Aparte
Opinião - Eles sempre mudam... Ou, a trajetória de Jackson Barreto

[*] Ivan Bezerra de Sant’ Anna

Eles sempre mudam... Prometem, remetem, mentem e desmentem, e tudo fica igualzinho ao que era antes. O povo é que não muda, pois sempre vota na mesma e renovada mesmice. O senhor Jackson Barreto, por exemplo, muda sempre. São tantos os pulinhos mundancistas, que já coleciona uma enorme série de adjetivos, cada um ressaltando um predicado específico, e são tantos que se torna uma tarefa hercúlea para um humano carregar nos ombros, a não ser que o nominado tenha parentesco com o Divino.

Ou, o que é mais provável, seja uma criatura infantilizada, um psicótico despido de qualquer sentimento de reciprocidade emocional para com o outro, uma caricatura de Zeus que, segundo consta na mitologia, para seu solitário e egocêntrico desejo, assume várias personalidades, que ora aparecem como um bufão cínico ou um minotauro pavoroso e, por vezes, para se sentir em completude, transmuda-se em uma donzela, para brincar com os sentimentos de um desavisado mancebo.

É verdade que muitas dessas nominações não são do seu agrado e, quando o apelidaram de “galho verde”, uma clara referência ao virtual desmatamento amazônico efetuado em nossa capital, ele ficou possesso, gritando não existir provas, que tudo isso era uma golpe do traidor Valadares. Golpe ou não, o certo é que os auditores técnicos nunca conseguiram descobrir essa misteriosa floresta que foi ceifada da natureza, um crime ecológico virtual que nunca foi encontrada a vítima. A única prova desse monstruoso desmatamento, em uma área superior ao Estado de Amazonas, foram os registros dos pagamentos vultosos aos empreiteiros.

Na época, em meio a perplexidade gerada pelos insólitos contratos administrativos, não podendo processar o ex-prefeito por crime ecológico, e como houve o pagamento dos serviços, por conseguinte, alguém foi beneficiado pela dinheirama, o Mi mistério Público o acusou de crime de corrupção, sob aplausos do saudoso Marcelo Déda e do seu partido, na época, guardião da honestidade.

 

Jackson Barreto “rodou à baiana”, descabelou-se e, em transloucada carreira, foi de bairro em bairro, acusando o governador de ter assassinado a sua genitora, denominado o deputado petista de traidor da classe operária. Por esses comportamentos agressivos, típico de um felino com garras à mostra, um novo apelido lhe foi ofertado: Jacutinga da Ibura. Não me pergunte, caro leitor, o porquê do adjetivo Ibura. Confesso não saber, pois a única Ibura que conheço é uma devastada reserva ambiental, local onde o imaginário popular criou o famoso jegue mítico, um animal de grande apetite sexual.

O leitor possivelmente está a se perguntar: então Jackson foi condenado? Sim, mas a uma nova alcunha de “Jajá Prescrição”, uma clara referência aos inúmeros processos que, após longos anos dormindo em uma gaveta de um certo magistrado, foram enterrados no campo “Santo das safadezas eternas”, pois, afinal, como poderiam sobreviver a um caudaloso rio de testemunhas que moravam em diversos países, que o cuidadoso magistrado entendeu ser necessárias para o esclarecimento da existência da imensa floresta tropical ceifada?

De rogatória em rogatória, que retornavam sem a necessária intimação - testemunhas tão virtuais como a floresta encantada -, o nosso “Jajá Prescrição” pode, na atualidade, ostentar o título de “Ficha limpa por Graça Judicial”, mas de uma limpeza tão falsa como a floresta que ele decapitou. Apesar de alguns antigos companheiros afirmarem que votar no senhor Jackson Barreto é ter compromisso com a história, fico em dúvida se o tal “compromisso histórico” não é apenas uma convicção construída para imunizar as dissonâncias cognitivas - e a proteção dos seus cargos seria a mostarda na pizza -, uma vez que a clara  acentuação progressiva da sua psicose está levando-o à uma dialética louca de negações sucessivas, um perigoso movimento pendular de certezas opostas.

