
Pernil na manteiga - muita, como a cozinha francesa recomenda -, molho de mostarda com fundo de aceto balsâmico, limão, pimenta em grãos, mel e óleo de gergelim. Arroz ao curry, encimado com ovo poché, com cebola e pimentão cortados em julienne. Harmonização: Oro Vecchio, vinho laranja, 2022. Vinícola Leone de Venezia, Brasil. Foto: Iara Chagas Mittaraquis. / Modelo: gato Federico Fellini
“Carnes, aves e peixes - tão diferentes, e tanta gente os cozinha do mesmo jeito”
Julia Child
Aos 61 anos, voltando a ser um aluno, orgulho-me de ter alcançado os nove pontos em todos os exames referentes à “Cozinha 1”, primeiro módulo do curso de gastronomia. Ou de culinária, como prefiro denominar.
Não, não alcancei o 10, a pontuação máxima. Mas, creio, nove não é de todo ruim. É, penso, um bom começo. Ao Senhor Pai Altíssimo, toda a Glória. Grato por demais pelas imerecidas bênçãos.
Grato imensamente à Imperatriz Absoluta do Meu Coração, Iara Chagas Mittaraquis, pelo absoluto e incondicional apoio, pelo amor, pela cumplicidade, pela força positiva, por acreditar em mim. Aqui, na terra, é você, minha muito amada esposa, meu suporte, meu alicerce, razão maior para prosseguir.
Adentrar, de forma acadêmica, técnica e sistemática no maravilhoso, complexo, belíssimo mundo da cozinhar não foi uma decisão inteiramente minha. Devo maior parte desta à radiopatroa, que empenhou-se em convencer-me a abrir mais uma frente de possibilidades pessoais e profissionais.
, segundo ela - com razão e propriedade -, é gritante, explícita, a alegria pela qual sou tomado quando estou na cozinha a elaborar, com cuidado e carinho, um prato para ela. A pensar na melhor harmonização com o vinho que ela, com jeito tão elegante e sexy, abrirá.
Quero tomar posição, também, como “crítico gastronômico”, como diz sobre mim o poeta de altíssimo calibre Ronaldson Sousa. Porém, se é para sê-lo, que o seja bem fundamentado, a buscar o mais alto nível de excelência. Sergipe carece disso. Alguém que, sem medo, opine com o intuito de, tocando os brios - pelo menos dos que os têm -, contribua para a melhor qualificação do serviço.
E, então, eis-me no curso. Não tem sido fácil. Sou de difícil socialização. Mas, esse “defeito” é de responsabilidade minha tão somente. A turma é constituída de pessoas boas, que buscam seu lugar na vida e no mundo, sua identidade, pela via da transformação quente, fria, que produz comida.
E que ninguém se engane: o curso alcança um considerável nível de exigência.
O grupo de graduandos é solidário, um sempre ajudando ao outro. E a isso sou grato. O professor é competente, dotado de excepcional didática.
E toda esta dinâmica leva-me à exigir de mim, a responder de forma satisfatória tanto ao mestre, durante as aulas, quanto a Iara, minha esposa e cúmplice.
Leva-me a acertar o passo entre minha cozinha intuitiva - onde mando bem - e a submissão às técnicas, de acordo com as escolas culinárias. O que me força a, frequentemente, por de lado alguns hábitos, alguns cacoetes. É algo bom, pois impõe a disciplina.
Para tanto, transito pela cozinha e pelos livros. Aos poucos, organizei uma biblioteca diversificada e altamente qualificada sobre a área.
Bem, o primeiro, de muitos, desafio vencido. Prossigo tranquilo, sabendo que as dificuldades são necessárias, são pedagógicas, são fortalecedoras da carne e do espírito.
Como de forma tão apropriada se diz “Mar calmo não produz bons marinheiros”, que o Senhor Pai Altíssimo me conceda forças e tirocínio para que eu aferre-me ao leme, saiba aproar o destino, ler a bússola do coração e, assim, supere as tempestades. Bon Appétit et Santé.
Ω Quer receber gratuitamente as principais notícias do JLPolítica no seu WhatsApp? Clique aqui.