, desfavelamento, recuperação de drogados, erradicação das casas de taipas. Somado a tudo isso, o DEM têm nos seus quadros muitos aliados que nos honram com seus nomes e seus trabalhos, como os atuais prefeitos de Carmópolis, Volney Leite Alves; de Rosário do Catete, Etelvino Barreto, o Vino; de Pedra Mole, João José Carvalho; de Ribeirópolis, Antônio Passos; de Cedro de São João, Neudo Alves e o de Laranjeiras, Paulo Hagenbeck, além de mais 28 vereadores que muito nos honram. Esse quantitativo mostra o quanto somos capazes. Somos fortes e aglutinadores. O Democratas está vindo com muitas novidades. É só aguardar.

JLPolítica – Diferentemente de outras famílias de origem política, por que a senhora não foi candidata bem antes?
AMA – Não penso no passado nem em respostas que não tenho. Tudo têm seu tempo, e o meu creio que seja agora. Para frente é que se anda, olhando para o futuro.

MARIA DO CARMO ALVES
"É verdade. A senadora Maria do Carmo disse, no programa de TV do Fábio Henrique, sobre uma possível pré-candidatura minha para deputada federal com o apoio dela"

JLPolítica – Quem mais lhe dá inspiração política: João ou Maria?
AMA – Ambos. Aprendi e aprendo todos os dias com eles. Tiro o melhor deles dois. Com esse aprendizado e conhecimento, misturo ao meu jeito de ser e de pensar. Eles são um eterno aprendizado.

JLPolítica – Qual é a distinção que a senhora faz de um e de outro, no aspecto importância política e exemplo para a sua pessoa?
AMA – João Alves, o Negão, têm uma mente visionária. Enxerga o que ninguém vê. É um homem à frente do seu tempo. Vive no presente olhando para o futuro. Obstinado. Homem de muita fé em Deus, pegou o destino com suas mãos e escreveu sua história. A palavra “não”, ele não conhece. É incansável, bem humorado. Apaixonado pelo povo, Aracaju e Sergipe, deixou sua marca de trabalho e realizações até onde a vista não alcança. Maria ou dona Maria, como é carinhosamente chamada, tem temperamento contido, mas forte e desbravador. É direta, objetiva, trabalhadora em excesso. Ela revolucionou em uma época em que as mulheres eram mais reservadas. Quebrou tabus, foi à luta, abraçou o povo e suas causas. Com sua política mais voltada para o social, Maria ficou com os mais carentes, levando o trabalho, tempo e abraço de uma mãe que está sempre ao lado dos seus filhos, de sua família. Dona Maria chegou, com seu jeito simples, ao coração e à mente do povo. Admito e afirmo: eles dois, João e Maria, são minha maior referência na vida. Aqui e acolá, junto um tantinho de cada um dentro de mim. E assim, formou-se essa pessoa que eu sou.

Ela é Ana Maria Alves, uma jornalista e radialista muito apegada à memória e ao espólio político dos pais

JLPolítica – A senhora acha que convencerá o eleitorado?
AMA – Eu vou tentar, com toda humildade. Espero que sim. Estou preparada para qualquer desafio público. Para ocupar cargos públicos. Sem perder minha essência, meu estilo.

JLPolítica – Uma eventual candidatura de Machado à Câmara não choca com uma candidatura sua? E João como ficaria? 
AMA – A candidatura de Machado em nada me atinge. Nem a minha atinjo a dele. Cada um vai trabalhar para conquistar seus votos, seu espaço. Quanto a João Alves e dona Maria, a candidata deles sou eu. Eles torcem por mim.

JOÃO ALVES
"O doutor João Alves precisa descansar. Ele viveu e trabalhou a vida inteira pelo povo e para o povo. Assim como no esporte, o atleta têm que saber a hora de parar, dando lugar ao novo, ensinando e treinando outro talento"

LPolítica – A senhora já imaginou o estrago para um ex-governador de três mandatos e uma senadora no terceiro mandatos não eleger uma filha deputada federal? 
AMA – Ganhar ou perder, faz parte do jogo. Vamos tentar. O fato de eles serem detentores de tantos mandatos não os fazem donos dos votos. O povo é soberano, escolhe quem quer. É preciso respeitar a vontade do povo. O certo é que vou tentar, com as bênçãos de Deus me guiando.

JLPolítica – Se for à disputa, a senhora o fará pelo DEM? Não lhe parece um partido fraco hoje?
AMA –Sim, se for candidata, serei pelo DEM, que é, ao contrário, o partido mais forte de Sergipe e está passando por uma arrumação. É melhor ser pequeno e forte, do que grande e fraco. Desunido.

Quando estava deixando as fraldas, o pai já embalava a fama política

JLPolítica – A senadora Maria do Carmo disse, em entrevista a Fábio Henrique, que vê com bons olhos a sua pré-candidatura a deputada federal em 2018? E a senhora, como se vê no contexto desta possibilidade?
Ana Maria Alves – É verdade. A senadora Maria do Carmo disse, no programa de TV do Fábio Henrique, sobre uma possível pré-candidatura minha para deputada federal com o apoio dela. Eu vejo esta possibilidade como um grande desafio, uma renovação na política local e nacional.

