Raymundo Juliano Souto: “Tenho 80 anos de comércio e 80 anos de amizade”

Entrevista

Jozailto Lima

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Raymundo Juliano Souto: “Tenho 80 anos de comércio e 80 anos de amizade”

13 de julho - 20h00
“Eu nunca fui triste. É da minha índole, da minha personalidade”

Em “Elogio da sombra”, uma das suas tantas publicações, o grande Jorge Luis Borges, escritor argentino, (1899-1986), faz uma fantástica apologia às virtudes da velhice no poema que empresta título ao livro.

Como exaustivo leitor de Borges, carrego na memória os quatros versos de abertura desse poema, por constituírem um belíssimo acalanto ao homem velho e apascentado, de bem consigo mesmo.

“A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão) / pode ser o tempo de nossa ventura. /
O animal morreu ou quase morreu. / Restam o homem e sua alma”, diz a abertura do poema. Sim, a idade mata no homem vivido o bicho que teima em pulular no centro do homem novo. Mas preserva, ou resgata, a essência dele.

Esse poema e seus versos inaugurais não me saíram da memória diante da figura, da imagem, das falas, das visões e da persona do homem de negócios Raymundo Juliano Souto dos Santos, entrevistado de hoje aqui do JLPolítica.

Sim, a visão de um grande escritor pode e deve servir à vida e à obra de um grande empresário, ao extrato da vida longa dele. Aos 87 anos, é como se o animal morresse ou quase morresse nas entranhas de Raymundo Juliano Souto dos Santos, e ali restassem “o homem e sua alma”.

Ouso dizer que restam em Raymundo Juliano Souto dos Santos um homem e uma alma leves, solenes. Sem remorso, sem queixas, plena de agradecimento, convencido de que passou bem por uma vida de 80 anos de trabalho sacada de um viver de 87 anos.

Sim, que não se estranhe essa conta, porque isso se faz a partir do momento em que, pilotando uma caixa de engraxar sapatos em sua Estância de origem, aos sete anos ele já empinava o nariz e procurava ser dono de si e do seu destino. Não por carências - o pai era um comerciante -, mas por obstinada missão de se fazer a si mesmo.

Veja como filosoficamente ele enquadra e define esse início. “O engraxate foi um menino que sempre teve vontade de ganhar dinheiro para ter uma vida independente. Porque a estrada normal das pessoas é a de não depender de ninguém, e sim a de trabalhar e vencer os obstáculos que existirem”, diz Raymundo.

Pronto: isso foi o que Raymundo Juliano Souto dos Santos fez com extrema maestria. Com demasiado rigor. Portanto, não foi sem causa que quando, há uns 15 anos, ele decidiu separar em cada cesta os ovos do patrimônio entre seus três filhos havia um respeitável pé de meia: uma rede de lojas atacadistas bem conceituadas, duas concessionárias de automóveis, um posto de gasolina, um hotel, três fazendas que somam 12 mil tarefas de terra e que, juntos, geram hoje cerca de mil empregos diretos.

“Fiz isso porque notei que existe uma facilidade em cada um dos filhos para administrar um tipo de negócio. Para que um não venha a prejudicar o outro ou achar que trabalha mais do que outro. Cada um tem a sua empresa e cada um vai procurar crescer com ela, para torná-la independente”, justifica. As empresas, aliás, estão parindo futuros: dos seus herdeiros virão em breve uma grande loja de distribuição e uma engarrafadora de água mineral.

No mais, Raymundo Juliano Souto dos Santos é só contemplação e filosofia do bem-existir. “Isso aqui é uma viagem, com uma chegada e uma partida. E eu acredito que estou fazendo uma boa viagem na vida. Eu casei, minha primeira esposa, Suele Fontes Faria Souto, foi uma pessoa de quem eu gostava muito, realmente importante para minha vida, que me ajudou, não criou obstáculos para que eu viesse para Aracaju. Compreendeu o meu trabalho, que é o de ser administrador e promotor de vendas também, porque pela manhã eu trabalhava na administração e à tarde e à noite eu ia promover a cerveja para atingir a grande meta, que foi quando eu cheguei a dominar os 90% do mercado. Ela faleceu, eu fiquei viúvo e voltei a casar. Ana Maria Nascimento e eu já estamos há 25 anos juntos”, diz ele.

