
Ibovespa e as 13 quedas consecutivas ficarão para a história no mês de agosto
No último artigo escrito aqui neste Portal JLPolítica & Negócio, tentei dar uma aliviada no mau agouro do mês de agosto. Influenciado pelo articulista e advogado Aurélio Belém, que demonstrou, “estatisticamente”, que a quantidade de notícias ruins - supostamente características do mês - era na verdade um “viés de informação”, onde o peso atribuído às notícias ruins é significativamente maior que os atribuídos às notícias boas - que ocorreriam na mesma proporção.
Mas eis que a velha frase “Yo no creo em brujas, pero que las hay, hay” vem para reforçar toda má vontade com essa fase do ano. Nada a ver com a eliminação do Flamengo da Libertadores. Mas um fato que aconteceu no mundo econômico, e que certamente contribuirá para as incontáveis más notícias do mal afamado mês - o recorde de quedas sucessivas na Bolsa de Valores.
Nesses mais de 30 anos como economista, nunca tinha visto 13 quedas seguidas. Um recorde - negativo obviamente. Mesmo me considerando um cara acostumado com as oscilações do mercado financeiro - nada mais normal -, a quantidade de quedas consecutivas depõe contra qualquer análise de conjuntura baseada em um referencial teórico de economia minimamente decente.
A primeira surpresa - o esperado, após uma redução na taxa de juros - é que as expectativas em relação ao nível de investimento -das empresas, não das aplicações financeiras - aumente. Passa a ser mais vantajoso investir que aplicar no mercado financeiro -comparação das rentabilidades. Mas o que aconteceu?
Em primeiro lugar, a resposta elevação de investimentos a uma redução da taxa de juros não é tão automática quanto se imagina, principalmente no curto prazo, mesmo com a divulgação dos balanços semestrais - na sua maioria, positivos.
Uma segunda explicação, talvez a mais relevante para o que ocorreu, é que houve em agosto o que no mercado financeiro chamamos de “realização de lucros”. Em resumo - os investidores aproveitaram a grande valorização do Ibovespa, que até julho tenha valorizado cerca de 11%, e venderam suas ações - ou índice. Esse é um movimento com o qual devemos nos acostumar - há um preço de compra, de venda, e de recompra. Ação não é patrimônio imobiliário.
Há também o cenário externo. A China se defronta com problemas de recuperação econômica - para os padrões chineses, obviamente -, agravado pela crise no setor imobiliário. Nos Estados Unidos, há a previsão de um aumento nas taxas de juros, com títulos públicos americanos de longo prazo pagando aproximadamente 5% ao ano. Algo inédito.
No caso da China, a crise no setor imobiliário afeta fortemente grandes empresas brasileiras exportadoras de commodities, como a Vale, que possui peso significativo no Ibovespa. Os juros americanos certamente influenciam - e influenciarão - não só na alocação de recursos dos investidores brasileiros e estrangeiros como na própria cotação do dólar frente ao real, que vem se aproximado muito rapidamente de uma taxa próxima dos R$/US$ 5,00.
E como sempre, a influência da política. A demora na aprovação do arcabouço fiscal - aprovada no último dia 22/08 - gerou o aumento da incerteza no mercado - já propenso - financeiro. Reiterando o que tenho destacado nos últimos artigos - a construção de um ciclo de desenvolvimento para a economia brasileira é um esforço cotidiano. Óbvio? Certamente. Fácil? Nunca.
Agora é esperar o final do mês para ver o “tamanho do estrago”. Apesar de uma certa volta à normalidade - altas e quedas no Ibovespa -, as 13 quedas consecutivas ficarão para a história no mês de agosto.
Este ano completei 30 anos como economista. Minha carteira do Conselho Regional de Economia é de 07/07/1993. Mês 7. Julho. Felizmente.
Foto: Rovena Rosa - Agência Brasil
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