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Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Opinião - Um brinde a UFS: sétima, no topo da elite das universidades brasileiras
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UFS: finalmente, um espaço que orgulha Sergipe

[*] Mário Resende

A história da Universidade Federal de Sergipe é intrigante, pouco conhecida e extremamente rica. Nascida em 1968, nos anos de chumbo da ditadura militar, foi a herdeira das experiências acadêmicas das Faculdades de Letras e Filosofia, Química, Serviço Social, Direito, Economia e Medicina, as pioneiras particulares e públicas, do ensino superior em Sergipe, desde os anos 50 do século XX.

O tempo histórico em que a UFS foi nascida não lhe permitiu grandes arroubos na produção intelectual e científico. A falta de experiência do corpo professoral, a ausência de uma política destinada a tal fim, a dinâmica vivida na época, marcada pela espionagem, repressão política, demissão, perseguição e morte de professores e alunos, se constituíram a realidade cruel da nação naqueles tempos do regime militar.

Os professores da época sabiam disso. Alunos e técnicos também. Imperaram a cautela e a silêncio dos cemitérios. Mesmo assim, ficaram marcados gestos heroicos de reitores que não aceitaram a expulsão de alunos a mando dos militares, a exemplo do reitor João Cardoso do Nascimemto Júnior, e de professores que enfrentaram a arapongagem nos corredores da instituição, a exemplo de Silvério Fontes. Grandes homens marcando um tempo obscuro.

Os anos 80 e 90, no período pós-ditadura militar, a UFS já estava consolidada, mas era tolhida pela falta de orçamento digno, de um projeto nacional digno para o ensino superior público e pela proibição de abertura de novos cursos de graduação, que atrasaram a criação de um pungente programa de pós-graduação no Nordeste do Brasil. Nessa época, a UFS, em números e possibilidades, figurava na rabeira das instituições federais de ensino, sendo apenas uma grande escola de formação técnica superior nas suas diversificadas áreas de ensino.

Essa situação começa a mudar quando abnegados professores e os gestores criaram no início dos anos 90 os programas e cursos de pós-graduação da instituição. Destacamos o papel do professor Alexandre Diniz, um intelectual de alto gabarito, e sua luta para doutorar mais de duas dezenas de professores da UFS e, concomitantemente, criar e instituir o Curso de Mestrado em Geografia Agrária, pioneiro na UFS. Tempos depois, foram criados as pós-graduações em Educação, Sociologia e Meio Ambiente. E só.

Portanto, há exatos 20 anos passados, menos de uma geração, a UFS ainda era uma instituição acanhada, com dois doutorados e quatro mestrados, dois cursos noturnos, sem os campi que hoje florescem no Estado em Itabaiana, Laranjeiras, Lagarto e no sertão sergipano, entre Nossa Senhora da Glória e Feira Nova.

Ainda nos anos 90, a institucionalização do PQD - Programa de Qualificação Docente -, em parceria com o Governo do Estado, redesenhou a presença da UFS no interior de Sergipe, tendo a instituição graduado centenas de professores nas mais diversas áreas das redes estaduais e municipais.

Depois veio o Reuni, o programa de reestruturação das instituições públicas de ensino superior, coordenado pelo MEC, que permitiu a triplicação de cursos, professores, alunos e campi. A UFS colhe, nos atuais momentos, a doçura da ousadia e das lutas dos que enfrentaram a elite interna do atraso para implantar o Reuni.

Os mesmos que se entrincheiram no front do contra e que também foram contra o PQD, a criação da pós-graduação e todo e qualquer sopro de ar que apontassem para transformações benfajezas para a universidade, a exemplo da política de cotas para os alunos de escola pública, negros e indígenas, a oferta de cursos noturnos e a expansão das graduações, em particular, no período noturno.

No dia de hoje a UFS foi coroada com uma reportagem, publicada na Folha de S. Paulo, figurando como a sétima melhor universidade avaliada do país, numa lista que estão as públicas federais, as universidades estaduais, as municipais e as da enorme rede privada de ensino.