Vítima de uma cirurgia que não teria se processado bem, Raymundo Juliano vê hoje o mundo de cima de uma cadeira de rodas. Mas que não se busque desânimo ou lamúrias nele. Jamais faz concessão à tristeza. “De jeito nenhum. A vida continua e não é uma cadeira de rodas que me impede de ser ou estar alegre. Eu nunca fui triste. É da minha índole, da minha personalidade”, diz ele.

Com o filho Juliano César
Nasceu no dia da emancipação política de Sergipe, 8 de julho de 1932
NÃO SE ARREPENDEU DE NENHUM NEGÓCIO FEITO
“Em todos eles, eu fui bem-sucedido, graças a Deus, aos amigos, à minha honestidade. Tudo isso é muito bom para um empresário. É um outro patrimônio


JLPolítica - Por que o senhor nunca se aventurou na atividade política?
RJS -
Porque o meu pensamento foi sempre um pensamento voltado para o mundo empresarial. Quando eu já havia chegado Aracaju, fui convidado para ser prefeito de Estância. E eu disse a Dr. Jorge Leite, que era o chefe político de lá, que meu pensamento era voltado para empresas, e que não tinha espaço para política. Não é que eu não goste da política. Eu só acho que os políticos têm que ser pessoas de bem.

JLPolítica - Qual é o seu conceito da classe política sergipana e brasileira?
RJS -
A tendência é a de melhorar, porque os que estão aí hoje estão se ajustando.

JLPolítica - O que lhe levou à cadeira de rodas?
RJS -
Lamentavelmente, foi uma operação mal feita. Foi uma cirurgia da coluna cervical, que eu fiz aqui em Aracaju, quando poderia ter feito em São Paulo ou no Rio de Janeiro.

JLPolítica - O senhor é uma pessoa triste?
RJS -
Não, de jeito nenhum. A vida continua e não é uma cadeira de rodas que me impede de ser ou estar alegre. Eu nunca fui triste. É da minha índole, da minha personalidade.

JLPolítica - O que é a velhice para o senhor?
RJS -
A velhice é a continuação da vida e ninguém pode fugir dela, a não ser que morra na juventude. Você tem que enfrentar a velhice com alegria.

“Em todos eles, eu fui bem-sucedido, graças a Deus, aos amigos, à minha honestidade", observa, sobre os seus negócios
TEMPO PARA SER UM HOMEM LIGADO À LUTA DE CLASSE
“Eu fundei a Câmara de Dirigentes Lojistas em Estância, e a presidi, e aqui em Aracaju procurei me aproximar da classe empresarial, através da Associação Comercial. Sempre vivi no meio dos empresários, para discutirmos os temas necessários”


JLPolítica - Há espaço para um pessimista no mundo do empreendedorismo?
RJS -
Não, não existe. Você tem que ser sonhador, otimista, empreendedor. Quem pensa de forma pessimista, não vai a lugar nenhum.

JLPolítica - Qual é o peso de Estância na atividade empreendedora comercial na comparação com Lagarto e Itabaiana?
RJS -
Estância é uma cidade industrial. Sempre foi. Ela sobrevive pela indústria. Já Lagarto e Itabaiana, tem mais comércio.

JLPolítica - O senhor tem tempo e interesse de acompanhar o dia a dia político de Sergipe e do Brasil?
RJS -
Tenho, porque de qualquer maneira eu leio as revistas, a parte de comércio, social e de política para ter ideia do que está acontecendo.

JLPolítica - E o que o senhor acha do Brasil?
RJS -
Eu acho que o país está voltando a ressurgir. E torço para que Sérgio Moro consiga moralizar o país de novo.

JLPolítica - O que a corrupção provoca num país?
RJS -
Tudo de negativo. A corrupção vem para desmoralizar a nação perante as outras, perante o mundo. O Brasil foi desacreditado muitos anos por não pagar as suas dívidas, hoje está tentando sair do Fundo Monetário Internacional, e espero que o Jair Bolsonaro consiga proporcionar ao país a volta do seu crescimento.

