Aparte
Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Waneska Barboza: “Temos mais de 374 mil imunizados. Ultrapassamos 56% da população”
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Waneska Barboza: “Ainda temos muito trabalho pela frente. Insisto: a pandemia não acabou”

Quem vai a um dos pontos de vacinação contra a Covid-19 em Aracaju receber a dose do imunizante, não imagina como funcionam os bastidores desse processo, que exige um complexo esquema de logística envolvendo armazenamento, distribuição e gerenciamento de equipes.

Em Aracaju, quem está à frente da execução do Plano Municipal de Imunização é a médica Waneska Barboza, secretária municipal da Saúde. Em entrevista exclusiva a esta Coluna Aparte, Waneska Barboza faz um balanço dos desafios, detalha a logística adotada e apresenta dados sobre a vacinação na capital que, até o momento, já conseguiu imunizar mais de 56% dos aracajuanos com a primeira dose. 

Aparte - Já se passaram seis meses da vacinação contra a Covid em Aracaju. Quais foram os principais desafios nesse período? 
Waneska Barboza -
Ao longo desse semestre, tivemos que lidar com muitos desafios. O principal deles foi, dentro da limitação da quantidade de vacinas que recebemos, administrar da melhor forma a aplicação, garantindo a imunização do maior número de pessoas e conseguindo diminuir os índices que, por muito tempo, se mantiveram altos. Outro grande desafio foi contratar pessoal, conseguindo montar as equipes com recursos limitados, mantendo esses profissionais engajados, mesmo com o cansaço de mais de um ano de pandemia. Além disso, tivemos que lidar com o desconhecimento e com as incertezas. Uma hora a informação que recebíamos era de um jeito, depois era de outro, então tivemos que administrar todas essas questões para conseguir avançar e continuar vacinando todo mundo. 

Aparte - É de se supor que cada fase da vacinação tem exigido uma nova estratégia. Como se dá essa adequação constante da logística? 
Waneska Barboza -
É uma energia grande que a gente dispende exclusivamente para a vacinação contra a Covid, e isso é feito com todos os outros serviços da Saúde em pleno funcionamento. A logística é bastante complexa - além de gerenciar as equipes, a conservação e distribuição das doses, são quatro imunizantes diferentes, cada um com uma especificidade, e vários públicos sendo vacinados.

Aparte - Os espaços físicos da administração municipal são suficientes para as demandas? 
Waneska Barboza -
Não. Como as nossas UBSs são pequenas, temos que fazer parcerias para ampliar pontos de vacinação. Temos ainda que definir os locais de primeira e segunda dose, divulgar para a população. São vários quesitos para administrar. É um grande desafio manter o ritmo que a gente vem mantendo, com todo mundo ainda engajado, trabalhando de domingo a domingo para avançar na vacinação. É muito difícil, mas temos conseguido. 

Waneska Barboza: “Temos uma rápida resposta na aplicação das vacinas”

Aparte - Mas qual o principal entrave vivenciado no dia a dia da vacinação em Aracaju? 
Waneska Barboza -
Um problema que enfrentamos nesse processo é provocado por aquelas pessoas que escolhem a vacina, o que acaba atrapalhando nosso planejamento. Quando programamos uma nova idade, reservamos as vacinas para aquela faixa etária. Mas, por exemplo, se de cinco mil pessoas previstas somente três mil se vacinam, ficam duas mil pessoas que não foram vacinadas. Para não atrasar o processo, em vez de ficarmos com essas vacinas represadas, utilizamos para a próxima idade.

Aparte - Isso gera que problemática? 
Waneska Barboza -
O problema disso é que precisaremos retornar para essas faixas etárias que já passaram e ainda tem um número de não vacinados grande. Isso, de certa forma, atrapalha o planejamento. A maneira que estamos conseguindo lidar com esse entrave é vacinando as pessoas que não conseguiram receber a primeira dose no período programado e têm uma justificativa para comprovar a ausência. Elas entram em contato com a Secretaria da Saúde, apresentam a justificativa para não terem se vacinado, e oportunizamos a vacinação. Aquelas que não se vacinaram porque estão escolhendo vacina serão vacinadas nos dias de repescagem. 

