
Rose juntamente a oito irmãos e sua mãe ao centro (com mais um irmão no ventre). Ao todo são 15 filhos na família
12 DE OUTUBRO DE 2023 - A mulher de quinta andou sumida, adoentada, meio triste, mas a menina de quinta a sacudiu logo cedo neste dia tão especial. Afinal, a história não tem fim. Continua sempre que você responde: “Sim!”. Então, vai aqui um textinho dedicado a todas as crianças, mas, principalmente, às que sofrem com as guerras e às que não têm o direito de brincar.
Das crianças em nós
Acreditem, nesta foto em que minha mãe, grávida, segura minha irmã Iêda, de fralda, ainda faltam cinco irmãs/os mais velhas/os e alguns que não tinham nascido. Pela ordem: Aêdo (in memoriam), Norma, Eudina, Rosa Maria, Zélia (in memoriam), Roberto, Ronaldo(in memoriam), Ronaide, Ruraide, Rosilda, Iêda, Felipe. Éramos 15!
Na memória de hoje, nos meus 60, há uma menininha de 10 anos, estudante do 3° ano primário, no Grupo Escolar Graciliano de Freitas, em Serrinha/Bahia, muito feliz ao ver na parede do seu quarto um desenho do Mickey, pintado em uma folha inteira de isopor, tarefa que a professora passou para a turma da irmã, um ano mais velha, no 4° ano.
“Ano que vem será a minha vez! Acho que vou preferir a Margarida. Ou o Professor Pardal?”. Pensei!
No fim desse ano de 1973, como sempre, viemos passar as férias nas Pedrinhas/ Sergipe, divididas entre a rua do Riachão, casa da vó Celina e vô Juvino, e no Buenos Aires, fazenda do saudoso Seu Justino e da muito querida Dona Marieta, que nos deixou no último setembro.
No início de 1974, já perto de voltar à Bahia, meu irmão Roberto quebrou o fêmur numa pelada com amigos. O doutor não recomendou a viagem de volta ao sertão baiano e mamãe rapidamente nos matriculou no Jessé, em Pedrinhas, e ali atravessamos o ano entre o sítio de tio Nininho, na estrada para Arauá, e a casa da tia Dede, numa rua lateral à prefeitura, que era conhecida como Rua do Cu Tapado, porque não havia saída e sim a Escola Rural, da amada Professora Mariete, fechando a rua.
Em 1975, saiu a aposentadoria de papai e mamãe e resolveu colocar nossa casa de Serrinha a venda e alugar outra em Aracaju, na Avenida Simeão Sobral, até a compra da casa própria no Lourival Fontes, em 1976.
O que somos nós, as crianças, enfim? Seres sem vontades, sem destino: espumas ao vento. Nunca pude me despedir das pessoas com quem convivi durante toda a infância na Bahia.
O garotinho que eu olhava com interesse e tinha raiva, quando o via conversando com outras garotas embaixo do pé de groselha nos recreios do Graciliano, a entregadora de leite, o Dr. Zé Mota, as músicas no autofalante do cinema, nossos vizinhos da Rua da Estação, ficaram nos meus pensamentos, mas o que realmente me acompanhou melancolicamente durante os últimos 50 anos foi a vontade de pintar um quadro numa folha de isopor, mas isso só no ano que vem, quando eu for para o 4° ano primário, com a professora Berenice. Pintar Margarida ou o Professor Pardal?
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