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Por Folha de São Paulo | 04 de Dez de 2018, 13h29
Com críticas sobre articulação, Bolsonaro revê estratégia e chama partidos para conversar
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Com críticas sobre articulação, Bolsonaro revê estratégia e chama partidos para conversar

Durante campanha, presidente eleito criticou arranjos políticos; esta semana negociará com MDB, PRB, PSB, PSDB, PR e DEM

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, desembarca nesta terça-feira (4) em Brasília para iniciar uma rodada de conversas com as bancadas partidárias.

Após um mês do governo de transição, ele terá esta semana os primeiros encontros com representantes partidários, quando já tem definidos 20 dos seus 22 ministros. Trata-se de uma mudança na estratégia que vinha sendo adotada até então. 

Inicialmente, Bolsonaro se reuniu apenas com bancadas temáticas, como fez com a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), com os evangélicos e com os parlamentares ligados à área da saúde. 

Desses encontros saíram nomes com os de Tereza Cristina, para Agricultura, e de Luiz Henrique Mandetta, para Saúde. 

Montado o primeiro escalão, o presidente eleito vai mudar a estratégia para conquistar o apoio necessário para aprovação de projetos no Congresso. As primeiras conversas acontecerão na manhã de terça, com as bancadas do MDB e do PRB. 

Na véspera do encontro, o senador Romero Jucá (MDB-RR), presidente do MDB, escreveu nas redes sociais que a legenda manterá independência em relação ao governo a partir de 1º de janeiro.

"A partir de 1º de janeiro, o MDB manterá uma independência ativa. Apoiando medidas que buscam o crescimento do país, gestão eficiente e responsabilidade fiscal. No curto prazo não faremos oposição nem seremos base, discutiremos caso a caso", escreveu.

Jucá, que não se reelegeu senador, afirmou ser natural que parlamentares de seu partido conversem com Bolsonaro. 

"É natural parlamentares do MDB conversarem com o governo eleito, como acontecerá amanhã [terça]. Nós, enquanto partido, já deixamos nossa contribuição em forma de propostas para que os avanços que conquistamos na economia se mantenham", completou.

Os encontros ocorrem após queixas de parlamentares de que não estavam sendo recebidos por representantes do próximo governo. 

Até o momento, nenhum dos partidos declarou que vai compor oficialmente a base do próximo governo. O PSL, partido de Bolsonaro, saltou da bancada de 8 deputados para 52 nas eleições de outubro. No Senado, a legenda contará com quatro parlamentares.

Bolsonaro vinha evitando encontros partidários para evitar críticas de que dará continuidade ao governo de coalizão, no qual o Executivo distribui cargos em troca de apoio no Legislativo. 

Ao longo da campanha presidencial, ele criticou o modelo político adotado pelas gestões anteriores e venceu nas urnas prometendo aos eleitores por fim do toma lá dá cá.

Apesar do discurso e da definição de praticamente toda estrutura ministerial, com exceção de Meio Ambiente e Direitos Humanos, parlamentares tentam ainda emplacar seus aliados nas estruturas de segundo e terceiro escalões do próximo governo.

Além dos encontros de terça, Bolsonaro receberá as bancadas do PR e do PSDB, na quarta (5). A ideia é que ele dê continuidade aos encontros na próxima semana, para o qual estão previstas agendas com o DEM e o PSB, por exemplo.

O futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, deve participar das reuniões. Ele será um dos responsáveis pela articulação do Executivo com o Legislativo.

Onyx dividirá a tarefa com o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que chefiará a Secretaria de Governo.

Ele escalou um grupo de parlamentares que não foram reeleitos para auxiliá-lo nas conversas com o Legislativo no ano que vem. Entre eles estão o deputado Leonardo Quintão (MDB-MG) e Carlos Manato (PSL-ES).

O próximo governo terá pela frente o desafio de aprovar no Congresso projetos considerados impopulares como as reformas da Previdência e tributária, fortemente defendidas pela equipe econômica.

Em entrevista nesta segunda, Onyx disse que a gestão de Bolsonaro imprimirá uma nova forma de relação com o Congresso. Segundo ele, esse modelo ainda está em discussão.

Ao explicar como será a relação da nova gestão com os parlamentares, ele afirmou que o governo vai compreender quando um congressista não votar a favor de uma proposta do Executivo por questões pessoais, como as de foro íntimo ou o compromisso com algum segmento específico.

“Não haverá forçação de barra de que tem que entregar voto. Quando dá para votar, ok. Quando não dá, explica”, disse. 

Não estão previstos, por enquanto, encontros de Bolsonaro com deputados e senadores de partidos de esquerda. Ao longo da campanha ele afirmou que não teria diálogo com legendas como o PT e o PC do B.

Sem detalhar quais partidos e bancadas apoiarão o próximo governo, Onyx diz que o próximo governo conta com o apoio de 350 deputados e de cerca de 40 senadores. 

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