“Eu fundei a Câmara de Dirigentes Lojistas em Estância, e a presidi", registra
O QUE É IMPRESCINDÍVEL A UM BOM HOMEM DE NEGÓCIOS
“É o de ele ser honesto. De ser uma pessoa de bom relacionamento, que trate a todo mundo bem. É como eu sempre disse: “Negociando e fazendo amigos”. Esse é e foi o meu slogan”


JLPolítica - Qual é a escolaridade do senhor?
RJS -
Na realidade, eu não tive tempo de estudar. Até porque no interior não havia isso de faculdade. Só tinha curso técnico, que foi até onde eu cheguei.

JLPolítica - O senhor se arrepende por não ter feito uma faculdade qualquer?
RJS -
Não, porque a vida foi andando e me levando. Para ganhar dinheiro, não é preciso ser um formado. A pessoa tem que ter tino administrativo e tino comercial, vontade de crescer e coragem para trabalhar.

JLPolítica - O que é o trabalho para o senhor?
RJS -
Eu acho o trabalho uma virtude das pessoas de bem, de quem precisa vencer os obstáculos da vida e atingir os objetivos.

JLPolítica - Qual é o peso da confiança entre as pessoas empreendedoras, e sobretudo para aquelas que trabalham com vendas?
RJS -
A confiança é tudo, e é necessária, porque se não confiar não vai para frente. Tem que confiar mesmo.

JLPolítica - O senhor se arrepende de determinadas confianças que depositou?
RJS -
De jeito nenhum. De nenhuma. Todos corresponderam.

“Negociando e fazendo amigos, esse é e foi o meu slogan”, comenta
ACOMPANHA O RITMO DOS FILHOS NOS NEGÓCIOS.
“Vejo que eles trabalham certo. Que eles têm uma imagem boa no mercado, que atendem a todo mundo bem, seguindo o lema que eu procurei passar para cada um. Eu sempre disse a eles que o bom atendimento ao cliente gera negócios”


JLPolítica - O senhor já fez algum negócio do qual se arrependeu depois?
RJS -
Não. Em todos eles, eu fui bem-sucedido, graças a Deus, aos amigos, à minha honestidade. Tudo isso é muito bom para um empresário. É um outro patrimônio.

JLPolítica - Pode-se ser bom empresário sem saber comprar?
RJS -
Não. Ele tem que saber comprar e vender. Tem que comprar bem para vender bem.

JLPolítica - O senhor fez inimigos na sua vida empresarial e pessoal?
RJS - 
Não. Graças a Deus, não. Tenho 80 anos de comércio e 80 anos de amizade.

JLPolítica - Para que serviria o inimigo?
RJS -
Não há vantagem nenhuma em se ter um. Temos é que dialogar, tem que se chegar a um divisor comum, e seguir o dia a dia em paz.

JLPolítica - A sua mãe é Mariath Amado Souto Santos. Qual o vínculo de parentesco deste Amado com o escritor Jorge Amado?
RJS -
A minha mãe é da família de Jorge Amado. Eles são primos. Não sei se chegam a ser primo de primeiro grau ou de segundo grau, mas são parentes. Mas acredito que não tenham se conhecido, pois quando ele esteve em Estância meu pai já era comerciante, e estava focado em negociar.

“Vejo que eles trabalham certo", sobre os filhos nos negócios
DO PARENTESCO COM JORGE AMADO
“Minha mãe é da família de Jorge Amado. Eles são primos. Não sei se chegam a ser de primeiro grau ou de segundo, mas são parentes. Mas acredito que não tenham se conhecido, pois quando ele esteve em Estância meu pai já era comerciante, e estava focado em negociar”


JLPolítica - O senhor tem medo da morte?
RJS -
De jeito nenhum. Isso aqui é uma viagem, com uma chegada e uma partida. A morte é o término da viagem. E eu acredito que estou fazendo uma boa viagem na vida. Eu casei, minha primeira esposa, Suele Fontes Faria Souto, foi uma pessoa de quem eu gostava muito, realmente importante para minha vida, que me ajudou, não criou obstáculos para que eu viesse para Aracaju. Compreendeu o meu trabalho, que é o de ser administrador e promotor de vendas também, porque pela manhã eu trabalhava na administração e à tarde e à noite eu ia promover a cerveja para atingir a grande meta, que foi quando eu cheguei a dominar os 90% do mercado. Ela faleceu, eu fiquei viúvo e voltei a casar. Ana Maria Nascimento e eu já estamos há 25 anos juntos.