 JLPolítica – A senhora não acha que o espaço entre junho de 2017 e a eleição, em outubro de 2018, é muito curto para construir-se uma candidatura de deputada federal?
AMA – Não. Acho que é o tempo necessário para construir uma candidatura.

PAIS
"João e Maria são minha maior referência. Aqui e acolá, junto um tantinho de cada um dentro de mim. E assim, formou-se essa pessoa que eu sou"

JLPolítica – A senhora acha que a tradição histórica e política da família Alves, com o apoio do seu pai e da sua mãe, é o suficiente para garantir um mandato de deputada federal?
AMA – Apesar da linda e honrada história política dos meus pais João e Maria, e de eu ter muito orgulho e honra disso, esse legado não é o suficiente para eleger a mim e nem a ninguém. Além dessa origem, é preciso trabalhar muito, ter personalidade e ideias próprias. Eu garanto: sou uma pessoa de personalidade e independente nos atos, nas atitudes e nos pensamentos. Aprendi e aprendo com meus pais, ouvirei bastante eles. Contudo, tenho personalidade própria e independência. Caso seja eleita, o mandato será meu.

JLPolítica – Além deste espólio familiar, o que a senhora teria a dizer ao povo sergipano para convencê-lo a lhe dar voto?  
AMA – “Penso, logo existo”: assim vou me apresentar e tentar convencer as pessoas. Eu tenho excelentes ideias e projetos para o povo. Sou um nome leve, honrado e nunca ocupei cargos públicos. É preciso renovar a política, afastando pessoas que estão viciadas em ter mandatos e cargos para usar em benefício próprio, não exercer trabalhos paralelos por não terem profissão e opiniões próprias, fazendo da política o seu meio de vida. Há muita gente aí que não saberia viver profissionalmente caso não ganhassem eleição. Pessoas sem talentos. Além disso é preciso prestar atenção na honestidade desses detentores de cargos públicos sempre envolvidos em escândalos. A pessoa pública, política, tem que entender que está no cargo para servir às pessoas, ao seu Estado e o Brasil. O mandato é do povo.

É a filha do meio do casal João Alves Filho e Maria do Carmo Alves

JLPolítica – Em algum momento, no episódio da Torre X Prefeitura de Aracaju este ano, a senhora temeu pela prisão dele?
AMA – Neste episódio, eu só tive e tenho pena do povo, que não pode sofrer a falta de um serviço básico de limpeza, que tem direito a uma cidade limpa e também a uma boa saúde. O povo não tem culpa. O povo não é lixo. O ocorrido foi um absurdo. Quem têm que temer a prisão é ele.

JLPolítica – Entre uma eventual candidatura de Belivaldo Chagas ou de uma eventual de Eduardo Amorim ao Governo, a senhora prefere ir com a qual?
AMA – A vida é feita de escolhas, história e bons exemplos. Nesse caso, escolheria Belivaldo Chagas por se tratar de um político que construiu sua história, tem opinião própria e personalidade. E, até onde sei, nunca esteve envolvido em escândalos ou atos de desonestidade.

Diz que não tem nada contra o seu ex-esposo, Mendonça Prado

JLPolítica – Por que a família decidiu que João ficará de fora em 2018? 
AMA – O doutor João Alves precisa descansar um pouco. Ele viveu e trabalhou a vida inteira pelo povo e para o povo. Assim como no esporte, o atleta têm que saber a hora de parar, dando lugar ao novo, ensinando e treinando outro talento, outro desportista. Ele vê em mim a sua continuidade e a da minha mãe na vida pública. Acredita que sou capaz. Isso é um orgulho, mas uma grande responsabilidade para mim.

JLPolítica – O que se diz é que ele não atina mais. Não pensa e nem decide. Procede isso?
AMA – É uma mentira descabida. Chega até a ser engraçado: João têm tanto o que ensinar e aprender que fazem uns 30 dias atrás ele e a minha pessoa fomos recebidos em São Paulo pelo maior jurista do Brasil, o Ives Gandra, e pelo atual governador Geraldo Alckmin para conversar e trocar conhecimentos. Para construir o presente e o futuro, é preciso conhecer o passado. João Alves representa muito bem o passado, presente e o futuro.

ELA
"Eu tenho excelentes ideias e projetos para o povo. Sou um nome leve, honrado e nunca ocupei cargos públicos'

JLPolítica – Qual é o sentimento da senhora para o momento político em que vive o Brasil?
AMA – É de tristeza, revolta, vergonha e decepção. Cada dia que passa, os atuais políticos só pensam em si próprios. Contudo, esse atual quadro político é consequência do voto popular. O povo precisa valorizar seu voto, refletir em tudo o que está acontecendo. Chegou a hora de mudanças na política local e nacional. É hora da renovação, de escolher pessoas sem mandatos. Pessoas novas, sem vícios. É preciso mudar.

JLPolítica – A senhora é uma inimiga pessoal do ex-deputado Mendonça Prado?
AMA – De forma alguma. Nada sei da vida dele. Não me interessa. Cada um na sua.

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