Aparte
Opinião - Maria Virgínia Leite Franco: a eterna primeira-dama de todos os sergipanos

[*] Igor Salmeron

Este mês de junho do ano 2021 marca os sete anos do falecimento de Maria Virgínia Leite Franco, um dos seres humanos mais admiráveis que o cenário sergipano já viu aflorar em seu fascinante seio.

Tal distinta data não poderia passar em branco nem para Sergipe e nem para o Brasil, e por isso mesmo resolvi fazer outro artigo mais extenso sobre Dona Gina, como era carinhosamente conhecida, uma mulher que estreou nos palcos da vida no dia 10 de março do ano 1917.

Mulher amorosa, foi uma genuína mãe para os mais necessitados. Poderia até ser pequena na compleição física, mas possuía um coração enorme, caracterizado pela infindável solidariedade e, sobretudo, pela pureza da alma refletida no modo como criou a família dela nos moldes da retidão, da ética e da grandeza de caráter. 

Dona Gina prezou durante sua incrível existência pela irrestrita discrição. Era mulher avessa aos jactantes holofotes e partilhava sobremaneira de um evidente senso de justiça.

Foi mãe das mais obsequiosas, além de avó e tia de personagens destacáveis na ambiência política e empresarial sergipana, sendo estes responsáveis por grande parte do Produto Interno Bruto de Sergipe, fato que não pode ser deslembrado.

Seus passos escolares foram iniciados como devotada estudante interna no clássico Colégio Nossa Senhora da Assunção, das Irmãs Felicianas, localizado então no Rio de Janeiro, com forte influência francesa.  

Maria Virgínia Leite Franco era tão dedicada que aprendeu a charmosa língua francesa e a tocar piano. Não à toa tinha esse belo instrumento musical em casa e durante muito tempo ficava embevecida tocando ela mesma Chopin.

Fato curioso da sua melíflua, harmoniosa, idiossincrasia: tinha uma facilidade imensa de transitar entre os recônditos eruditos e de ir com amabilidade aos mais simples, tão meigo era seu jeito de ser e tratar os outros.

Os gestos de humildade, benevolência e sensatez se tornaram alguns dos atributos mais perceptíveis na sua afetuosa personalidade. Desde cedo, transitou pelos círculos do poder em Sergipe, com atuação exemplar tanto na ambiência política quanto na empresarial no contexto da segunda metade do século XX até os primeiros anos desta hodierna era.

Dono Gina adveio de família tradicional. Era dedicada filha do pioneiro médico e político Augusto Cesar Leite, figura que revolucionou a prática médica moderna sergipana - ele fundou no ano de 1926 o mítico Hospital de Cirurgia e edificou também a primeira casa voltada ao atendimento de mães solteiras em cenário local, a antológica Casa Maternal Amélia Leite. 

Uma das coisas que mais se realçava em Dona Gina era a descomunal modéstia. Atendia a todos sem distinção. Ela foi uma esposa, mãe e sogra das mais ideais. Casou no ano de 1940 com o saudoso e respeitado Augusto do Prado Franco – médico, empresário e político mais influente de Sergipe no século XX.

Dessa bela união de 63 anos resultou a insigne dinastia familiar de nove filhos - Albano, Walter, Amélia, Maria Clara, Marcos, Osvaldo, Ricardo, além de Antônio Carlos e Augusto César Franco, ambos já falecidos. Maria Virgínia sempre foi uma mulher determinada, atuante e possuía sublime religiosidade. 

A eterna primeira-dama de Sergipe era pessoa boníssima. De fino trato, sabia conviver de maneira tolerante com lados contrários. Este fato fica confirmado quando analisamos sua respeitável ambiência doméstica: a família Leite, por exemplo, era partidária do PSD e do PR, enquanto que a família de Augusto Franco era da UDN.

E era aí que Dona Gina mostrava a sua insigne sabedoria, pois sabia ouvir com parcimônia os vulcânicos debates de todas as siglas e ainda assim mantinha sua irretocável circunspeção. Como sabemos, esse sinuoso período era caracterizado por muitas antinomias políticas e Dona Gina nos forneceu aulas de como se portar perante épocas de radicalismo. Sua serena desenvoltura é ainda hoje referencial. 

Do esplendoroso matrimônio com Augusto Franco, podemos notar o fator equilíbrio em Dona Gina. Enquanto ele se mostrava uma figura mais austera e nem por isso menos humana, ela permanecia com espírito simples, cultivado bastante pela ligação religiosa que mantinha com os frades no efervescente tempo da Companhia Industrial São Gonçalo.

Não podemos deixar de ressaltar que ela foi casada com o homem mais poderoso de Sergipe, responsável por criar lancinante desenvolvimento e ciclos políticos que duraram mais de três décadas, caracterizados por exemplar atuação.

Sua influência como conspícuo político, por exemplo, é observada em algumas gestões: Djenal Tavares Queiroz, João Alves Filho, Antônio Carlos Valadares, e do seu próprio e amado filho Albano do Prado Franco. 

No governo de Albano Franco, Dona Gina nunca deixou de participar ativamente, com sensatos aconselhamentos que, para quem não sabe, influíam bastante nas decisões tomadas. Dona Gina possuía sensibilidade aflorada para a atividade política e costumava destilar observações cirúrgicas, pautadas por criteriosas opiniões. Tanto é que Albano quando ouvia as ajuizadas ponderações maternas sabia que eram sempre voltadas para o bem coletivo sergipano e para a família. 

Das inúmeras ações que perduram como seu legado humanitário, podemos elencar: criação do Nutrac - Núcleo de Trabalho Comunitário de Sergipe -, o que fomentava a formação profissional das pessoas. Dirigiu a antiga LBA - Legião Brasileira de Assistência -, até então a maior agência de serviço social do Brasil, que ofereceu incondicional apoio aos desamparados.

As avaliações de Dona Gina foram pontilhadas pela ternura, pelo amor e pela empatia em prol da comunidade. O espírito mais altivo de sergipanidade reside indiscutivelmente no legado que Dona Gina nos deixou, com todo seu zelo e afeição ao próximo.

Apesar de ter sido esposa e mãe de governador, jamais se deixou contaminar por mesquinhas vaidades. Muito pelo contrário, cada vez mais se mostrava como uma pessoa simples e que gostava de estar em contato com a população.

É unanimidade: afortunadas são as pessoas que puderam conviver com ela, pois contagiava a todos com seu jeito alegre e sereno de enxergar a vida. Sua prioridade era ajudar os entes queridos e todos que a procuravam. Portanto, uma grande humanista tão rara nos dias de hoje, pessoa bela por dentro e por fora, um ser angelical.

É ainda luz de beneficência que resplandece para todos ao redor. Cumpriu muito bem o seu fundamental papel aqui na terra. Os ensinamentos de Deus tiveram em Dona Gina seu ardoroso estandarte, pois está para nascer uma mulher de bondade inquebrantável como ela.

Sergipe, o Brasil a louva e glorifica. Podemos ter essa indubitável certeza: lá do céu, a eterna primeira-dama Maria Virgínia Leite Franco continua fazendo por todos os lares sergipanos! 

[*] É sociólogo, pesquisador e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe.

 

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