Aparte
Opinião – O jogo é jogado e o tucunaré é pescado

[*] Rômulo Rodrigues

Se o bom jogador conhece o jogo pela regra, a mexida de pedra do ministro Alexandre de Morais atacando um peão do bolsonarismo pode ser a demonstração de que o STF esperava alguma manifestação como a do ministro Edson Fachin para se recompor e atuar em uníssono. Ou seja, fechado em copas.

Venhamos e convenhamos: onze a zero não deixa espaço para recuo ante as ameaças e humilhações que a Suprema Corte vinha sofrendo da cúpula militar e da ofensiva ditatorial do Palácio do Planalto.

Pelo porte físico de lutador de MMA marombado, grande de estatura e pequeno de cérebro, o deputado Daniel Silveira pode passar para a história como um reles comedor de corda.

O fato aparente é o de que mesmo com o imperativo da luta por vacina já e alguns esboços do quadro de disputa política para 2022, o contencioso do momento toma forma inesperada de uma luta ideológica entre o STF e o resquício militar de 1964.

Se de um lado, o mais nocivo, o general Villas Boas, aparentemente no fim da vida, deseja passar para a história como um golpista empedernido, do outro, o ministro Edson Fachin parece ter sentido nojo do mau cheiro de conspiração e, surpreendentemente, levantado a bola que o ministro Alexandre de Morais, esperto, aproveitou o momento para marcar um golaço e o restante, embora o Luiz Fux e o Luiz Roberto Barroso continuem sem merecer confiança, foi para o abraço.

Embora existam muitas especulações, ainda não há uma narrativa real da causa do rompante do deputado Daniel Silveira. O certo é que o STF matou a bola no peito e entregou quicando frente ao gol para a Câmara dos Deputados.

Uma coisa parece certa: não foi à toa e fica parecendo que estamos diante de um antigo impasse: agora, a coisa ou vai ou racha ou se tora pelo meio.

No meu sertão se dizia assim: “Prego batido, ponta virada, parafuso cuspido na rosca, nem ata nem desata e só quebra na emenda”.

Como tudo que é ruim sempre pode piorar, a composição da Câmara dos Deputados vem piorando muito desde a eleição de 2014.

Só para lembrar: concluída aquela eleição, o jornalista Antônio Florêncio Queiroz, o Toninho do Diap, diagnosticou que havia sido eleita a bancada mais conservadora da casa das últimas eleições.

Pois é. Aquela composição elegeu Eduardo Cunha presidente e pasmem, de lá para cá as coisas só vêm piorando.

Na sequência, foi eleito Rodrigo Maia e agora Arthur Lira. De uma coisa não se pode acusar o Eduardo Cunha - de não ter coragem.

A impressão é a de que fazia tempo que não se via uma crise em que tem mexidas de jogo de xadrez alternadas com ousadias de jogo de truco.

Como no jogo de disputa do poder é dito que de onde menos se espera é que não vem, contraditoriamente veio.

Depois do enfrentamento do Fachin, foi a vez do ministro Fux dizer numa entrevista à Folha de S. Paulo que o general Villas Boas não passa de um grande blefador e quem o desmentiu foi outro general, agora mais poderoso, Fernando Azevedo, ministro da Defesa, que deu a entender que o Villas trucou sem ter o Zap na mão e levou uma pregada de carta na testa.

Na parte do empurra-empurra, a mesa da Câmara empurrou a responsabilidade do que fazer com o Daniel Silveira para o Conselho de Ética e o juiz de custódia negou-lhe a liberdade e o mandou para um batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Alguns sinais de que a família Bolsonaro o está jogando ao mar, como jogaram a Sara Winter, são notados. Mas há sinais de que os milicianos não querem se render.

Também existem e aparecem na manifestação de solidariedade da Polícia Civil do Rio de Janeiro, do general Mourão e do comando clandestino que plantou, em poucas horas, dois aparelhos celulares nas dependências da Polícia Federal onde o miliciano-parlamentar estava detido. A conjuntura está estranha e os sinais são preocupantes.

[*] É sindicalista aposentado e militante político.

 

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