JLPolítica - O que o senhor diria aos empresários sergipanos nesse momento de crise?
RJS -
Eu diria que não existe crise. Existe apenas uma maneira de criar novos horizontes para se sair dos momentos que alguns chamam de crise. Então, eu sugiro que não pensem em crise. Pensem em superar os obstáculos, pois eles são os mesmos que existiam antigamente. Agora, entendo o governo poderia liberar mais dinheiro para emprestar aos empresários, aos industriais, porque eles e isso geram emprego.

JLPolítica - O senhor não acha que o próprio governo precisa fazer mais pela infraestrutura do país?
RJS - 
Sim. Isso é uma necessidade.

JLPolítica - O senhor tem queixas da memória? Ela tem lhe traído?
RJS -
Não. Minha memória é muito boa. É nota dez. E, depois, o que ela não suporta, eu tomo nota. É a solução. É uma forma de protegê-la.

Ao lado do ex-governador Déda, do prefeito Edvaldo Nogueira e amigo Pradinho: convidado por Jorge Leite para disputar Prefeitura de Estância, recusou.
DA CAPACIDADE DOS FILHOS FRENTE ÀS EMPRESAS
“Eles já demonstraram ser capazes, são pessoas trabalhadoras, responsáveis, com visão, que sabem atingir o objetivo de suas vidas. Acredito que que saíram a mim (risos) e que minhas lições serviram para eles”


JLPolítica - Eles ouvem e acolhem as ponderações do senhor?
RJS -
Eles decidem se vão acolher ou se não. Eu deixo a critério deles. Não imponho nada.

JLPolítica - Como é a sua relação com as empresas hoje?
RJS -
Eu acompanho. Vejo que eles trabalham certo. Que eles têm uma imagem boa no mercado, que atendem a todo mundo bem, seguindo o lema que eu procurei passar para cada um. Eu sempre disse a eles que o bom atendimento ao cliente gera negócios, e creio que todos eles têm feito isso.

JLPolítica - Qual é a importância dos filhos na vida de uma pessoa?
RJS - 
Ah, eles são muito importantes, porque significam que você plantou uma semente. Através deles você permite que a sua geração continue crescendo e se perpetuando.

JLPolítica - Qual é o traço principal e imprescindível de um bom homem de negócios?
RJS -
É o de ele ser honesto. De ser uma pessoa de bom relacionamento, que trate a todo mundo bem. É como eu sempre disse: “Negociando e fazendo amigos”. Esse é e foi o meu slogan. São 80 anos de vida comercial, sempre tratei todo mundo bem e fiz amigos. Nesses 87 anos de vida, sendo 80 de comércio, eu nunca fiz nenhum inimigo. Só fiz amigos.

JLPolítica - Quais são os homens do empreendedorismo sergipano do passado que marcaram a sua visão empresarial?
RJS -
Um deles foi José Pinheiro Alvéolos, meu primeiro patrão. Mas também Pedro Barreto Siqueira. O industrial Roberto Constâncio Vieira, Oviêdo Teixeira, Augusto Franco, Manoel Aguiar Menezes. Todos foram pessoas de bem, que viviam do trabalho e dos negócios, de uma maneira muito responsável.

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“O Pedro Siqueira foi um grande homem. Uma pessoa de bem, um político bem intencionado, que sempre pensava em ajudar. E quando me desliguei da empresa em que trabalhava, ele procurou me ajudar”


JLPolítica - Foi pacífico o processo?
RJS -
Foi pacífico. Com o diálogo, sempre se encontra a melhor maneira de atingir um objetivo. Meus filhos sempre foram unidos. Todos eles trabalhavam comigo quando eu tinha a Disberj. Eles conviviam bem, tinham um bom relacionamento.

JLPolítica - Como é que o senhor acompanha o desempenho dos três à frente dos negócios?
RJS -
Eles já demonstraram ser capazes, são pessoas trabalhadoras, responsáveis, com visão, que sabem atingir o objetivo de suas vidas. Acredito que que saíram a mim (risos) e que minhas lições serviram para eles.  

JLPolítica - O senhor imaginaria que as empresas fundadas pela sua pessoa poderiam vir a gerar mil empregos diretos sob a direção de seus filhos hoje?
RJS -
Sim, porque eu sempre confiei neles.