Aparte - Como tem sido o aproveitamento das doses recebidas na capital? Foram adotadas medidas para que não sejam desperdiçadas? 
Waneska Barboza -
Nosso aproveitamento das doses é excelente. A perda é de menos de 1%. Para conseguir isso, há todo um planejamento logístico, que envolve a diminuição dos pontos de vacinação para poder gerenciar a distribuição dos imunizantes. Como as UBSs e os pontos fixos funcionam até as 16h, o que sobra nesses locais é encaminhado para os drives da Sementeira e do 28º Batalhão de Caçadores, que funcionam até as 17h. Se até o fechamento dos drives sobrar alguma dose, nós temos algumas listas, seja do VacinAju ou das pessoas que enviaram e-mail justificando a ausência, então ligamos para as pessoas dessas listas indicando o local onde elas devem ir para tomar a vacina, com isso conseguimos evitar o desperdício. O esforço para aproveitar as doses ao máximo é uma preocupação constante desde a primeira fase da vacinação. Nós já utilizamos essas doses que sobraram para imunizar moradores de rua, trabalhadores da limpeza, estudantes de medicina, idosos acamados. Vamos ajustando para não jogar nada fora. 

Aparte - É recorrente a queixa de parte da população sobre a demora no avanço das faixas etárias. O que os dados e índices atestam no que diz respeito à celeridade na vacinação aqui na capital? 
Waneska Barboza -
A gente não demora. É só chegar doses que anunciamos o novo planejamento e já executamos nos dias seguintes. E isso acontece desde o início da vacinação - é só lembrar que o primeiro lote chegou a Aracaju na noite do dia 18 de janeiro e na manhã do dia 19 já estávamos vacinando os profissionais da saúde. O mesmo aconteceu com a vacina da Pfizer, que mesmo com um procedimento mais complexo para armazenamento e aplicação, começou a ser utilizada horas depois de ser entregue à Secretaria da Saúde. A demora é só a gente receber vacina, mas temos uma rápida resposta na aplicação e os dados comprovam isso.

Aparte - Isso gera que índices de vacinação aqui na capital? 
Waneska Barboza -
Temos mais de 374 mil pessoas imunizadas, já ultrapassamos 56% da população geral vacinada com a primeira dose. Considerando as pessoas acima de 18 anos, que são o público-alvo do Plano Nacional de Imunização, mais de 72% já receberam a primeira dose. Aracaju está entre as capitais do Nordeste com maior celeridade na vacinação. Registramos o recorde de mais de 11 mil vacinados em um único dia. Nossa competência logística e de pessoal para vacinar com muita agilidade já foi comprovada. Mas, infelizmente, a quantidade de vacina que chega tem sido pequena, então conseguimos avançar pouco. 

Imunização em Aracaju: recorde de mais de 11 mil vacinados em um único dia (Foto: Marcelle Cristinne)

Aparte - Como está o processo de aplicação da segunda dose? Qual a percentagem de vacinados até o momento? 
Waneska Barboza -
Nós já conseguimos imunizar 21,22% da população, com uma taxa de absenteísmo de 5,89%. A demora para ampliar esse percentual se dá porque vacinamos muito com a AstraZeneca, que tem um prazo para a segunda dose de três meses. Estamos adiantado a aplicação da segunda dose, dentro de um período que não prejudique a eficácia da vacina, e pretendemos continuar fazendo isso para ampliar a proteção da população, que só se completa com a segunda dose. Agora temos uma nova orientação do Ministério da Saúde de administrar a segunda dose da Pfizer com 21 dias, então certamente vamos conseguir vacinar mais pessoas com a segunda dose, ampliando, e muito, a vacinação completa. 

