Articulista
José Roberto de Lima Andrade

É economista e professor da UFS. Escreve às sextas.

Sobre fatos, expectativas e incertezas
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Segundo o IBGE, a taxa de desemprego do terceiro trimestre desta ano é a menor taxa desde 2015

Novembro chegou. E com ele um conjunto de fatos importantes que deverão influenciar a dinâmica da economia neste final de 2023 e início de 2024. Afinal, são nos fatos, nas expectativas e nas incertezas que reside a beleza da economia.

Vamos aos fatos. O IBGE divulgou a taxa de desemprego do terceiro trimestre de 2023 - 7,7%. É a menor taxa desde 2015. Para além da boa nova do dado, merece destaque o fato de que todas as unidades da federação registraram crescimento na geração de emprego. Grande parte formal - carteira assinada - e no setor privado.

O segundo fato importante é a redução do aperto da política monetária. Traduzindo do economês - redução nas taxas de juros. Como vivemos em uma economia globalizada, as decisões de política monetária, principalmente nos Estados Unidos, acabam afetando a economia brasileira.

O FOMC - Comitê de Mercado Aberto -, equivalente americano do nosso Copom -, divulgou a manutenção das taxas de juros americana entre 5,25% a 5,5% ao ano.

No mesmo dia, o Comitê de Política Monetária do Banco Central - Copom - anunciou a redução na Taxa Selic em 0,5%, passando para 12,25% ao ano. Menor taxa de juros americana, menor pressão pela saída de capitais – principalmente na bolsa brasileira.

Mais investimentos, maior fluxo de moeda estrangeira. Dólar caiu, real valorizou. Bolsa subiu, maior volume de compra que venda de ações. O esperado.

Sem querer estragar a festa, a questão que surge é a de como os acontecimentos - positivos - citados anteriormente se traduzirão em expectativas que se consolidarão no médio e longo prazo.

Afinal de contas, as decisões econômicas, principalmente as relacionadas a investimentos - e aí me refiro ao conceito clássico de investimentos, na economia real, não a aplicações financeiras -, são frutos das decisões tomadas no presente considerando as expectativas do futuro.

Baixo desemprego, queda consistente na taxa de juros – interna e externa - são fatos/tendências que vieram para ficar, ou “surtos de felicidade” que acabarão em breve, estragando nosso natal? A experiência recomenda que é melhor aguardar. Novembro está só começando.

Uma questão importante em economia é que associado às expectativas há sempre o componente da incerteza. Coisas semelhantes? Não. Me refiro a incertezas como um componente aleatório, não previsível.

É o que os economistas chamam nos seus modelos estatísticos-matemáticos de “perturbações estocásticas”. Quem previu a guerra atual entre Israel e o Hamas? Certamente aparecerão videntes, analistas, influencers e coisas do tipo que citarão alguma declaração na rede social sobre o fato. Mero oportunismo.

Há também declarações que adicionam, normalmente para pior, o componente de incerteza às expectativas. Sou da tese de que presidentes, principalmente, deveriam não falar sobre economia. A fala recente sobre o não alcance da meta fiscal é um exemplo.

Agora é aguardar o desenrolar dos fatos. E também das expectativas. Torcendo para que novas incertezas não surjam no caminho, já difícil, de condução da economia brasileira.

 

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