Articulista
Aurélio Belém do Espírito Santo

É advogado e ex-diretor da OAB-SE. Escreve às terças.

Um apelo pela paz e contra a ignorância!
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Guerra e desinformação: poucos querem saber a origem milenar da disputa o território da Terra Santa

Semana passada escrevi sobre o conflito entre Israel e o povo palestino após o ataque terrorista executado pelo Hamas, que exerce o controle político da Faixa de Gaza desde 2006, quando venceu as últimas eleições lá realizadas para a composição do Conselho Nacional Palestino.

Isso se deu em desprestígio da Autoridade Nacional Palestina, controlada pelo Fatah, cuja Presidência é exercida por Mahmoud Abbas, que controla o Governo na Cisjordânia e é reconhecida internacionalmente como autoridade legítima do povo palestino.

De lá para cá, a guerra foi declarada e o contra-ataque israelense provocou aumento significativo no número de vítimas. Desde então, o assunto domina a mídia, redes, rodas, noticiário e, infelizmente, a disputa ideológica de narrativas políticas.

Não pretendo ser repetitivo, mas confesso me sentir atormentado com a maneira estapafúrdia com que este assunto complexo é tratado pelo senso comum e até por líderes e formadores de opinião.

Obviamente, deve ser respeitada a opinião alheia. No entanto, a ética recomenda que manifestações tenham por base fatos e não mero desejo de ganhar no grito uma disputa ideológica distante da realidade dos envolvidos.

No Brasil, a 16 mil quilômetros de distância, o conflito tem abastecido com lenha as fogueiras ardentes da polarização bestial que nos assola. Confesso me aborrecer ao ver que preferem disputar a prevalência de narrativas a investir tempo para mergulhar em busca de conhecimento sobre o tema em debate.

Após o ataque, a direita se apressou em tomar partido de Israel, ao tempo em que associou a esquerda ao Hamas. Contudo tal corrente ideológica conservadora se esquece ou desconhece que o judaísmo nem sempre a ela esteve vinculado.

Ao contrário, até meados do século XX, a comunidade judaica era ligada ao socialismo, que fundara o primeiro partido internacionalista de esquerda na Polônia e países vizinhos, sob a defesa da emancipação e liberdade dos judeus perseguidos pelo implacável antissemitismo - condenado por Marx, Trotsky e Lênin, que o associavam a uma pauta contrarrevolucionária cara à direita.  

Por sua vez, parte da esquerda, tomada pelo furor ideológico, na valorosa ideia de defender a solidariedade internacional com minorais em conflito, deixa de abordar fatos como são, titubeando em dar nome aos bois, na necessária condenação do terror que controla autoritariamente o poder político.

Contudo, a oportunista tentativa de vincular a esquerda ao Hamas é cortina de fumaça que evita a discussão séria e imparcial sobre o cerne da questão para resolução do conflito que, necessariamente, passa pela criação do Estado da Palestina.

A causa palestina em si é justa, mas o terrorismo jamais o será, até porque o Hamas e o Hezbollah não representam o povo palestino. A propósito, a Revolução Francesa é valioso marco civilizatório na história mundial, mas o período em que suas ideias e ideais foram desvirtuados no terror, não.  

Muito se fala sem conhecimento de causa e efeito. Ao invés disso, a vulgaridade embrutecedora das redes distribui gratuitamente a ignorância para quem quiser pegar e não largar. Infelizmente, logo formam-se longas filas de likes, compartilhamentos e comentários para consumir a idiotia generalizada.

Poucos querem saber a origem milenar do conflito que disputa o território da Terra Santa. Não se interessam em compreender questões nacionalistas, étnicas, históricas, territoriais e religiosas que fundamentam o ódio entre árabes e judeus; israelitas e palestinos; católicos, judeus e muçulmanos.

Ignoram as guerras travadas entre árabes e israelenses na região em disputa, tais como a Primeira Guerra Árabe-Israelense, a Guerra de Suez, a Guerra dos Seis Dias, e a Guerra de Yom Kippur. Desconhecem o exôdo e a diáspora.

Não atentam para o Holocausto. Passam batidos sobre a formação do Estado de Israel em 1948 e suas consequências. Desprezam a realidade desumana imposta aos palestinos em Gaza e Cisjordânia. Preferem não saber dos assentamentos israelenses nos territórios ocupados pelos palestinos.

Dessabem sobre o destino infeliz das duas lideranças rivais que mais se aproximaram de um acordo de paz: Yitzhak Rabin, primeiro-ministro israelense, e Yasser Arafat, líder da Organização para Liberação da Palestina, que, em 1993, assinaram o Acordo de Oslo, dando início ao processo de paz, que morreu junto com eles.

O primeiro, assassinado com dois tiros nas costas pelo israelense extremista Yigal Amir, que se opunha ao Acordo, após comício pela paz, em Tel Aviv; o segundo, falecido, em 2004, aos 75 anos, por causa misteriosa, mas para alguns envenenado.

Não posso não considerar a polarização uma insensibilidade e falta de respeito com as vítimas do ódio histórico e recíproco, que se tornam números a servir como estatísticas para incrementar discursos e engordar narrativas para subjugação do oponente. Ninguém é obrigado a conhecer o tema, mas é recomendável dele conhecer minimamente, antes de sair por aí dizendo abobrinhas.

Foto: Mohammed ABED / AFP - 9/10/2023

 

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