Articulista
José Roberto de Lima Andrade

É economista e professor da UFS. Escreve às sextas.

Sobre riscos e golpes financeiros. E a enorme diferença entre eles
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Todo cuidado é necessário: não há milagres em finanças

Mereceu destaque nas últimas semanas as várias denúncias de golpes financeiros. Até Sergipe entrou nessa. Nada de novo. Golpes existem na humanidade desde que inventaram algum ativo financeiro.

O que espanta é o fato de que em plena era da massificação de informações - mesmo que muita coisa seja de qualidade duvidosa - haja pessoas, e a maioria com certa experiência em investimentos - que não conseguem distinguir a enorme diferença existente entre investimentos de risco e golpes, por mais sofisticados que sejam.
Há uma premissa básica em finanças que relaciona rentabilidade a risco. Em resumo: um aplicador deveria cobrar um rendimento maior de uma aplicação financeira com risco maior.

Como exemplo, podemos apresentar a rentabilidade de um título público - considerado ativo sem risco - quando comparado a de um título privado - com nível maior de risco. O normal - e esperado - é que a rentabilidade oferecida pelo título privado seja maior que a do título público. É o que chamamos de “prêmio de risco”.


Não há problema algum, do ponto de vista financeiro, em se expor ao risco. O grau de exposição depende do perfil de cada investidor, e é muitas vezes infantil pensar em um “perfil ideal”. A grande pergunta que deve ser feita é qual a rentabilidade que satisfaz o investidor?

Atualmente, aplicações financeiras de menor risco, normalmente associadas a renda fixa, remuneram em torno de 1% ao mês - rentabilidade bruta. Para uns, uma rentabilidade insignificante.

Existem rentabilidades maiores com outros ativos financeiros? Certamente. Mas com nível de risco maior. Simples. É importante que o investidor compreenda que a definição de risco não é algo subjetivo.

O nível de perda associado a determinada aplicação pode ser percebido através de vários indicadores: Var, Vol, Índice de Sharpe, Rentabilidade Passada, Aderência ao Benchmark, Gestão Ativa, etc. Normalmente estes indicadores estão expressos no material promocional da aplicação financeira. Nada tão sofisticado que um bom assessor de investimentos não saiba explicar.

E os golpes financeiros? Particularmente, acredito que todo golpe financeiro começa com uma característica básica, que é a da garantia de uma rentabilidade mínima. Ai me refiro normalmente a termos nominais - 3% ao mês, por exemplo.

A maioria dos produtos financeiros expressa sua rentabilidade em um parâmetro como percentual o CDI, Selic. Garantir uma rentabilidade em termos nominais? Muito difícil. Tão quanto garantir rentabilidade passada. Garantir: não esqueçam dessa palavra.

Uma outra característica de um golpe financeiro é a dificuldade do resgate, principalmente da totalidade do capital. Obviamente que existem aplicações financeiras cujas regras estipulam prazos maiores de resgate. Não é esse o problema. Refiro-me a dificuldades de resgate fora do padrão contratado. Mal sinal.

Por fim, tenho um critério muito pessoal. Desconfio sempre de algo muito sofisticado, cheio de estrangeirismos. E normalmente associado a alguma pessoa física que ocupa mais destaque do que a instituição. É Faraó disso, Príncipe daquilo.

É como jogador de futebol. Para mim, craques tem um único nome - Zico, Pelé, Maradona, Messi, Garrincha... Quando associa o nome a alguma coisa ou a algum lugar, é garantia de perna de pau - exceção a Ronaldinho Gaúcho, Juninho Pernambucano, Joãozinho da Mangueira e Luís Carlos Bossa Nova - esses últimos craques de um dos maiores times do Brasil, o Confiança dos anos 1970.

É de se esperar que no século XXI a categoria dos “desinformados” estivesse em extinção. Sobre qualquer assunto. Não há milagres em finanças. Apenas o velho e bom retorno x risco. Probabilidades. Sem garantias.

 

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