Aparte
Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Luciano Barreto, o Senhor 80: “Eu planejo o futuro, sim, e todos os dias”
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Luciano Barreto: “A Construtora Celi hoje é uma empresa mais sólida do que ela precisaria ser”

“Luciano Franco Barreto. Eis um sujeito grande sob o sol de Sergipe. Grande no nome. No modo de viver como empreendedor. Nos gestos largos. Na passionalidade como encara os negócios, as amizades, a generosidade, a família, a paz e a briga. Luciano Barreto é um hiperbólico na forma como transita pela política há quase 60 anos, desde o momento em que se fazia engenheiro civil na Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia”.

Este texto aí acima é a abertura do lead da Entrevista Domingueira deste Portal JLPolítica do dia 3 de novembro de 2018 com o empresário Luciano Barreto, mantenedor do Grupo Celi. Ele tinha ali 78 anos, um mês e 18 dias. Neste 10 de setembro de 2020, o Lucianão Franco Barreto “grande no nome, nos gestos largos, na passionalidade como encara os negócios, as amizades, a generosidade, a família, a paz e a briga” completa 80 anos.

E o Portal JLPolítica obviamente não deixaria passar esta data em branco, nem mesmo sob o manto de uma pandemia de coronavírus. E, sigilosamente, convidou oito pessoas próximas a ele para parolar, por escrito, sobre suas oito décadas de vida.

Pela ordem na disposição dos textos aqui nesta Coluna, vão desfiliar as opiniões da esposa Maria Celi, do amigo médico Antônio Carlos Sobral Sousa, o doutor Sousa, do neto Luciano Barreto Neto, do colega engenheiro Francisco Costa, da neta Maria Celi Neta, dos amigos e compadres Carlos Alberto Sobral de Souza, conselheiro do TCE e Patrícia Verônica, advogada e professora, do homem público e secretário de Estado da Fazenda Marco Queiroz e do empresário e político Albano Franco.

Todos farão desfilar impressões muito preciosas a respeito do aniversariante. A Coluna Aparte foi até ele e lhe fez umas sondagens sobre instante. O encontrou ativado, muito esportivo e ligado no ato de ser e estar.

“Eu planejo o futuro, sim, e todos os dias, e sigo a trilogia da humildade, austeridade e trabalho”, diz Luciano, aviando a receita para os que, como ele, querem vier muito. Leia na breve entrevista as visões do Senhor 80 e a seguir, a dos que escrevem sobre ele.

Aparte – Qual é a sensação de se chegar aos 80 anos com lucidez e capacidade de gerenciar?

Luciano Barreto – Isso é tudo muito bom e, em primeiro lugar, devo agradecer a Deus que tem me dado saúde e, em segundo lugar, à minha esposa e a toda minha família, na qual incluo meus irmãos, meus sobrinhos, porque recebemos permanentemente dos nossos pais, Paulo e Cleonice, lições de união e de entendimento, e sempre coloquei esse aprendizado em prática. Outro dia eu dizia no aniversário de meu bisneto que é um privilégio se chegar a bisavô com clareza em suas ações,

Aparte – Aos 20 anos de idade o senhor pensava a respeito de chegar aos 80?

LB – Eu sempre fui muito de estar olhando para frente e, por essa razão, a partir de um determinado momento, eu passei a cuidar muito da saúde, eu diria que ali a partir dos 50 anos ou 60 anos. E fiz isso de forma progressiva. Eu tenho o privilégio de ter ao meu lado uma equipe top de médicos de Sergipe que, além de bons profissionais, eu os converti em amigos pessoais. E, por serem meus amigos e cuidarem muito bem de mim, alguns até insinuam nem querer me cobrar, e eu tenho dito a eles o seguinte, em discussões sadias: “Médicos que não me cobram eu mudo”. Porque aprendi na vida a não explorar profissional algum.

 

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Luciano Barreto, Maria Celi e o ministro Luiz Fux: “Fiz muito e, por fazer muito, cometi erros e acertos. Os erros eu tenho procurado corrigi-los. Os acertos, uso como lições do aprendizado”

Aparte – O que foi que o senhor não fez nesses 80 anos de vida e que gostaria de fazê-lo e diferente?

