
Urge que a cooperação internacional ouça os envolvidos, ausculte suas angústias e pretensões com respeito
Eis a pergunta. Não para ser feita retoricamente, sem direcionamento específico e sem almejar resposta adequada. Certamente, um conflito entre povos que dura gerações, sem solução, serve a algum propósito, além dos envolvidos.
Infelizmente, desde sábado, 7, domina o noticiário informações - também desinformações - acerca de novo e lamentável episódio envolvido no conflito milenar entre palestinos e israelitas, quando em violento ataque, sem precedentes, o Hamas - Movimento de Resistência Islâmica - driblou a famosa inteligência de Israel, invadiu seu território por terra e ar, com ofensiva de larga escala causando centenas de mortes, sequestros, estupros e incontáveis feridos.
Isso se deu no período simbólico em que se atingia a marca de 50 anos da Guerra do Yom Kippur, travada entre árabes e israelenses durante o feriado judeu do “Dia do Perdão” no Canal de Suez, que causou a Crise do Petróleo, como retaliação árabe aos países ocidentais que apoiaram Israel.
Nessa delicada e intrincada questão, tanto complexa quanto persistente na geopolítica contemporânea, o que menos ajuda na compreensão do conflito é a apropriação político-ideológica de suas especificidades e o (in)consequente confronto de narrativas enviesadas e vinculadas a interesses outros que não a resolução humanitária do histórico confronto que deita raízes numa longínqua disputa religiosa, territorial e cultural na região do Oriente Médio, que, paradoxalmente, alimenta o ódio e a intolerância na Terra Santa.
Sem rodeios, por suas ações, o Hamas - não o povo palestino - é um grupo terrorista que ao longo dos anos intensificou atos extremistas para consolidação de poder como liderança da causa palestina, que, diga-se de passagem, é justa, mas desprezada pela comunidade internacional, eis o grande problema. Na visão deste grupo, a ofensiva militar é resposta às décadas de barbárie infligidas na Faixa de Gaza pelo domínio de Israel, cuja eliminação integra o seu Estatuto do Movimento.
Não se deve tapar o sol com a peneira. Existem premissas que precisam ser fincadas como pontos de partida: a causa palestina é justa e merece maior seriedade no trato internacional. Israel tem adotado política de aniquilação contra o povo palestino, que segue condenado à indignidade humana.
Independentemente de suas intenções, o Hamas tem adotado ações terroristas que, longe de resolver o conflito, aumentam a belicosidade, assim como a resposta a esses ataques. Por sua vez, em medida populista, o premier de Israel, Benjamin Netanyahu, para aumentar seu apoio político interno, declarou guerra contra o Hamas, no entanto, na prática, condenará o povo palestino a “pagar preço sem precedentes”, como proclamou, intensificando o conflito que mata e matará ainda mais civis de ambos os lados. Vê-se claramente que as ações e reações são as mesmas e, certamente, conduzirão aos mesmos resultados.
A lógica revanchista da vingança só estimula o ódio e o recrudescimento da violência, enquanto os líderes democratas dos ditos países civilizados e desenvolvidos publicam notas de repúdio e firmam acordos de paz e cessar fogo, sem enfrentar o cerne da questão.
Medidas paliativas precisam ser seguidas de projetos concretos para estabelecimento do Estado da Palestina - ao invés da manutenção de territórios ocupados, repletos de assentamentos e embargos, na Faixa de Gaza e Cisjordânia - tal qual fora estabelecido o Estado de Israel em 1948, para acolhimento dos judeus sobreviventes ao Holocausto, num aceno claro ao movimento sionista que buscava uma pátria segura para as vítimas vulneráveis do antissemitismo.
Por outro lado, a ONU e a comunidade internacional seguem adotando as mesmas posturas que trouxeram o conflito até aqui, replicando medidas e mensagens inócuas. Isso sem contar o apoio aberto dos EUA à Israel, que causa desconfiança na vontade política de solução do conflito.
Nesse contexto complexo, não há mocinhos e bandidos. Essa lógica na qual fomos conduzidos a acreditar e replicar, não funciona e só alimenta as diferenças e as hostilidades, perpetuando o cenário supremacista.
Contudo, independentemente de simpatias e vinculações ideológicas, deve ser certa a concepção de que a vida humana, notadamente, a de civis inocentes, não pode servir como alvo para pressionar posições políticas e disputas de poder, por mais justas que possam ser na essência as aspirações envolvidas.
Com efeito, nesse panorama, não há nada de divino na chamada Terra Santa, que para tantos foi a Prometida. O que há é a realidade nua e crua da humanidade, que precisa ser encarada de frente. Urge que a cooperação internacional ouça os envolvidos, ausculte suas angústias e pretensões com respeito, empatia, atenção e disposição para encaminhar soluções pragmáticas de pacificação, sem imposição da moral cosmopolita ocidental como parâmetro indiscutível de solução do conflito.
A história do Ocidente mostra que não temos essa tal moral histórica para impor moralidade. Basta empatia e equidade!
Foto: © Reuters
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