Aparte - Os dados epidemiológicos relacionados à Covid tiveram uma significativa diminuição, registrando dias seguidos sem mortes. Essa melhora tem relação direta com o avanço da vacinação em Aracaju? 
Waneska Barboza -
Sim, sem dúvida. Quando alcançamos o patamar de 40% da população imunizada com a primeira dose, já começamos a perceber uma redução dos índices, não só do número de casos novos, que está em queda crescente há mais de sete semanas, como também diminuiu o número de pessoas internadas e o número de óbitos. Com essa melhora, nós começamos a flexibilizar as coisas, porque os índices já permitem isso. Mas sempre lembrando que a pandemia não acabou. Nós estamos avançados na vacinação, mas há um índice grande de pessoas que ainda não receberam a segunda dose, então é fundamental continuar com todos os cuidados, pois essa melhoria não se deu somente por causa da vacinação. É uma soma de todos os fatores, inclusive da manutenção das medidas de biossegurança. Precisamos manter os bloqueios para o vírus, que ainda está circulando, até que todo mundo tenha imunidade suficiente para evitar a transmissão de uma pessoa para outra. 

Aparte - A vacinação foi um grande avanço no combate à Covid-19, mas qual a expectativa para que possamos superar de vez a pandemia? 
Waneska Barboza -
Nós ainda temos muito trabalho pela frente. Insisto: a pandemia não acabou. Com a flexibilização, vem a preocupação e a cautela ainda maior, porque agora precisamos observar se houver o aumento no número de casos, para tomar medidas e não permitir uma nova onda de contaminação.

Aparte - E como a Secretaria se comporta nessa precaução? 
Waneska Barboza -
Os desafios são constantes, exigem muita atenção, muita informação, acompanhamento, monitoramento de dados e inovação. Nossa rotina é a de analisar dados diariamente, acompanhar o que está acontecendo no mundo para nos espelhar nas boas práticas e não implantar aquilo que deu errado, levando outros países para uma nova onda. Precisamos inovar o tempo todo, criando situações para bloquear o crescimento do vírus, como já fizemos com a implantação do TestAju, a ampliação de leitos e, agora, garantindo a vacinação célere. Só com essas várias ações coordenadas conseguiremos o controle da pandemia, que é o que estamos buscando desde o início. 

Aparte - Aracaju está programando repescagem? Pessoas que perderam a vacina por motivo de doença, trabalho, viagem, como podem ter acesso ao imunizante?
Waneska Barboza -
Em Aracaju, o público que deixou de receber a vacina contra a Covid-19 em data previamente estabelecida pela Secretaria Municipal da Saúde deve realizar cadastro no site da Prefeitura e anexar documentação que comprove o motivo da ausência, documento com foto e comprovante de residência do município e aguardar código e data de repescagem para procurar um ponto de vacinação. Caso a pessoa não tenha ido se vacinar sem motivo justificável, precisa aguardar a repescagem, que também será feita de forma escalonada e mediante cadastro no site da Prefeitura. Já quem recebeu a primeira dose em outro município, precisa enviar e-mail para vacinacovid2@aracaju.se.gov.br e aguardar contato da equipe. Nesses casos, utilizamos sobras de vacina porque o Ministério da Saúde envia doses casadas para o usuário, dose 1 e dose 2, então, não podemos usar a dose 2 para imunizar quem recebeu a primeira em outro local porque o usuário de Aracaju ficaria com o esquema vacinal incompleto. 

Aparte - Em maio, uma ala do Nestor Piva sofreu um incêndio. Quais medidas foram tomadas pela Secretaria? 
Waneska Barboza
- O incêndio no Nestor Piva foi um acidente, já comprovado pelo laudo do Instituto de Criminalística, que apontou como causa fenômeno termoelétrico, descartando negligência ou imprudência. Na ocasião, os pacientes foram remanejados para outras unidades do Município e do Estado. Como já estávamos com leitos de Covid na retaguarda do Huse e no Santa Isabel e a empresa que administra o Piva, o Centro Médico do Trabalhador, agiu rapidamente na adequação da unidade, a população não ficou desassistida. Após o incêndio, a gestão municipal, por meio da Empresa Municipal de Obras e Urbanização, realizou a recuperação da área afetada com serviços como instalações elétricas, instalação de novo sistema de climatização, ampliação da subestação elétrica, rede de gases medicinais entre outros.

 

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