Aparte
Opinião - A eleição deste ano não será polarizada

[*] Adalberto Vasconcelos Andrade

Parece ser repetitivo dizer que cada eleição tem a sua história, mas asseguro que dessa vez ela será bastante diferente. Ou seja: a polarização de alguns candidatos, muito comum até então - antes do Covid-19, é claro - não acontecerá neste pleito. E digo o porquê. 

A pré-campanha até ensaia isso, porém é fácil perceber que, durante o período de apresentação das propostas através do espaço eleitoral gratuito na TV aberta, nas emissoras de rádio e nas redes sociais, tudo pode se modificar em questão de dias ou semanas.

Não podemos esquecer que o atual presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, iniciou sua campanha política no rodapé da pirâmide das pesquisas de intenção de votos do povo brasileiro. E chegou onde muitos não acreditavam.

Para ocupar a cadeira no comando da Prefeitura de Aracaju, a impressão que se tem no momento é a de que existem apenas três candidatos pleiteando o cargo: o atual prefeito Edvaldo Nogueira, PDT; Danielle Garcia, Cidadania, e Márcio Macedo, PT. 

E não é por aí. Existem outros nomes de pré-candidatos que podem surpreender marqueteiros e as próprias pesquisas de intenção de votos dos aracajuanos.

Até porque, pesquisa eleitoral sempre retratou em números e gráficos uma suposta realidade para um dado momento específico que antecede o pleito, revelando quais candidatos se destacam na preferência do eleitorado local.

O problema é que muitos candidatos se iludem com os números e fazem a transposição desses dados para o dia do embate. Na política o que hoje é 4, amanhã pode ser 2 - ou vice-versa. Por isso, muitos candidatos são surpreendidos com o resultado das urnas, como aconteceu nas eleições de 2018, onde velhos caciques da política sergipana tomaram o rumo de casa em estado de choque.

Uma breve análise: ainda não começou o período de propaganda eleitoral na televisão e emissoras de rádio, e não há o número de cada candidato, mas a peleja já está começando - mesmo sem as reuniões em locais secretos, as caminhadas, carreatas e comícios - e com todos os obstáculos provocados pela Covid-19. 

O que deixa evidente que o grande diferencial nessa eleição será o recurso das redes sociais. Certamente aquele candidato que tiver melhor desempenho nessas novas frentes de divulgação, obterá melhor resultado nas urnas.

Alguns pré-candidatos já estão bombardeando, e outros tantos sendo bombardeados por um exército cibernético a serviço de políticos A, B ou C que, diante de uma fiscalização fragilizada - ou seria inoperante? -, pré-julgamentos e espaço livre para fake news é o que não faltam. As fakes viraram a praga do momento, depois do novo coronavírus. 

É algo realmente muito grave e que pode prejudicar alguns pré-candidatos, alterar as intenções de votos e consequentemente o resultado das urnas. Agora falando dos atuais postulantes ao mandato de prefeito de Aracaju para partir de 2021, farei um breve comentário sobre cada um deles.

Ei-los: Rodrigo Valadares, Paulo Márcio, Georlize Oliveira, Henry Clay, Danielle Garcia, Almeida Lima, Edvaldo Nogueira, Márcio Macedo - citados aqui de forma aleatória, é claro. 

 

Vou começar pelo atual prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, PDT. Político experiente, cria do saudoso Marcelo Déda, ex-prefeito, ex-deputado e ex-governador de Sergipe. Edvaldo há muito tempo vem surpreendendo por estar em evidência e no poder há décadas - seja na carona, herança política, capacidade administrativa ou de articulação.

O fato é que tem estrada, mas no atual momento sofre grande desgaste em razão das ações quanto à Covid-19, além de ter licitações do Hospital de Campanha sob investigação de órgãos federais. Mas estar no comando da cidade de Aracaju ajuda muito. É um nome de peso, sem dúvida. 

Quanto à delegada Danielle Garcia, se destacou a frente da Deotap - no auge da Operação Laja-jato - ao ter como bandeira o combate à corrupção em nosso Estado. Mas será que como pré-candidata a prefeita de Aracaju seu discurso ficará restrito ao velho combate à corrupção política e a segurança pública? Ou irá agregar algo mais? Cedo demais pra saber. Mas tudo no seu tempo. Terá o dela pra se manifestar.

A política é uma espécie de encantamento que vem atraindo homens e mulheres da lei por esse Brasil afora. Em Sergipe não é diferente. É oportuno contextualizar que Danielle já ocupou cargos de chefia em governos recentes, mas também não é uma unanimidade entre os colegas de profissão. 

Creio que até mesmo o provável apoio do senador Alessandro Vieira a sua candidatura seja uma faca de dois gumes, diante de recentes posicionamentos não tão bem-sucedidos em Brasília. Entre outros - que não vêm ao caso agora - cito apenas o seu projeto de lei que limita o uso das redes sociais, tendo como pano de fundo as fake news, mas que para mim e para muitos exala um cheiro forte de censura. 

Além disso, os delegados Paulo Márcio e Georlize Oliveira também correm na mesma raia rumo ao Paço Municipal. A delegada Georlize Oliveira, assim como sua colega de profissão Danielle Garcia, também ocupou cargos de comando na Secretaria de Segurança Pública de Sergipe, e no interior outros de grande importância. 

O delegado de Polícia Civil Paulo Márcio é outro profissional muito atuante e que vem há anos agindo em defesa dos interesses de sua categoria. Cada um com seus méritos e currículos positivos.

Henry Clay, advogado e ex-presidente da OAB - secção Sergipe, muito querido pela sua classe e de grande empatia com a sociedade sergipana. Não à toa, teve uma votação expressiva nas eleições de 2018 para o Senado.

Não podemos subestimar a coragem e a determinação do jovem deputado estadual Rodrigo Valadares, PL, que herda o sobrenome do saudoso ex-deputado federal Pedro Valadares, que conquistou quatro mandatos (1990, 1994, 1998 e 2006).

Rodrigo Valadares herdou do pai o gosto pela política, e tão jovem se tornou deputado estadual e assume agora o desafio de entrar na disputa contra nomes tradicionais e de peso que sonham em sentar na cadeira do chefe do Executivo Municipal do Palácio Inácio Barbosa a partir de 2021. 

Almeida Lima, ex-deputado estadual e federal, ex-prefeito de Aracaju, ex-senador e ex-secretário de Saúde do Estado de Sergipe, dispensa comentários, porque sua trajetória política todo sergipano conhece - ou deveria. Portanto, sigo em frente. 

Marcio Macedo, PT, ex-deputado federal e atual vice-presidente nacional do partido, também cria de Marcelo Déda, entra no páreo com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Imagine Lula em Aracaju pedindo votos para o seu candidato. O eleitor sergipano e nordestino sempre foram muito generosos com o líder petista na hora de dar o seu voto nas urnas. Pesa ou não pesa? Em novembro saberemos. 

Enfim, volto a dizer que esta será mais uma eleição atípica - como foi a de 2018 -, e certamente irá se sobressair aquele candidato que melhor souber explorar as redes sociais e o espaço que terá na TV e nas rádios para expor suas ideias.

Por essas razões, não acredito que teremos uma eleição polarizada e sem segundo turno em Aracaju. Cabe ao eleitor votar consciente e fazer a diferença. Os políticos não são todos iguais. Sendo assim, que vençam os melhores.

[*] É administrador de Empresas, policial rodoviário federal aposentado, escritor e colaborador efetivo do Portal.

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