LB - Olha, eu fiz muito e, por fazer muito, cometi erros e acertos. Os erros eu tenho procurado corrigi-los. Os acertos, uso como lições do aprendizado. Cheguei a escrever 10 conselhos aos jovens empresários, que tenho discutido com meus seis netos, e um dos dois principais é o que diz que o caixa é rei. Empresas e empresários que não tenham reserva para enfrentar as crises, principalmente num país como o nosso, estão fadados ao fracasso. O outro conselho é uma trilogia que sigo e exerço desde os meus primeiros anos de empresário, que são humildade, austeridade e trabalho. O muito trabalho. Daí tudo deriva e prospera.

Aparte - É fácil empreender no Brasil?

LB - Não. Não, mas é bom. Num país como o nosso, que considero maravilhoso, ser empresário é muito difícil, com legislação muito complicada até pros tribunais decidirem. Mas, com muito trabalho, muito estudo e uma equipe maravilhosa, nós temos conseguido sobreviver, quando mais de 80% das empresas, principalmente no Nordeste, estão fechadas, em reparação judicial ou em grande dificuldade.

Aparte – O senhor elegeu a palavra solidez como uma das duas que compõem o brasão da sua empresa. A Celi é uma empresa sólida ou isso é apenas um slogan de marketing?

LB - A Construtora Celi hoje é uma empresa mais sólida do que ela precisaria ser. E a solidez de que você fala é exatamente o que dá credibilidade e nos gera a satisfação de ouvir, em todos segmentos da construção civil em que atuamos e ganhamos a concorrência, a afirmação recorrente: “Se a Celi ganhou, a Celi faz”.

Aparte - E faz?

LB - Sim, fazemos mesmo. Independentemente de receber ou não. Nós temos uma relação muito sadia com as empresas de construção civil, digo isso inclusive como presidente da Aseopp e nos últimos anos Sergipe é um Estado que destoa positivamente dos demais do país por atuar sob uma justiça que é a melhor do Brasil. Aqui, você tendo o direito legal a Justiça lhe abriga e lhe dá a razão, e temos um setor público que, obviamente, comete erros, mas tem se mostrado dentro de um grau elevadíssimo de seriedade - digo isso com uma experiência de 54 anos no setor de obras e é um depoimento que eu dou em qualquer lugar.

 

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Luciano Barreto: “Se a Celi ganhou, a Celi faz”

Aparte - O senhor consegue identificar marcas fortes da Celi no corpo de Sergipe nestes 54 anos?

LB - Sim, consigo. A Celi sempre fez muito por Sergipe e sempre procurou cumprir as regras ambientais e urbanísticas. Os projetos da Construtora Celi se submetem a todas as leis, embora eu discorde de algumas delas - como as regras florestais que se fixam para a Coroa do Meio, quando não detectamos nenhuma floresta ali. Mas temos de reconhecer que país tem crescido, mudou bastante e o Brasil de hoje é muito melhor de se viver do que o Brasil de quando nasci ou de quando comecei a atuar como empresário. Reconheço que os nossos governantes em Sergipe fizeram muito e a Celi tem marcas importantes, sim, em obras que melhoraram a qualidade de vida dos sergipanos, mas eu diria que a primeira marca forte da Celi é a social. No entanto, me incomoda que há mais de 40 anos a gente ouça falar que o Brasil seja o país do futuro. Já deveria ser mais.

Aparte - Aos 80 anos, o senhor planeja o futuro?

AB - Eu planejo o futuro, sim, e todos os dias. O passado só me serve para eu corrigir os erros, e aqueles conselhos que escrevi para netos e amigos talvez possam mostrar que o que aprendi tenha utilidade para evitar a repetição desses alguns erros.

Aparte - Como o senhor trabalha essa história da preparação sucessória através dos seus seis netos?

LB - Graças a Deus não tenho problema com isso, porque todos os meus seis netos vivem muito em torno de mim. Eu, Maria Celi, minhas filhas Alda Cecília, Ana Cecília e o genro Wagner Oliveira compomos uma família muito unida - e isso extrapola até esse círculo próximo, incorporando meus irmãos, meus sobrinhos, de quem tanto gosto, e até lamento aqui, inclusive, a perda do meu irmão mais velho, Adilson. Eu tenho um casamento muito feliz de 56 com Maria Celi, que é um esteio importantíssimo em minha vida e que iremos juntos até onde Deus nos permitir - e essa é a base na qual sempre me apoiei.

