Poema Jozailto Lima/Ilustração Ronaldson
quanta floresta transformei em janela,
em porta, balcão, tablado, casa, carvão.
e de quantas janelas alimentei cupins
em suas fomes que a tudo rói, traça e esfarela.
sem qualquer remorso no ato de lavrar,
revirando a terra, afrontando as árvores,
embarreirando os rios, desarranchando as aves,
da natureza vim e sou o seu mais compulsivo cupim,
e por ela o nada vezes zero foi tudo o que lhe dei de mim.
no estertor da fauna, na agonia da flora,
que porta me restará - que mar, que flor?
quanta floresta transformei em janela.
fiz do mundo um oco, e da minha casa, a minha dor.
Do capítulo “Epístola tardia aos papagaios cegos”, do livro “Viagem na Argila”, edição do autor, gráfica J.Andrade, Aracaju, Sergipe, 2012.