JLPolítica - Qual é o conceito que o senhor tem da Fasouto enquanto empresa regional que avança sobre Sergipe?
RJS -
É o melhor possível. Eu dou os parabéns a Juliano Cesar, porque ele foi inteligente. Eu comprei esse prédio em que estamos falando e cheguei a iniciar um pequeno negócio da Fasouto. E Juliano fez crescer. Hoje, já são quatro lojas e mais um Centro de Distribuição para inaugurar este ano em Nossa Senhora do Socorro. Graças a Deus, ele tem atendido ao objetivo de vida dele.

JLPolítica - Que tipo de consultor é Raimundo Juliano hoje nas empresas comandadas por Ana Suely, Juliano César e Cynthia?
RJS -
Eu me relaciono muito bem com todos eles. Dou liberdade a eles para que façam seus próprios negócios e dou minha sugestão.

“Ser caixeiro viajante me deu régua e compasso", reconhece Raymundo Juliano, que foi um grande promoter em seu tempo
UM CAIXEIRO VIAJANTE NO ERMO DO MUNDO AOS 15 ANOS
“Ser caixeiro viajante me deu régua e compasso para isso, porque eu já sabia negociar, comprar e vender. Andei em lombo de burro em Sergipe e pelo Norte da Bahia - Paripiranga, Adustina, Coronel João Sá. Estou certo de que eu não tinha 15 anos”


JLPolítica - O Bar Central, em Estância, lhe serviu de ponto de partida para os negócios de representação da Antártica e outras atividades?
RJS - 
Ah, sim, serviu, porque foi ali que eu comecei a comprar cerveja para fazer estoque, porque sempre faltava cerveja no mês de março - em março, a cerveja acabava por causa do carnaval. Então, eu ia para o Rio de Janeiro buscar cerveja, porque lá era a fonte fornecedora para o país. Fazia o estoque, e em novembro começava a vender.

JLPolítica - O que é que significou para a sua vida empresarial e pessoal a figura de Pedro Siqueira?
RJS -
Ah, o Pedro Siqueira foi um grande homem. Uma pessoa de bem, um político bem intencionado, que sempre pensava em ajudar. E quando me desliguei da empresa em que trabalhava, ele procurou me ajudar, fazendo a ponte para que eu fizesse negócio com o Bar Central, porque o proprietário do Bar Central já era um homem de idade e estava querendo vender. Eu sou muito grato ao Pedro, pois ele realmente foi a pessoa que deu uma grande alavancada na minha vida. O Pedro Siqueira confiou em mim e avalizou título para mim, então boa parte do que sou hoje eu devo a ele.

JLPolítica - O mundo de ontem era mais fascinante que o de hoje?
RJS -
A diferença que existe hoje é que, lamentavelmente, a quantidade de pessoas desonestas é maior do que antigamente. Nesse antigamente aí você andava com dinheiro nos bolsos pela rua, ninguém lhe atacava. Hoje você não pode fazer isso.

JLPolítica - Do alto dos seus 87 anos, o senhor acredita ser mais fácil empreender hoje do que quando começou a vida empresarial?
RJS -
Não se pode achar que ontem foi melhor do que hoje. A vida tem que ser de luta, de procurar vencer os obstáculos sempre.

JLPolítica - O que lhe levou à partilha de suas empresas ainda em vida entre os seus três filhos?
RJS -
Fiz isso porque notei que existe uma facilidade em cada um dos filhos para administrar um tipo de negócio. Para que um não venha a prejudicar o outro ou achar que trabalha mais do que outro. Cada um tem a sua empresa e cada um vai procurar crescer com ela, para torná-la independente.

“O engraxate foi um menino que sempre teve vontade de ganhar dinheiro para ter uma vida independente", relembra
DO MENINO QUE ENCAROU O TRABALHO AOS SETE ANOS
“O engraxate foi um menino que sempre teve vontade de ganhar dinheiro para ter uma vida independente. Porque a estrada normal das pessoas é a de não depender de ninguém”


JLPolítica - Quais são as lembranças que o senhor carrega ainda hoje do menino engraxate?
RJS -
O engraxate foi um menino que sempre teve vontade de ganhar dinheiro para ter uma vida independente. Porque a estrada normal das pessoas é a de não depender de ninguém, e sim a de trabalhar e vencer os obstáculos que existirem.

