Articulista
Roseneide Santana

É mestra em Letras e técnica em Educação da UFS. Escreve às quintas.

Vida longa ao Festival de Inverno de Palmares! Parabéns Chico Dantas e Prefeitura de Riachão do Dantas!
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Chico Dantas: este sim, um escritor de verdade e um orgulho não só de Sergipe

No próximo dia 11 deste mês agosto de 2023 terá início o Festival de Inverno de Palmares, em Riachão do Dantas – Sergipe. Nesta segunda edição, será homenageado o renomado escritor brasileiro Francisco Dantas.

Em 2008, o Seminário Nacional de Literatura e Cultura – Senalic -, promovido pela UFS, foi aberto com uma homenagem a esse escritor sergipano de Riachão do Dantas: Francisco José Costa Dantas. Para tanto, foi convidada a renomada poeta Maria Lúcia Dal farra, esposa e, também como ele, aposentada do Departamento de Letras da UFS.

A apresentação foi intitulada Um olhar (enamorado) sobre a obra de Francisco J. C. Dantas e a professora salientou, de início, que pretendia lembrar aos presentes, mas principalmente ao próprio homenageado que, nas palavras dela, “é muito modesto e subtraído”, de como a crítica recebeu suas primeiras obras.

E de qual crítica fala Maria Lúcia? Nada menos que de José Paulo Paes, Wilson Martins, José Luís Lafetá, Arnaldo Jabor, Benedito Nunes e Alfredo Bosi - esses dois últimos respectivamente responsáveis pelas apresentações de Coivara da Memória, 1991, e Os Desvalidos, 1993.

As palavras usadas pela crítica não deixaram dúvidas sobre a estreia retumbante e a continuidade consistente da obra de Chico Dantas: beleza, opulência léxica, raridade, vigor, personagens verdadeiros. Ou, como disse o cineasta Arnaldo Jabor sobre Os desvalidos: “São palavras grávidas de uso, palavras-picuás, palavras-a-canivete, palavras seculares, palavras-baús guardando miudezas, formando um grande mostruário, uma feira de artesanato de um espantoso mundo desconhecido, este imenso caruaru que é o Brasil”. (Folha de S. Paulo, 16.11.1993).

Aqui me detenho. O romance Os desvalidos nasceu literatura, mas pariu teatro, cinema, música, poesia, pesquisa, arte, arte, arte... Cortando a fatia do bolo que mais de perto me apraz, trago um fragmento dessa obra, que nos presenteia com a ‘cena’ do primeiro encontro amoroso/sexual do casal mais famoso do nordeste: Maria Bonita e Lampião. Leiamos, pois:

“Aqui solto ao relento, derrubado na pedra agora esfriada pelo sereno ralinho, estremece o corpo de Virgulino, antes de algum passarinho piar e se bulir. Embora a cabeça já se ocupe com o diabo da fuga a ser encaminhada, o corpo se deixa ficar mais um instante crescendo de agrado, como se não tivesse força pra se levantar antes de ser servido com as imagens suspiradas que se embocam no cerne dos sentidos: ele e Santinha no bojo daquela primeira noite calorenta, sem terem nunca um no outro se encostado. Estão a dois passos separados, e todinha ela palpita ante o olho do homem grelado de volúpia. Ele quer preveni-la de que nunca o traia, de que jamais lhe passe contrabando. Mas a boca apertada não se abre, menino sem governo, ante ela maravilhado! Já vai arriando o mando, o destrato do rigor, a se entregar adoçado como se fosse cordeiro… Ele suspende a mão num aceno chamativo, e ela se deixa encandear no brilho dos anéis, sem saber se é uma ordem, uma súplica, uma pergunta, ou um agrado. O rodado do olho são atiça a vontade dela, que vai desatando os grampos dos cabelos, e tira os pés das alpercatas, já adivinhando o seu intento, pois não há nada de secreto a encobrir. Esta nudez nascida nos extremos leva ao parceiro um súbito tremor de esganação. Zumbem os besouros e os dois se adornam juntos no lençol feito de folhas. Os desmazelos desta vida em andanças contrariada, parece que se endireitam, e o que era grão de poeira vira um pingo de orvalho. Olham de lado contra um sussurro suspeito, e se descobrem protegidos a espinhos de macambira e sabres de xique-xique. Há um cheiro de frutas e raízes que se levanta dos arbustos arrancados e da folhagem amassada. De onde vem esta toada repinicada de aromas? O homem faz finca-pé nas nuvens e se arremessa no mais fundo de seu poço. Golpeiam-se na doçura suculenta dos açoites. O indicador do cangaceiro se ajusta no florido dedal da costureira. Corre um gosto de laranja de umbigo espinhada a pau de canela que dá gosto na comida. Enroscados num caracol convulsivo, geme o casal empapado de gozo e de suor, numa arrancada estalando pelo corpo. Então unidos por esse clarume atônito, emparceirados para sempre sangue a sangue, sem saber que um dia vencerão a própria morte manada da traição: viverão nas cabeças decepadas que são troféus para os grandes da nação; viverão no gomo do pescoço arroletado, como lição pra quem seja rebelado.”(DANTAS, Francisco J. C, Os Desvalidos. SP: Cia das Letras, 1993, p. 193-194).

O último 28 de julho foi aniversário de 85 anos da morte de Virgulino & Maria e seus companheiros, em terras sergipanas: “emparceirados para sempre sangue a sangue”.

Olha ai, Guga, meus avós maternos Ducelina Menezes e Jovino Archanjo, gente daí

FALA GUGA SANTOS - O P.S. hoje vai para o amável leitor deste Portal JLPolítica & Negócio, o Guga Santos, que já me pergunta, desde a primeira quinta qual é meu vínculo com Frei Paulo?

Poderia começar dizendo, Guga, que Ancelmo Góis é o meu jornalista preferido. “E é!”. Ou que, passando por terras de Frei Paulo, encontrou a morte o maior “bandido” do Nordeste brasileiro. “Há controvérsias!”,

Sendo assim, e unindo quase tudo que já foi dito neste texto, vou contar uma verdade verdadeira. Meus avós maternos Ducelina Menezes e Jovino Archanjo, após terem sido surrupiados dos dois burros - um emprestado - que lhes davam sustento no arado, foram convidados pelo meu bisavô Zepherino Militão e a bisa Deolinda Menezes para morar com eles em Frei Paulo até as coisas se ajeitarem.

Voltando de um dia do roçado, meu avô e minha vó, com nove meses de gravidez, avistaram, ao longe, a tropa de cangaceiros de Lampião com a sua indumentária brilhosa. Os dois se jogaram no chão e ali ficaram quietinhos até a poeira baixar.

Poucos dias depois desse encontro nascia a cidadã Maria Santana dos Santos, minha mãe, que completou 85 anos em 31 de julho. Ela mora em Pedrinhas e é conhecida como Dona Tonha, sem nunca ter sido Antônia.

Foi o bisavô Militão que a apelidou de “minha santantoninha”, por achar que ela tinha a mesma feição do santo que ficava em alguma igreja querida da cidade.

Nunca tive contato com os Militão. Lembro de ouvir a família falar de um tio Orestes, mas hoje sei que fazem parte das famílias fundadoras deste município. Abraço, Guga – e continue nos lendo!

 

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