Articulista
Mário Sérgio Félix

É radialista, jornalista e pesquisador da MPB. Escreve às quintas.

Os Famks de Motokas vestiram Roupa Nova
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Roupa Nova: bom som e futura de enormes mutações 

A Jovem Guarda revelou grandes nomes de conjuntos musicais que embalaram as tardes e noites dos grandes clubes nas capitais e também no interior do Brasil. Renato & Seus Blue Caps, The Fevers, Os Incríveis, Os Canibais, Golden Boys e The Sunshines abrilhantaram as festas dos jovens que faziam da dança a performance de casais e também individual.

O rei desses bailes, sem sombra de dúvidas, foi o Conjunto de Ed Lincoln, não à toa denominado de Reis dos Bailes. Afinal de contas, o Sambalanço imperava nos salões de festas Brasil afora.

Esses conjuntos tornaram-se famosos por gravar músicas autorais, ou versões de sucessos impostas pelas gravadoras. Fora desse contexto, apenas o grupo de Ed Lincoln, que além de compor para si mesmo, alimentava a cena musical brasileira, a exemplo de Pedrinho Rodrigues, Elza Soares, Miltinho, Dóris Monteiro e tantos outros intérpretes do Sambalanço.

Em 1967, uma família vendo e sentindo o gosto de poder abrilhantar as tardes e noites dos clubes cariocas, surge com o propósito de criar um grupo musical que aliasse o bom gosto pela música nacional e internacional. Eis aí a família Cataldo.

Assim é criado o grupo musical Os Famks. Alceu, Newson, Francisco - todos Cataldo -, mais os integrantes Marcelo, Marquinhos e Túlio eram aproveitados para participar de bandas de apoio e gravações temporárias em selos que preferiam pagar bem menos do que aos artistas de nomes da época.

Durante uns três anos, Os Famks foram requisitados para shows e bailes no Rio, em São Paulo, em demais capitais e também interior. A partir da década de 1970, a banda começa a mudar de repertório, bem como a performance de suas músicas.

Começa a trabalhar mais profissionalmente o lado musical, principalmente com canções autorais, arranjos, harmonias e principalmente o vocal da banda. Já no ano de 1971, Nando chega ao grupo em substituição ao contrabaixista Luiz Carlos Serpa.

Outro que chega ao grupo para tomar conta dos teclados foi Cleberson Horsth. Com essa formação, o grupo se expõe no cenário musical e consegue gravar um compacto, lançando para o Brasil músicas do genial Zé Rodrix. Porém, o grupo ainda tem uma pegada de músicas estrangeiras, principalmente com os sucessos que chegavam pelas mãos do disc jóckey Big Boy.

A partir daí, as mudanças não pararam de acontecer no grupo. Foram chegando ainda, integrantes da antiga banda Los Panchos Villa, para substituir os integrantes da família Cataldo: Kiko, para a guitarra, Ricardo Feghali nos teclados, Paulinho na percussão e nos vocais, e para a bateria, Serginho, que também atuava nos vocais.

Com essa formação, Os Famks gravam dois discos de estúdios: Famks, 1975, ainda sem o Serginho na bateria e nos vocais, e Famks, 1978, já com o futuro Roupa Nova. Estava formado, portanto, o conjunto musical de belos vocais. Só que não!

A linha melódica do grupo ainda estava sendo marcada pela influência do rock internacional da época. Muito, também, pela imposição das gravadoras. Ocorre que naquela época, as gravadoras impunham o que os cantores, cantoras e conjuntos poderiam tocar ou não. Como já disse em artigos anteriores aqui, apenas os grandes nomes da música brasileira tinham essa liberdade de escolher o próprio repertório.

Assim sendo, o Brasil passava por um momento de covers por todo lado, por todas as gravadoras. A CBS criou Os Super Quentes, que juntou Renato & Seus Blue Caps, The Fevers, Golden Boys, Trio Esperança, e ainda os vocais de Claudia Teles, Lilian Knapp, Jane Duboc, que também emprestavam suas lindas vozes para o grupo Os Motokas.

Nesse contexto, a gravadora Continental convida o grupo Os Famks para entrar nessa mesma linha e passa a gravar sucessos da música brasileira. Essas gravações não tinham o nome dos cantores e dos músicos. Nenhuma indicação de quem estava cantando aquelas músicas. Foto, nem pensar!

Nessa linha, foi criado a coletânea com o grupo Os Motokas. Eram 30 sucessos alinhados em três músicas de sucesso por faixa. Indistintamente, as faixas vinham misturadas com sucessos nacionais e internacionais.

E assim, foi criado pelo menos dez discos, em Long Play, distribuídos pelo selo Continental. Para a gravadora, foi um achado maravilhoso, pois, como gravadora, conseguia a liberação da música sem o intérprete original.

Interessante notar que as capas dos discos eram sempre mulheres lindas, de preferência usando biquínis ou short’s curtos, em cenas provocativas por cima de uma motocicleta. Essas coletâneas duraram, em média, uns 10 anos. E de sucesso.

E assim, os Famks aparecem na cena musical brasileira, com sucessos covers nos anos 1970, gravando os lindos sucessos do grupo Os Motokas. A partir dos anos 1980, o sexteto resolve partir para uma cena mais autoral e recebe uma proposta da gravadora Polygram.

Desde aí, os Motokas decidem mudar de nome e investem numa linha autoral de grande sucesso. Desde então, o conjunto Roupa Nova investe com uma sonoridade pop, marcada pela sofisticação de seus arranjos e vocais.

Ao longo de mais de quatro décadas, conseguiu agradar bem mais o seu público do que desagradar parte da crítica musical. E olhe que nem falei que os seis integrantes torcem pelo Tricolor das Laranjeiras. Mas aí, já outra é história.

 

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