Reportagem Especial

Tatianne Santos Melo

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Plano de Recuperação Econômica gera boa expectativa

Diversos segmentos produtivos somam-se ao Governo na concessão de ideias que gerem os 100 mil empregados pensados. CUT reclama ausência do sindicalismo

Plano de Recuperação Econômica e de Geração de Emprego e Renda. O nome é bonito. Pomposo. Mas o objetivo é simples, claro, autoexplicativo até: tirar Sergipe do marasmo econômico em que se encontra. Numa linguagem popular, também pode ser chamado de luz no fim do túnel. Ou de utopia?

É assim que o Plano surge, como uma das últimas esperanças de recuperação em meio a uma economia em frangalhos e a um cenário completamente desfavorável nos últimos dez anos - como mostrou o Anuário Socioeconômico da Universidade Federal de Sergipe em 2017.

E como não dá para mudar uma década passada - e perdida -, o objetivo do Governo, com o Plano, é o de mudar as perspectivas para os próximos anos - para melhor, claro, e começando ainda por 2018. Para isso, o Plano traz uma série de ações a serem executadas a curto e médio prazos.

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FICOU DE FORA

Um dos setores que foi convocado e, inicialmente, não aceitou se reunir com o secretário da Fazenda e do Turismo, Cicinato Júnior, para fazer ponderações referentes ao Plano foi o do Turismo. Isso ocorreu, segundo Antônio Carlos Franco Sobrinho, que preside a Associação Brasileira da Indústria de Hoteis – ABIH –, porque o Governo já foi procurado pelo trade em diversas ocasiões e jamais sinalizou por um encontro.

Mas Antônio Carlos Franco garante que a postura não foi de revanchismo, e sim de necessidade mesmo. “Não iremos ao encontro do secretário, porque entendemos que, diante do grau de dificuldades do setor, precisamos conversar diretamente com o governador”, esclarece.

Em nota assinada pelas nove instituições que compõem o trade turístico do Estado, elas dizem que “as associações que representa vêm externar sua preocupação com a forma como o Turismo vem sendo tratado pelo Governo do Estado de Sergipe, que demonstra não ter compromisso com um setor tão essencial para a economia e que movimenta 52 cadeias produtivas”.

SETOR DESRESPEITADO

Diz ainda que “nos últimos meses, essa demonstração de total desinteresse tem se agravado, em virtude de acontecimentos recentes, que escancaram a falta de profissionalismo da atual gestão pública estadual com o setor”.

Além disso, garante que “o trade já vem alertando há anos para essa lamentável situação. E há pouco mais de 35 dias, solicitou oficialmente uma audiência ao governador Belivaldo Chagas, mas não obteve retorno. Infelizmente, é nítido que o turismo continua sendo tratado com interesses políticos-eleitoreiros, sem o mínimo profissionalismo e gestão”.

E conclui afirmando que “o momento atual exige decisões técnicas, eficientes e parcerias envolvendo os setores públicos e privados. Somos um setor essencial para a economia, com a geração de empregos, renda e impostos. E só queremos ser tratados com respeito e responsabilidade, algo que, infelizmente, não vem ocorrendo”.

APRESENTAÇÃO

Mesmo assim, depois de o JLPolítica noticiar que o trade não colaboraria com o Plano sem antes se reunir com o próprio governador, uma reunião foi agendada para esta semana. “A essa altura, qualquer diálogo com o poder público só será produtivo se iniciado com o próprio governador, pois, necessariamente, deve existir vontade política de querer tirar o nosso turismo da UTI”, reforça Antônio Carlos.

O Governo detalhará o Plano de Recuperação numa entrevista coletiva a ser concedida pelo governador Belivaldo Chagas e que também envolverá os gestores de diversas Secretarias, especialmente as de Fazenda e Desenvolvimento Econômico.

Mas o que já está por certo é que do jeito que está, não dá para continuar e que, por isso, qualquer iniciativa é melhor do que nenhuma iniciativa. Do contrário, luz alguma será capaz de iluminar esse túnel. 

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INDÚSTRIA

A elaboração do Plano de Recuperação Econômica, aliás, pode trazer de volta o peso da indústria para a economia do Estado. Ela respondia por mais de 22% do Produto Interno Bruto – PIB – sergipano em 2015 e por mais de 18% dos empregos formais do Estado em 2016. “Essa participação é muito significativa, mas já foi maior, sendo um plano de estímulo econômico de extrema relevância para fazer o segmento industrial voltar a crescer, e de forma acelerada”, pondera.

Por isso, Rodrigo considera o Plano uma excelente iniciativa e desconsidera as críticas pelo fato de ele estar sendo lançado e produzido no segundo semestre de um ano eleitoral. “O Estado não pode parar por causa das eleições. Ações que visem melhorar o ambiente econômico são bem-vindas em qualquer tempo”, ressalta o economista.

