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Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Exclusivo: “Valadares Filho oficializa Danielle Garcia candidata a prefeita”
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Danielle Garcia e Valadares Filho: ele na garupa do seu próprio cavalo

Há pouco mais de 22 anos, a imprensa de Sergipe foi tomada de um susto - de um big susto, diga-se lá - ao ver ser aberta a porta do Salão de Reunião do Palácio Governador Augusto Franco, na Avenida Adélia Franco, sede do Governo de Sergipe, e dentro estarem, como dois irmãos siameses, o governador Albano Franco, que iria à reeleição, e Jackson Barreto, que perdera a eleição para ele quatro anos antes, em 1994.

Isso era 19 de março de 1998, dia de São José e do fatídico assassinato do promotor de Justiça Valdir de Freitas Dantas às margens da BR-101, na entrada do município de Cedro de São João, pertinho de Propriá. Ali nascia o bizarro entendimento em favor de Albano à reeleição e de Jackson para o Senado.

Foi um dos acordos mais incongruentes, estranhos e desarmônicos já firmados na política de Sergipe. Isso porque Jackson passara até ali os últimos 30 anos acusando Albano e toda uma geração dos Franco de serem o supremo atraso de Sergipe. Resultado: foi garantida a reeleição do governador e para o Senado os sergipanos mandaram Maria do Carmo, cujo marido João Alves tropeçara numa derrota ao Governo de Sergipe.

Com impacto menor - visto o peso das lideranças envolvidas -, a aliança anunciada nesta quinta-feira, 5, entre o ex-deputado federal Valadares Filho, PSB, e a delegada Danielle Garcia, Cidadania, gerou nos mais crédulos e desavisados uma big estupefação. Um espanto. Um susto quase idêntico àquele de 1998.

Sim, um susto pela inversão de valores e de lugar dessas duas forças políticas: o moço Valadares Filho, dono de um cavalo de sela bem macia, cevado em fartos ingredientes de três eleições majoritárias, cedeu a sela à moça Danielle Garcia e sentou-se - será que acanhadamente? - na garupa, possivelmente sem um colchonilho, uma mera estopa forte para forrar o assento dessas zonas de montaria que costumam produzir muito suor e assar as partes baixas dos caronistas. 

Daí a ironia do título desta análise - Exclusivo: “Valadares Filho oficializa Danielle Garcia como candidata a prefeita” -, que reflete a inversão de valores como o fato foi noticiado. Vide o blog da colega Rita Oliveira - “Danielle Garcia oficializa Valadares Filho como vice”. É bom lembrar que Danielle, que quer ser a futura prefeita de Aracaju, nunca disputou uma eleição nem para inspetora de quarteirão, o que não a deslegitima de se iniciar na política tentando sentar no topo do teto.

E que fique também claríssimo que isso aqui é uma coluna política e não uma versão do xaroposo livro bíblico Eclesiástico - favor não confundir com Eclesiastes - e não quer pregar ensinamentos e nem dar bons conselhos para senhor ninguém.

Tradução: o cavalo do destino político é de Valadares Filho e cabe a ele e somente a ele decidir se senta na sela macia ou se na garupa crespa. Vai ver que, depois de três derrotas consecutivas na tentativa de obter um espaço nos Executivos e de estar sem a sobrevida de um mandato de deputado federal na retaguarda como tivera em 2012 e 2016, ele não ache que agora em 2020 a sela lhe seja tão macia assim. Isso é um direito fatal lá dele.

Daí tê-la repassado à bonitona da Danielle Garcia. Em face disso, os mais céticos de plantão já expõem caudalosas teorias conspiratórias: se a chapa de ambos vencer Edvaldo Nogueira em seu projeto de reeleição, o cavaleiro Vavazinho chamará para si o mérito e se cacifará para voltar à Câmara Federal dois anos depois - 2022 - e renascer para um quarto mandato. Se perder, lavará as mãos e botará a culpa no tiozão de Danielle, o senador Alessandro Vieira, ou na própria Danielle. Que coisa: as pessoas leem tanto e de modo tão aleatório a mente dos outros!

Mas é preciso constatar que se esta aliança com Valadares Filho de vice o deprecia pessoalmente, em tese ela doura e potencializa a chapa dos dois. Melhora, sim, os atributos eleitorais. Nem os mais desonestos e apaixonados dos analisas políticos têm condições fáticas de negar agregação, poderes e pesos especiais a Valadares Filho.

Ninguém sabe, no entanto, como essa concessão de sela de Valadares Filho a Danielle Garcia será vista e recebida pelos eleitores dele. Os dela não entram nessa conta porque, apesar de ela aparecer bem em pesquisas, não se sabe bem quem eles são e nem de onde vêm.  

Valadares Filho, Danielle Garcia, Alessandro Vieira e os demais aliançados devem, no entanto, ter muito cuidado em não deixar vazar - como já o fazem - a super gula de tomar por tomar o poder das mãos de Edvaldo Nogueira.

Sim, porque eles não estão lidando com um neófito, com um sem-grupo e sobretudo com um descapitalizado de Governo. Você gostando ou não de Edvaldo Nogueira, ele tem uma obra saliente e robusta brilhando aos olhos dos aracajuanos. E se os aracajuanos quiserem mantê-lo em nome desse patrimônio administrativo, quem vai tirá-lo e com que gancho?

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