Se depois de ter chamado o governador Valadares de plantonista do inferno, e dois anos após o chamaria de “grande companheiro de esquerda”, essa mudança de percepção ideológica podia ser creditada, na época, como uma prática manhosa, tão a gosto das nossas elites políticas, descompromissadas com a verdade e a ética. Da mesma maneira, entendemos o seu apoio à candidatura Albano Franco para governador do Estado, seu inimigo histórico - para algumas pessoas, esse apoio lhe rendeu alguns milhões - como pura conveniência ladina e astuta.

Entretanto, essa dialética “do afirmo, não afirmo” está ganhando muita velocidade, ao ponto de o processo oscilador se perfazer no espaço de uma semana, e pelo andar da carruagem, será apenas uma questão de horas. Apesar do amigo Zé do Mercado afirmar que essa prática da negação da negação ser pura safadeza do nosso Jacutinga “ficha limpa”, entendo que o seu atual apelido de JaMente é fruto de algo maior do que uma pura safadeza manhosa, uma psicose que foi agudizada pela total perda do seu prestígio político, sendo consequência da sua inconfiabilidade política e pela desastrosa administração como governador, abrindo um profundo fosso entre ele e os sindicatos estatais, ao ponto de ser denominado de traidor dos trabalhadores.

Alguns ex-militantes do velho e querido PCB gravaram um vídeo em apoio à candidatura de Jackson Barreto, enfatizando sua renhida luta em defesa dos presos políticos. Os depoimentos são verdadeiros. Entretanto, devo ressaltar a importância maior do saudoso deputado José Carlos Teixeira na luta de defesa dos presos políticos e, ao contrário de Jackson, o fazia motivado por sua autêntica crença republicana e por valores humanísticos que cultivava.

 

Depois de assistir aos seus desmandos administrativos, que começaram na sua primeira administração municipal; de ser testemunha das suas sórdidas perseguições aos adversários - sendo alguns deles seus próprios companheiros de luta -, de ouvir suas mentiras afirmadas em um ocasião e desmentidas em outras tantas, chego à conclusão que o senhor Barreto nunca lutou com autenticidade, nunca foi solidário e o que fazia era simplesmente motivado por sua enorme ambição pessoal, um segredo que manteve bem escondido. Mas, como disse Abraham Lincoln, “pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”. Se um dia enganou a todos nós, continua enganado a algumas pessoas que precisam de cargos públicos para sobreviver, mesmo assim não pode abafar o murmúrio das ruas que denuncia a sua história de farsante.

Não será o momento de atendermos à sua desesperada súplica de não votar nele? Não será um ato de bondade, a nossa recusa ao voto, uma vez que a sua distonia mental avança inexoravelmente? E os que não cultivam esse sentimento de compaixão - até Cristo afirmava que ao traidor poderia ser dado a dívida do perdão, mas ao renegado jamais -, poderão afastá-lo definitivamente dos palcos políticos como uma punição, entendendo que o delito moral de renegação é o mais hediondo entre todos os outros, pois enquanto o ato de traição é singular, episódico e circunstancial, o ato de um renegado provém de uma sistemática organização valores da personalidade, encobertados pela malícia do disfarce e da mentira.

O pior delito não é ter valores nefastos. Mas fingir não tê-los, para enganar às pessoas de boa-fé. Trai quem sempre acreditou, mas por motivos supervenientes deixa de acreditar. Renega quem nunca acreditou, mas sempre fingiu acreditar. Não tenho alguma dúvida de que o senhor Jackson sempre foi um renegado, um homem que a todo custo tentou colar os pedacinhos do seu eu, usando as pessoas como objetos, uma impiedosa criança narcisista que nunca sentiu a verdadeira empatia para com os outros. No máximo, um tênue amor por seu espelho.

Pobre JaMente, mesmo que se eleja com votos comprados e de cabresto, você já é um derrotado, pois aqueles votos dos cidadãos conscientes que você tanto se orgulhava de ter, não são mais seus. Depois de todo esforço para ser governador, você deixa o governo como o pior governador de todos os tempos. E existe derrota maior que essa? Os tempos passarão, e apesar das suas lutas fingidas, você será lembrado como o pior dos piores. O governador que abandonou a saúde pública, destruiu o sistema educacional e maltratou os aposentados.

[*] É advogado.

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