Plínio Pugliesi, presidente interino da Central Única dos Trabalhadores – CUT – em Sergipe, pensa diferente. Para Plínio, o lançamento do Plano nesse período o fez vê-lo com desconfiança. “Faz pensar que esse Governo avançará para o próximo, mas essa é uma variável que não se controla”, pondera Plínio.

PLANO ELEITOREIRO?

Para Plínio Pugliesi, ao traçar metas para um período que avança num próximo mandato, o Governo parece estar condicionando a recuperação econômica de Sergipe a uma reeleição do govenador Belivaldo Chagas. “Porque ele e Jackson são o mesmo Governo”, ressalta. “Ao invés de gerar cem mil empregos, parece uma tentativa concreta de gerar cem mil votos”, completa.

Plínio lembra ainda que assim como não se sabe quem será o próximo governador de Sergipe, também não é possível saber quem comandará o país. “E o Estado de Sergipe é extremamente dependente das verbas federais”, diz. As desconfianças com relação ao Plano e à execução dele não param por aí.

Plínio Pugliesi também chama a atenção para o fato de o Governo estar ouvindo de classes patronais e não as que representam os trabalhadores. “A CUT é a maior central sindical do Estado, reúne quase 90 sindicatos e até agora não houve nenhum contato do Governo para participarmos desse debate, o que seria importante, já que a gente tenta construir um Estado democrático”, argumenta.

DESEMPREGO ALTO

Para ele, a postura do Governo nos últimos anos tem prejudicado a classe trabalhadora, em vários setores, privados e públicos, o que diverge totalmente dessa intenção de gerar mais de cem mil empregos em três anos e meio. “Sergipe hoje reúne os piores índices de desemprego, com a taxa maior do que a do próprio país”, destaca.

“Tem que ter um cuidado com a qualidade desses empregos que eles prometem, porque no âmbito nacional o que temos visto é que quando o Governo cria empregos, são informais, precários”, acusa.

Além disso, o sindicalista considera que só se recupera algo que está fora de controle. E diz que é isso que o Estado parece estar fazendo. “Se vai recuperar, é porque perdeu. Significa que ele admite que perdeu o controle das finanças e destruiu a economia sergipana”, critica Plínio.

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EXPECTATIVAS

Para Brenno, só a ideia de concepção de um plano como este já gera bastante expectativa no setor. “Porque a gente fica muito apreensivo com o atual cenário. Principalmente depois da greve dos caminhoneiros, que tornou negativo o pouco crescimento que vínhamos tendo. Houve uma retração não só no comércio, mas na economia como um todo”, diz ele.

O encontro dos empresários Albano Franco e Ricardo Franco com a equipe da Sefaz está previsto para a próxima sexta-feira, dia 20, e Ricardo admite que vai movido por essa mesma expectativa. “Acho muito bom ter a iniciativa, e acredito que o debate deve ser ampliado e não se ater apenas aos empresários”, sugere Ricardo. Para ele, médicos, sindicalistas e trabalhadores, por exemplo, também devem ser ouvidos.

“E com a mesma seriedade, porque todo mundo tem uma contribuição a dar”, ressalta. Ricardo acredita que “pior é não pensar em nada” e diz que é preciso ser otimista nesse momento. “O que importa é que estão tomando uma atitude. É como diz um importante líder chinês: não interessa a cor do gato, o importante é que ele pegue o rato”, destaca.

MACROECONOMIA

Além dessa visão otimista, Ricardo Franco também demonstra uma postura proativa com relação ao mercado – no sentido de que a iniciativa privada deva assumir as suas responsabilidades frente ao desenvolvimento. Isso porque, na opinião dele, não se pode cobrar do Estado uma conta que não é dele. “Ao Estado, cabe ofertar infraestrutura, tributação justa, educação, saúde, transporte, segurança... o resto vem como consequência. É isso que vamos dizer na sexta-feira”, afirma.

Para o economista Rodrigo Rocha, superintendente do Instituto Euvaldo Lodi em Sergipe, ligado à Federação das Indústrias do Estado, o caminho é exatamente esse. Rodrigo acredita que qualquer plano de criação de emprego deve passar, sim, pela melhoria do ambiente econômico, a fim de estimular investimentos.

“Dentro disto, várias questões são muito relevantes, como, por exemplo, uma racionalização tributária que torne o sistema mais eficiente do ponto de vista da redução da burocracia e da carga tributária para os empresários”, pontua.