JLPolítica - Os seus pais eram pessoas de dificuldade?
RJS -
Não. Meu pai era comerciante de tecido. Mas ele tinha a vida dele e eu tinha que fazer a minha. Então, eu nunca esperei o meu pai. Sempre fui à luta.

JLPolítica - O que é que a cidade de Estância representa na sua visão afetiva do mundo, das coisas e dos negócios?
RJS -
Estância é uma cidade querida. É onde eu vivi até os 40 anos. Foi lá onde eu vi e aprendi muita coisa: a primeira festa de cerveja de Sergipe foi eu que eu fiz, fundei o Clube de Dirigentes Lojistas. Construí em Estância uma lavanderia pública, porque as mulheres de lá lavavam roupa nas pedras do rio Piauitinga. Eu vendo aquilo, achei que fosse possível fazer alguma coisa para beneficiá-las – e fiz. Elas eram lavadeiras, ganhavam por peça de roupa lavada.

JLPolítica - Quais as lições que lhe renderam a sua condição de caixeiro viajante precoce, aos 15 anos?
RJ -
Eu já estava preparado para a luta da vida empresarial, que era o meu sonho. Ser caixeiro viajante me deu régua e compasso para isso, porque eu já sabia negociar, comprar e vender. Andei em lombo de burro em Sergipe e pelo Norte da Bahia - Paripiranga, Adustina, Coronel João Sá. Estou certo de que eu não tinha 15 anos.

JLPolítica - O senhor foi caixeiro viajante em nome de que empresa?
RJS -
Em nome da José Pinheiro Alvéolos, da área de atacado, mesma área que meu filho Juliano Cesar Faria Souto trabalha hoje. Nada nesta vida é à toa.

Vê hoje o mundo de cima de uma cadeira de rodas. Ele pediu para dar entrevista dentro da maior loja da Fasouto, tocada pelo filho Juliano Cesar. Era cumprimentado a todo instante
ORGULHO DOS AVANÇOS DO FILHO E DA FASOUTO
“Eu dou os parabéns a Juliano Cesar, porque ele foi inteligente. Eu comprei esse prédio em que estamos falando e cheguei a iniciar um pequeno negócio da Fasouto. E Juliano fez crescer”


JLPolítica - O senhor teve dificuldade de relacionamento com eles?
Raymundo Juliano Souto -
De jeito nenhum. Sempre tratei todos muito bem e recebi o mesmo tratamento de todos eles e de muitos mais.

JLPolítica - Como é que foi a relação pessoal do senhor com as entidades de classe do comércio de Sergipe? Teve tempo de presidir alguma?
RJS -
Tive tempo sim. Eu fundei a Câmara de Dirigentes Lojistas em Estância, e a presidi, e aqui em Aracaju procurei me aproximar da classe empresarial, através da Associação Comercial. Sempre vivi no meio dos empresários, para discutirmos os temas necessários.  

JLPolítica - O que lhe levou a trocar, aos 40 anos, Estância por Aracaju?
RJS - 
Foi porque eu precisava crescer mais, e esse seria mais um desafio em minha vida. Aqui na capital tudo era mais propício. E quando surgiu a oportunidade de trazer a Antárctica para Sergipe, me candidatei. E eles viram que eu tinha condições de ser um distribuidor de verdade.

JLPolítica - Durou quantos anos a sua parceria com a Disberj e a Antárctica?
RJS -
Tem uma pequena particularidade nisso tudo que eu preciso contar: quando eu cheguei Aracaju, em 1970, a Brahma tinha 90% do mercado do Estado. Eu, com a Antárctica, só tinha 10%. Mas nada disso me impediu de vir para Aracaju e mostrar o meu talento, a minha capacidade de avançar. Pela forma como cada uma tratava o seu negócio, eu cheguei a reverter: eu fui para 90% de mercado e a Brahma caiu para os 10%.

JLPolítica - Qual é a grande lição que a Disberj lhe deu na vida?
RJS -
A maior lição foi a de ser independente, de uma maneira correta, amiga e cordial. E isso me enaltece, me deixa tranquilo para viver na sociedade.

“Eu dou os parabéns a Juliano Cesar, porque ele foi inteligente", exalta, sobre seu filho
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