Articulista
Leo Mittaraquis

É escritor e apaixonado pela arte culinária. Escreve às terças.

Entre goles e tragadas
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“Nicholas Faith’s Guide to Cognac”: referência para os que cultivam um espírito conservador

“Os melhores momentos da vida são efêmeros, mesmo quando requerem anos de preparação. É assim também com os charutos. O intenso prazer de uma hora passada a degustar um bom charuto resulta de meses, por vezes, anos de um trabalho rigoroso e especializado”

Jane Resnick

“O mundo do cognac é regido por certos rituais imutáveis”

Nicholas Faith

Ah, concordo, sim, gole também pode ser denominado trago. Mas, neste artigo, o que temos são os goles de cognac e as tragadas - e subsequentes baforadas - de charuto.

Cultivo os dois hábitos. Beber um bom destilado, dotado de VSOP - Very Superior Old Pale -, e tragar a fumaça equilibrada, plena de sabores sutis, quase ao mesmo tempo é viver momento de felicidade ao longo duma vida feliz.
Sobre o cognac, dois são meus muito amados e preferidos: o primeiro lugar, no tocante a me fazer escolher sem pestanejar, é o Cognac Courvoisier VSOP.

Fins Bois é uma sub-região vitivinícola da denominação Cognac, que circunda geograficamente as sub-regiões de Grande Champagne, Petite Champagne e Borderies, e que se insere nos departamentos de Charente e Charente-Maritime no sudoeste da França.

O Courvoisier é elaborado a partir de uvas de vinhedos localizados destas selecionadíssimas áreas. Segundo especialistas, isso proporciona, à bebida, notas florais e frutadas.

Outra aguardente vínica que aprecio muito é o Hennessy VS Very Special Cognac. Em seu blend são utilizadas 40 aguardentes diferentes, de todas as regiões de Cognac, com idade mínima de dois anos e algumas de até cinco anos.

O Hennessy é um capítulo à parte, sem dúvidas. A Maison Hennessy usa barris de carvalho francês Limousin para envelhecer seu conhaque VS, dando-lhe uma nota robusta de nozes que complementa as características leves e frutadas da uva.

Livro de cabeceira, dentre outros, mantenho sempre à mão o extraordinário“Nicholas Faith’s Guide to Cognac”, escrito pelo ainda mais extraordinário Nicholas Faith que, em seus estudos sobre vinhos, apaixonou-se, repentinamente, pela região de Cognac, a qual tornou-se seu amor maior e da qual foi reconhecido como um especialista de grande renome. Um cavalheiro de destaque entre cavalheiros. Uma referência para todo aquele que cultivar um espírito legitimamente conservador em nome do que é belo e bom.

Tome nota, oh, improvável leitor: seja qual for sua preferência entre os dois verdadeiros néctares citados por mim mais acima, obterás as sonhadas sensações de sensação de deslumbramento, encantamento e delícia. E se for incluído um digno charuto, a noite - prefiro à noite – estará completa. Melhor ainda ao lado da bela mulher amada.

Jane Resnick e o “Guia Internacional de Charutos”: 170 páginas com muita informação, fotos e tabacarias

É certo que o clima de verão longo e inverno curto, de Aracaju, não ajuda. Isso no sentido de tornar menos convidativa a ingestão de bebida tão “quente”.

Porém, no meu caso, dado a este tipo de luxo funcional - vale dizer, eficaz, prático, cômodo, prazeroso e utilitário - submeto-me ao jargão “Noblesse oblige”, e dou-me ao entornar, goela abaixo, de generosas doses, alternadas com tragadas de um, por exemplo, Joya de Nicaragua Clásico Número Seis. Em tempo: haverá quem discorde de tal harmonização. Eu respeito, de boas.

No que concerne a charutos, sou discípulo, em corpo e alma, de Jane Resnick. Dela tenho, e releio, o “Guia Internacional de Charutos”. Muita informação, fotografias, indicação de tabacarias. Isso tudo em pouco mais de 170 páginas. Mas, também recorro ao “Manual Enciclopédico do Charuto”, de Julian Holand, com mais de 250 páginas.

Não me tenho como grand connaisseur sobre a selecionada arte de fumar charutos. Nem de longe. Sou mais, como diria Jackson da Silva Lima, “um aluno esforçado”. O que redunda num amante que erra no acendimento e no controle da queima. Mas, o jeito é fumar e fumar. A recordar os romanos clássicos, “a repetição é a mãe da aprendizagem”. Repito e repito. E o faço gostosamente. Tornou-se raro, por isso, acontecer de “perder” um charuto.

Receitas de pratos ‘au cognac’: além de beber muito, amo cozinhar muito, também, com esta maravilhosa bebida. Recorro, com frequência, a um livro de título pretensioso, mas que ajuda. As dicas são precisas, sem complicação. Refiro-me ao “101 Cognac Recipes – Gratest Cognac Cookbook”, da Saundra Samson. Essa autora é um mistério. Às vezes acossa-me a impressão de que ela não exista. Deve ser neura.

Ora, vamos lá... O que importa, aqui, é o ritual. O fumar e o beber. Ao lado dos livros específicos, voltados para a bebida e para o charuto, põem-se os escritores e músicos, clássicos e contemporâneos - estes últimos em bem menor quantidade - dos quais gosto. E, bem entendido, estes artigos são como uma boia antiga e enferrujada, daquelas com sino e uma luz vermelha a piscar. Ou seja, busco meus iguais. O que aqui escrevo só fará realmente sentido para estes.

Fumar bons charutos, beber bons cognacs, e os bons vinhos; preparar e comer a boa comida... São gestos que representam nossa ‘piece de résistence’ diária - e a expressão significa, em sua origem, prato principal - contra o medíocre, contra a burrice e a breguice rasteira.

Creio que, por enquanto, nada mais se faz necessário dizer. Recordo Nietzsche, em “Aurora”, e o parafraseio de forma canhestra: “meus pacientes amigos, este articulista deseja apenas leitores perfeitos. Aprendam a ler-me bem”. Bom Appétit et Santé.

 

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