AJUSTES NECESSÁRIOS

Outro ponto importante, na opinião de Rodrigo, é o aprimoramento dos serviços públicos para os negócios, reduzindo burocracia e os custos para licenciamento ambiental, para abertura e para o fechamento de empresas. “Merece destaque também a necessidade de redução das limitações de infraestrutura e logística do Estado”, observa.

Para Rodrigo, sempre é possível melhorar a situação existente, mesmo depois de praticamente uma década “perdida”. “Para isso, é necessário fazer uso de estratégias bem planejadas, com uma execução eficiente e um acompanhamento permanente, para se fazerem continuamente os ajustes necessários, de forma rápida e eficaz”, orienta.

Segundo Rodrigo, no caso da indústria, a elaboração de planos como esse pode melhorar o ambiente econômico e gerar boas expectativas, em especial quando é construído a partir do diálogo com a classe empresarial, que sabe exatamente quais são os entraves existentes, podendo contribuir com sugestões que melhorem o ambiente econômico de forma mais rápida e estruturada.

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CONTRIBUIÇÕES

Como disse o secretário, além das iniciativas do próprio Governo, o Plano também contará com sugestões de entidades de classe, como a Associação Sergipana dos Empresários de Obras Públicas e Privadas – Aseopp – e tantas outras.

O empresário Luciano Barreto, que preside a entidade – e o Grupo Celi –, foi ouvido no início da semana passada e não economizou nas sugestões, às quais o JLPolítica teve acesso. “Emprego é gerado com crescimento. E crescimento vem com investimento”, diz logo na introdução o documento em nome da Aseopp, levado por Luciano.

A lista de indicações não se atém apenas à construção civil, área em que Luciano atua e opera há anos. Isso porque, para ele, há a necessidade de se pensar mais tecnicamente o Estado, como já o fora um dia na década de 70, quando havia o Conselho de Desenvolvimento de Sergipe – Condese.

E exatamente por isso Luciano Barreto sugeriu a criação de um Núcleo de Gestores Públicos, um órgão com a atribuição de “pensar Sergipe”. “Caberia a esse Núcleo elaborar projetos para que, concluídos, possam ter financiamento dentro dos vários programas que a União sempre está lançando, bem como os bancos federais”, explica.

PILARES DA ECONOMIA

As sugestões de Luciano Barreto e da Aseopp pedem atenção para os “os pilares da economia sergipana”, e são elencadas as áreas de obras privadas e obras públicas - ele pensa nas tantas paradas em Sergipe – cerca de 1.000 – do setor de infraestrutura à moradia, de turismo, agricultura, pecuária e pesca, atenção aos recursos minerais de Sergipe, sobretudo ao petróleo, ao gás e ao potássio.

Nas dicas de Luciano Barreto e da Aseopp, coube sugestão desde pela agilização do Canal de Xingó, um carma negativo de Sergipe, a até mecanismos que possam fazer do Estado, por sua posição privilegiada entre Bahia e Pernambuco, um ponto de apoio à logística de grandes empresas, como Magazine Luíza e Casas Bahia.

As sugestões se preocuparam até em apresentar soluções que permitam fazer funcionar a fábrica de vidro de Estância, de Rui Vieira, do Grupo Constâncio Vieira com o Saint-Gobain. Assim como com a construção da Fábrica de Cimento de Santo Amaro pelo Grupo Dias Branco. O documento também fala nos setores têxteis, cerâmicos e sucroalcooleiro.

COMÉRCIO

Quem também foi ouvido pela equipe de construção do Plano de Recuperação Econômica foi Brenno Barreto, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Aracaju. Para Brenno, a inciativa é “louvável”. “Porque é uma sinalização de que o Governo estadual não está parado, e que está pensando em prol do Estado”, avalia o dirigente.

O encontro entre Brenno e a equipe da Sefaz, que está montando o Plano, ocorreu há cerca de duas semanas. Uma das sugestões da entidade é com relação aos fornecedores do Estado, que, na opinião de Brenno, também devem ter prioridade com relação aos pagamentos.

“O Governo prometeu não atrasar mais os vencimentos dos servidores e não pode mudar o problema de uma categoria para outra, porque cada uma tem peso na geração de renda, direta ou indiretamente”, pondera. Além disso, a CDL também considera importante que o Governo “enxugue a máquina”. Ou seja, que mantenha apenas os cargos essenciais para o andamento das ações do Estado.

“Criar empregos é fundamental, mas enxugar a máquina, com as Secretarias e os cargos comissionados, também”, reforça. De forma mais específica, a entidade pontuou a criação de um Conselho para ouvir as demandas do setor. “Tudo isso são inciativas que ao longo do tempo darão competitividade e alívio para refletir no comércio e nas vendas. Mas já dá para ver que o Estado está tendo iniciativa, boa vontade”, analisa.

Brenno Barreto: Estado apresenta boa vontade com essa iniciativa