Informa a Folha de S. Paulo que, “das universidades estreantes, apenas a UFS (Universidade Federal de Sergipe) aparece no top 10 do Brasil. As outras cinco - UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), UFMA (Universidade Federal do Maranhão), UFPB (Universidade Federal da Paraíba), UFPI (Universidade Federal do Piauí) e UFU (Universidade Federal de Uberlândia)”.

Essa avaliação, feita pelo “Times Higher Education”, se pauta em critérios como ensino, pesquisa, citações, visão internacional e transferência de conhecimento para a indústria como indicadores de desempenho das universidades. Ou seja, algo impossível de ser imaginado para a Universidade Federal de Sergipe sem a ousadia com a qual ela atuou nas últimas duas décadas, abraçando oportunidades e expandindo áreas de conhecimentos e atuação, concursando mais de mil professores novos, um número maior de técnicos, fato que permitiu expandir áreas e saberes, gestar uma pungente pós-graduação, fortalecer a graduação e criar diversos campi no interior do Estado.

Não há como não ficar muito feliz ao observar a UFS ser avaliada e reconhecida internacional e nacionalmente. Fruto do trabalho de lutas de gerações de gestores, professores, pesquisadores, alunos, funcionários, políticas públicas, acertos, erros, ousadias, ideias, expansão, interiorização, pós-graduação, sem perder nunca o foco da qualidade acadêmica e da sua enorme responsabilidade social.

Advogo, inclusive, que o critério de qualidade nas universidades deve, cedo ou tarde, incorporar com louvor os índices de inclusão interna, feito com a formação de estudantes oriundos das classes populares e ou os excluídos pelo sistema e das tecnologias sociais que essas instituições disponibilizam e produzem para democratizar o ensino, a pesquisa, a cultura, a saúde e as novas tecnologias. Mudar vidas deve ser algo visto e avaliado como política mensurável de qualidade, com louvor e distinção.

Mas é mister registrar que vivenciamos um tempo de amarguras e ingratidões. Aqui e acolá a UFS sofre agressões gratuitas até por parte de alguns que deviam cuidar da instituição-mãe com mais carinho e zelo. A reportagem da Folha no dia de hoje aponta pros acertos de muitos. Os erros de poucos não estão lá. Nem estarão.

Sabemos que em todas as épocas da existência da UFS houve e haverá a rebeldia oca, a crítica estéril, a melancolia sem vida engalanada de suposta crítica científica, os seres do contra, a exemplo dos que hoje são contra o ensino mediado por tecnologias à distância, mesmo a UFS tendo um sistema compatível, desde 2010, em pleno funcionamento. O que propõem esses colegas? O niilismo? A morte da esperança? O cinismo como meta? 

Advogo que uma universidade sem o senso crítico e a contestação é uma instituição sem vida. Uma casa amorfa. Mas a grandiosidade de realizar a contestação, com mérito, exige a responsabilidade acadêmica de desnudar-se dos penduricalhos pessoais para elevar o nível da crítica à compreensão histórica que o momento, o fato, o movimento requer.

Todo o resto é brilho fugaz da coroa do atraso que resiste. Aquela que por vezes até reluz e anda, igual centopeia de plástico, mas que não consegue edificar uma ideia concreta e construtiva. É bijuteria da moda, igual ao plástico que reluz ao sol.

Como nos ensina Calderón de La Barca, “deixemos que prove o tempo, aquele que eternamente mudo, sem dizer nada, diz tudo”. Foram, portanto, as ações corajosas dos que enfrentaram com firmeza o atraso do tempo e suas representações encarnadas que construíram o melhor da UFS que hoje temos.

A todos e a todas que fizeram, fazem e farão a UFS do hoje e do futuro, minha reverência, meus parabéns e a minha gratidão. A UFS, a única universidade pública de Sergipe, o maior patrimônio cultural e científico do povo sergipano, sempre levará nos seus alicerces um pedacinho do melhor que existiu e existirá dos homens e mulheres que aqui estudaram, trabalharam, ensinaram, foram gestores e construtores de um amanhã que bem merecemos.

[*] É professor da Universidade Federal de Sergipe.


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