
Caso Ana Hickmann: mais uma prova que a violência da mulher, infelizmente, está ao alcance de todas classes sociais
No domingo, 12, as notícias da agressão do marido à apresentadora Ana Hickmann se confirmaram, comprovando que a violência contra a mulher não é exclusividade de nenhuma raça ou classe social - embora tenha predominância sobre mulheres pretas e pobres -, já que ela é o resultado de uma cultura patriarcal na qual, infelizmente, se baseia a nossa sociedade.
Especula-se que não tenha sido a primeira vez e, por isso, a apresentadora chegou a ser criticada nas redes sociais, que geralmente levam ao caminho mais fácil de culpabilização da vítima.
No dia seguinte ao fato, o marido e agressor dela, Alexandre Correa, reclamou por ter sido abordado e repreendido na padaria por uma mulher estranha, o que o levou a fazer piada com a situação.
Aliás, esse caso reúne muitas características da violência de gênero: o sarcasmo do agressor, o silêncio da vítima, a crítica da sociedade. A violência contra a mulher persiste, também, por causa desse ciclo vicioso.
De Itu para Sergipe, mais dois casos de violência contra a mulher, que, inclusive, resultaram em feminicídios, um em Aracaju e outro em Poço Verde.
Por aqui, conforme dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública, de janeiro até outubro deste ano já foram registradas 11.096 ocorrências criminais relacionadas à Lei Maria da Penha, além de 122 feminicídios.
Os números estaduais convergem para os do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, que apontou o crescimento de todas as formas de violência contra a mulher.
Esse cenário persiste apesar de existirem inúmeros mecanismos constitucionais de proteção aos direitos das mulheres, com a Lei Maria da Penha, vigente há 17 anos, sendo atualizada constantemente para acompanhar essa realidade.
Longe de ser natural, ela é posta pela tradição cultural, pelas estruturas de poder, pelos agentes envolvidos na trama de relações sociais, como bem resume Heleieth Saffioti, em Gênero, Patriarcado e Violência, quando diz que “nas relações entre homens e entre mulheres, a desigualdade de gênero não é dada, mas pode ser construída, e o é, com frequência”.
E por todos esses pontos, esse tema não poderia deixar de ser o foco da análise desta semana, porque se não conseguimos avançar numa questão tão primária como a do direito de não sermos agredidas, como seguir com um debate de ideias, projetos, leis e ocupação de espaços?
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