Opinião
Por | 11 de Nov de 2019, 16h47
Agora, é Guedes
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Agora, é Guedes

[*] Emerson Sousa

Depois de 580 dias, o ex-presidente Lula está livre do seu encarceramento. A força do seu carisma e do seu simbolismo, percebe-se, já transformam o seu simples deslocamento em um evento de forte impacto político.

Porém, a despeito do que venha fazer, uma coisa é certa: ele vai para cima do Sr. Bolsonaro e do Sr. Moro. Esses serão os seus alvos primordiais em seus primeiros lances. Afinal, disso depende a sobrevivência do seu legado histórico.

No entanto, tal qual uma bola de bilhar que, arremetida contra outra, encaçapa uma terceira, é bem provável que a primeira vítima da arremetida do ex-presidente petista seja o atual ministro da economia, o Sr. Paulo Guedes.

Isso porque, em sua sanha de resgatar o projeto econômico do velho economista Eugênio Gudin, o Sr. Guedes promove uma política econômica desarticuladora das ações de proteção social e de precarização das relações de trabalho.

O resultado dessas medidas, ditas como sendo de austeridade, seria o aumento dos níveis gerais de pobreza e de concentração de renda, como já vem acontecendo desde 2016.

Esse cenário é terrível para o Sr. Bolsonaro, uma vez que compromete seriamente o seu projeto de continuidade na condução dos destinos do país. Ele vai precisar que, o mais rápido possível, como uma das formas de se anular o ex-presidente, o país volte a crescer e gerar emprego.

Claro que a gravidade da economia brasileira – que gerou R$ 6,8 trilhões em 2018 – e o perfil demográfico do país tendem, ainda que pouco, a reduzir sozinhos o desemprego, mas a população que experimentou a expansão dos primeiros anos deste século vai querer mais. É justamente nesse ponto que “a porca torce o rabo”.

A causa disso é o fato de que o projeto econômico do Sr. Guedes requer salários e poder de compra deprimidos para que não seja afetada a estrutura de custos das empresas e nem se criem pressões inflacionárias.

Uma valorização real de 83,7% no salário mínimo – quando atualizado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) – como a ocorrida nos mandatos petistas seria um pesadelo para o Sr. Guedes. Tanto que ele congelou essa medida remuneratória.

Uma vez que o Sr. Bolsonaro é um cristão novo nas hostes liberais (e nem dos mais fiéis), é possível que o seu instinto de sobrevivência política fale mais alto, sendo bem provável que ele agradeça os préstimos de seu atual ministro e peça que ele tire umas férias por tempo indeterminado.

A soltura do ex-presidente Lula virou a ampulheta para o Sr. Guedes e ele vai ser chamado à realidade em breve, o que vai colocá-lo entre o seu desejo de transformar o Brasil em um novo Chile tropical e a necessidade de garantir a reeleição do seu chefe.

No fim das contas, a mensagem que se quer passar aqui é que, talvez, a movimentação política do ex-presidente Lula force o Sr. Bolsonaro a demitir seu ministro da economia.

[*] É economista.

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