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Valmir deixa Itabaiana a um passo de recuperar lenda de Santo Antonio Fujão

Plantio da quixabeira no domingo: às 7h, Valmir estava lá

O prefeito de Itabaiana, Valmir de Francisquinho, tem algumas atitudes que surpreendem - no aspecto positivo. Uma delas foi o replantio a velha quixabeira do povoado Agrovila, derrubada por Batista Itajay, há mais de 100 anos, e o compromisso de reconstruir a igrejinha velha da origem da cidade.

O povoado Agrovila, lá nos fundos de Itabaiana, a caminho de Moita Bonita, é o berço de velha Itabaiana Grande. Foi ali que a cidade nasceu e onde se erigiu a primeira igreja da vila - que os habitantes chamam-na até hoje, em suas ruinas, de Igreja Velha (leia detalhes abaixo). Só bem depois é que a cidade migra para o local onde está hoje, denominado Caatinga Aires de Moura.

Nas ruinas da igrejinha, havia uma quixabeira, evaporada há cerca de 100 anos pela ação de Itajay. Estimulado pelo pesquisador Antônio Samarone, médico, professor da UFS e um itabaianense bem consciente e pela Associação Sergipana de Peregrinos, e pelo engenheiro Ancelmo Rocha, Valmir de Francisquinho fez com que a Prefeitura compasse as três tarefas de terra no entorno da igrejinha e garante que reconstruí-la. Às sete horas deste último domingo estavam lá eles tacando no solo muda quixabeira, vinda diretamente da Paraíba.

“Este gesto de Valmir recupera a tradição itabaianense da lenda de Santo Antonio Fujão e na solenidade de plantio o prefeito informou ter desapropriado o local onde encontram-se as ruínas da igreja velha, e que tomará as providências pela sua reconstrução”, diz Samarone.

Segundo Samarone, a Associação Sergipana de Peregrinos, que teve a iniciativa de replantar a quixabeira, elogia a sensibilidade do prefeito. “Não é frequente as autoridades apoiarem esse tipo de iniciativa, muito menos comparecer as 7 horas da manhã e participar ativamente de um ato como esse”, disse Samarone. A propósito da lenda de Santo Antonio Fujão, veja o que escreve o próprio Samarone, a partir de pesquisa nos livros do escritor Vladimir Carvalho.

“As primeiras sesmarias doadas na região de Itabaiana, datam da primeira metade do século XVI. Logo chegaram os colonos. Uma vez estabelecidos, construíram uma pequena capela (igreja velha), no Vale do Rio Jacarecica. Formou-se um pequeno Arraial.

Em seguida, pleitearam a transformação do Arraial em Villa. Para tal, era necessário igreja, cadeia pública e câmara municipal. Antes, precisava-se de um terreno público para a instalação da Vila.

Criou-se a “Irmandade das Almas” - juntou-se o dinheiro e compraram um sítio a Sebastião Pedroso de Goes, padre de São Cristóvão. Ocorre que o sítio, chamado Caatinga de Aires da Rocha, ficava em local árido, sem água.

Como convencer os colonos a transferirem a capela de uma área fértil, nas margens de um rio, para a Caatinga de Ayres da Rocha, um local inóspito? Só que o padre que vendeu o sítio era o mesmo que celebrava as missas, e não teve dúvidas: passou a levar o Santo Antonio durante a noite para debaixo de uma quixabeira, no local onde ele queria que fosse a nova igreja, no sítio que ele vendeu.

Em seguida, o santo era dado por desaparecido, até que alguém o encontrasse debaixo da quixabeira e, para glória do santo, fazia-se uma procissão, levando o santo de volta para a igreja velha. Esse fato se repetiu várias vezes. Botava-se o santo na igreja velha e ele à noite “fugia” para a quixabeira.

Qual foi a versão do padre? “Gente, Santo Antonio não quer ficar na igreja velha, no Vale do Jacarecica. Não adianta forçar. A gente traz o santo e, pela noite, ele foge para debaixo da quixabeira. O jeito é construirmos uma nova igreja ao lado da quixabeira”. E assim foi feito, e Itabaiana foi transferida para a sede atual, por insistência de Santo Antonio fujão. Quem escolheu o local definitivo foi o santo.

Essa quixabeira existiu até o início do século XX. Eu conheci gente que conheceu a famosa quixabeira. Não sei quem, mas um espírito de porco qualquer, em nome do progresso, da modernidade, derrubou a quixabeira.

Agora, quase 100 anos depois, a Associação Sergipanas de Peregrinos, com sede em Itabaiana, liderada pelo engenheiro Ancelmo Rocha, tomou a iniciativa de replantar a quixabeira no mesmo local da antiga, e solicitou autorização ao prefeito Valmir de Francisquinho.

A solenidade de plantio da quixabeira foi defronte à igreja de Santo Antonio e Almas de Itabaiana. A muda foi comprada no interior da Paraíba”.