Opinião
Por | 02 de Jun de 2018, 19h39
Profissão de fé
\"Gerenciar a saúde pública foi um desejo meu. Um desafio a que me impus\"
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Profissão de fé

[*] Almeida Lima

Gerenciar a saúde pública foi um desejo meu. Um desafio a que me impus. Vivo bem quando estou a carregar pedras. Afinal, a saúde estava tão ruim que era comum se dizer: “não tem doutor que dê jeito”. Enfrentá-la me agradava. Eu sabia que as dificuldades eram gigantescas. E isso me empolgava. Resolver o problema seria uma realização pessoal e política enquanto homem público.

Jackson Barreto me nomeou em 27/01/2017. Agradeci e lhe disse: não serei candidato a nada e não farei uso político da secretaria; farei gestão em saúde pública; preciso que você repasse os mesmos recursos de 2016, nenhum centavo a mais; tenha certeza que faremos muito mais, com bem menos.

Fui à luta. Procurei o Ministério Público Federal, o Estadual e o Tribunal de Contas do Estado. Pedi apoio e assumi a profissão de fé de gerenciar a saúde dentro de princípios morais e constitucionais, cumprindo e fazendo cumprir as decisões e recomendações de todas essas instâncias e do Poder Judiciário. Assim foi feito. Nenhuma surpresa. Nenhum arranhão.

Do mesmo modo, nenhuma surpresa para com os embates e os achincalhes diários que sofri, dos mais idiotas e imbecilizados. Tudo era previsível e foi suportado. Encontrava-me emocionalmente preparado. Interesses funcionais, políticos e empresariais de natureza espúria não iriam me abalar nem demover os propósitos delineados. A saúde pública era o que importava. Vencer o caos era o ideário.

Enfim, aos poucos e de forma continuada o caos ia sendo domado. Mostrava-se que a saúde tinha jeito. Os problemas começavam a ser resolvidos, um a um. Mas de repente eis que surge um elemento perigoso: a inveja, o ciúme de homem. E esse era muito mais grave porque se tratava de ninguém menos que o vice-governador, o primeiro da linha sucessória ao governo do estado, o candidato indicado à sucessão. A pequenez desse moço foi a grande surpresa para mim. Um pigmeu, tamanha a sua mesquinharia.

A Secretaria de Saúde vinha se destacando na agenda positiva do governo, e a tendência era aumentar de forma considerável. Mas isso o incomodava. Ele se sentia diminuído. É que o moço não tem luz própria. Ele sempre foi um estorvo dentro do governo. Nada produzia. Às solenidades da saúde ele não comparecia, e quando chegava era atrasado e ficava pelos cantos, tal qual a garrafa de gás, mas sempre a resmungar e demonstrar insatisfação. Certa vez na Praça Fausto Cardoso foi preciso Benedito de Figueiredo repreendê-lo para não causar um vexame, um escândalo no palanque.

A partir de setembro de 2017, não sei por que “cargas d’água”, Jackson Barreto transferiu para ele a tarefa de gerenciar os repasses financeiros para as secretarias. Foi aí que se sentiu em condições de frear as ações positivas da secretaria de saúde. E assim foi feito. Os repasses financeiros foram diminuídos ao ponto de, em 2017, as contas serem fechadas tendo a secretaria da saúde recebido menos R$ 36.400.000,00 que o ano de 2016. Este ano de 2018, o déficit já chega a mais de R$ 40.000.000,00 até o mês de maio, sem que se cumpra o mínimo de 12% como determina a lei.

Assim, eu honrei o compromisso de fazer mais com menos. Fiz prevalecer a minha profissão de fé, embora o governo não tenha cumprido a sua parte: repassar os mesmos recursos do ano anterior.

Não sem razão eu reafirmo: Deus nos livre de mais quatro anos de governo desse moço.

[*] É advogado, ex-deputado estadual e federal, ex-senador e ex-secretário de Estado da Saúde de Sergipe.

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