Aparte - O senhor é tido como um político ativo. Já sonhou com um mandato executivo ou legislativo em sua vida?

LB - Eu diria que sonhei, lá em 1986, mas afirmo constantemente que Deus sempre me colocou no lugar certo na hora certa. E na hora certa eu desisti ali, porque começou a gerar conflitos familiares, já que José Carlos Teixeira, irmão de Celi, era candidato, do outro lado Antonio Carlos Valadares, que também era e é grande amigo meu. Atendi um apelo de Maria Celi de que eu não poderia ser contra o irmão dela, e não fui.

 

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Luciano Barreto: “Maria Celi tem sido um grande estímulo ao longo da minha vida pessoal e empresarial. Temos uma ligação muito forte e eu tenho a certeza de que vamos viver juntos até os nossos últimos dias”

Aparte – Mas para o senhor, o que é a política?

LB - Eu acho que a política é, sim, a arte de fazer o bem. A democracia é um instrumento importantíssimo a serviço de governos e de nações. Eu vivenciei a ditadura. Houve coisas benéficas e o país cresceu muito durante a ditadura, mas teve coisas muitas ruins que não deveriam ter acontecido. Fui líder estudantil universitário antes da revolução de 1964 e, além de ter relação com todas as correntes da escola, eu era acima de tudo um conciliador.

Aparte - O senhor que já nasceu conciliador e agregador, ou aprendeu isso com a vida.

LB - Eu creio que tenha aí as duas coisas. Cada um tem seu temperamento, instinto, e vai se aperfeiçoando. E, graças a Deus, eu tenho uma disposição muito grande para ajudar as pessoas. Vou lhe dar um exemplo: nós talvez sejamos os representantes de empresa, eu e Maia Celi, que mais doamos cestas básicas nesta pandemia. Mas veja: doamos e não dissemos nada a ninguém que éramos os doadores. Aliás, pedimos às pessoas contempladas que não revelassem de onde vinham as doações.

Aparte - O que é a amizade vista a partir de uma vida crivada de negócios?

LB - Eu diria que a arte da amizade é dom. A amizade é, acima de tudo, a solidariedade recíproca entre as pessoas. A amizade é você saber lutar, reagir e mostrar que os seus princípios estão corretos quando se acha injustiçado - e combater a injustiça contra o outro. Eu combato. Eu acredito que a amizade está entre os melhores patrimônios de um homem. Creio que a pessoa tem de ter sempre a capacidade de ampliar seu círculo de amigos. E devo dizer aqui que nunca me decepcionei com um amigo, e olhe que eu tenho uma roda muito grande deles.

Aparte - Que tipo de satisfação lhe rendeu e lhe rende os resultados sociais do ILBJ?

LB - É imensurável. O ILBJ foi o instrumento que eu, Maria Celi, minhas filhas e meus netos encontramos para sobreviver a uma perda que, como diria um amigo escritor, se fez uma dor que não tem nome, que foi o desparecimento precoce do nosso Junior. Tem-se dor de coração, dor de barriga, dor de não sei o quê, mas a perda de um filho é, de fato, uma dor que não tem nome. Ele tinha meu nome, era engenheiro como eu e eu tinha um projeto de sucessão com ele. Era uma pessoa inteligentíssima, chegando a ser brilhante, de modo que o ILBJ não é um projeto meu e nem de Maria Celi. É dele – de Luciano Junior. E quero destacar algo que as pessoas às vezes não acreditam: no ILBJ é proibido receber verbas públicas ou doações privadas. O ILBJ é o compromisso de minha família com a memória de Júnior. Porque ele merece essa homenagem.

Aparte - O que seria da sua vida não fosse Maria Celi?

LB – Maria Celi vem de uma família de empresários. O pai, seu Oviedo Teixeira, era um homem inteiramente empreendedor, otimista sempre, e Maria Celi, acima de tudo, tem sido um grande estímulo ao longo da minha vida pessoal e empresarial. Nós temos uma ligação muito forte e eu tenho a certeza de que vamos viver juntos até os nossos últimos dias.

 

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Luciano Barreto: “Eu planejo o futuro, sim, e todos os dias, e sigo a trilogia da humildade, austeridade e trabalho”
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